segunda-feira, dezembro 17, 2007

Timor-Leste: Ban Ki-moon visitou deslocados

Diário Digital / Lusa
15-12-2007 13:29:00

Em Díli, há duas maneiras de olhar para um campo de deslocados: por dentro e por fora, como constatou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na sua curta visita a Timor-Leste.

Por fora, como Ban Ki-moon viu sexta-feira em Motael, o campo é uma sucessão de grandes tendas, onde adultos e crianças partilham um espaço exíguo com porcos e galinhas, em condições de salubridade precárias.

O quadro piora bastante quando chove, como choveu, ao final da tarde, minutos antes de Ban Ki-moon entrar no adro da igreja de Motael passando por baixo de um arco de cartolina com boas-vindas escritas em inglês.

Por dentro, um campo de deslocados, o de Motael como os outros, é uma realidade mais complexa, cercada e separada por muros, tapumes ou arame farpado mas partilhando e reproduzindo os dramas, os medos, os vícios e os mecanismos de sobrevivência da cidade em redor.

«Motael é um bom campo», resumiu à Agência Lusa uma funcionária humanitária internacional enquanto seguia a comitiva de Ban Ki-moon.

«É um campo calmo. Não dá problemas», acrescentou.

«É um campo com ordem porque eu dei-lhes com o cinto», resumiu, pouco depois, o pároco de Motael, o padre António Alves.

«Um dia, houve uma briga de bêbedos e fizeram desacatos. Eu cheguei-lhes com o cinto e desde então há calma», disse.

«Se há problemas, chamam-me e eu venho cá e resolvo as coisas», explicou ainda o pároco.

O padre de Motael acrescentou que «há ordem porque os deslocados têm... medo. Ou, se quiser dizer assim, respeito».

«Enfim, mesmo se tiverem medo de mim, têm mais medo daquilo que lhes pode acontecer lá for a. O que se passa é que neste campo as pessoas sabem que há limites que não se ultrapassam», concluiu o pároco.

Francisco Soares Pereira, o coordenador do campo, guiou Ban Ki-moon pelas tendas organizadas e falou das carências mas também do que os deslocados fazem em conjunto com as organizações internacionais e timorenses.

Ordem e limpeza, por «medo», «respeito» ou bom trabalho das muitas agências e de um coordenador competente - Francisco Soares Pereira foi escolhido apesar de já não viver no campo - , saltam à vista em Motael.

Sobretudo por comparação com vários dos outros campos espalhados por Díli, inseguros e politizados.

Há 53 campos na lista oficial das agências humanitárias, só em Dili.

Na capital, 30 mil pessoas, um quinto da população, vive nestes campos.

No país, há um total de 100 mil deslocados da crise de 2006, equivalente a 10 por cento da população timorense.

«Não existe uma solução de curto prazo para o problema dos deslocados», repete, há meses, o responsável máximo para assuntos humanitários na missão internacional (UNMIT), Finn Reske-Nielsen.

As autoridades timorenses adoptaram a mesma verdade e a questão dos deslocados vem à cabeça de discursos, promessas eleitorais e programas de governo.

Ban Ki-moon, que regressou hoje a Bali, Indonésia, ouviu no Parlamento Nacional timorense o mesmo apelo: não haverá estabilização do país sem o realojamento dos deslocados.

Também as soluções são mais complexas do que revelam as abordagens a olho nu.

«É feio dizê-lo, mas muitas pessoas continuam aqui porque no campo vivem melhor do que nos seus bairros», constata o pároco de Motael.

«Antes de mais, têm tudo gratuito: alojamento, alimentação, escola, médico», resume o padre António Alves.

«Há pelo menos três famílias aqui que têm as suas casas intactas, onde continuam a viver os filhos, e os pais estão no campo para receberem a ajuda», acusa também o pároco.

Situações semelhantes existem noutros campos, confirmou a Lusa junto de responsáveis superiores da coordenação humanitária em Díli.

O padre António Alves exigiu o «realojamento de todos os deslocados até ao Natal», em Novembro, do altar dominical onde celebra homilia em pleno campo.

«Ele está sempre a pedir isso», comentou uma funcionária da Organização Internacional das Migrações (OIM).

«Eu peço, mas nenhum governo faz nada porque isto é uma república das bananas», explicou o sacerdote seguindo a comitiva de Ban Ki-moon a uma distância segura.

«Anunciaram que iam fazer casas novas, em vez de anunciarem que ajudariam a fazer. O resultado é este: está tudo à espera que o governo faça», lamentou.

O pároco pára junto a um porco que tem um cordel numa pata que o prende a uma árvore.

«Ora veja: têm porcos, têm galinhas. Quando têm gado fazem matadouro à frente da igreja», afirma.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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