terça-feira, setembro 25, 2007

A nobel-arte de fazer política

Blog Timor Lorosae Nação - Terça-feira, 25 de Setembro de 2007
Malae Belu

Timor-Leste estava entregue antes de ser "independente"

Quando Henry Kissinger foi galardoado com o prémio Nobel da Paz o mundo esfregou os olhos de pasmo e dúvidas sobre se não estaria a dormir e somente a ter um pesadelo. Mas não, nada disso, era mesmo verdade. Alfredo Nobel, na tumba, dava voltas e reviravoltas, incrédulo, por saber que aquele seria um dos últimos indivíduos do planeta a merecer tal honraria.

Verdade já era que os galardões nobeis sempre contiveram critérios muito dúbios e que só por ignorância ou interesses seria possível dispensar-se grande importância aos galardões.

O caso de Kissinger foi só mais um, mas como ele sempre foi um homem de guerras, de absoluta sintonia com a negra mortandade das ditaduras da América Latina, dos massacres do Médio Oriente, dos cadáveres da Ásia, de África e do apartheid… aconteceu definitivamente caírem as paredes na lama do prémio criado pela vontade de Nobel.

Mas, se quiséssemos, não tínhamos de nos admirar de as coisas serem assim: um pouco antes o mundo tinha chegado à conclusão que um Secretário-Geral da ONU, Kurt Waldheim, tinha pertencido à Gestapo de Hitler e tinha sido um pró-activo nazi!

Face á constatação destes casos, recordados ao acaso, de entre tantos outros, facilmente devemos chegar à conclusão de que a política é muito porca e conspurca tudo e todos que a ela se entregam, que dela não se saibam distanciar vendo-a como um elemento nocivo e prejudicial à humanidade enquanto a sua prática for de rendição incondicional aos interesses económicos dos mais fortes.

Desconhece-se se Xanana Gusmão alguma vez conteve inteligência para equacionar e saber distanciar-se da esponja política em que se transformou – uma esponja vulnerável a partir do cansaço da luta de muitos anos de sofrimento no mato, que acabou por preferir o sossego e conforto de uma cela em Cipinang.

As honras já lhe foram proficuamente feitas e os prejuízos estão mais que retribuídos pelos timorenses de então e de agora.

Mas se, no caso de Xanana, é possível admitir que a sua perversão política se deve à falta de espaço no seu contentor cerebral – até por inércia natural – o mesmo não acontece com José Ramos Horta.

Nada no passado de Horta ocultou a sua ambição para assumir lugar de líder e de animal político.

Testemunhas disso serão todos que o podiam ouvir durante horas, quotidianamente, desde a sua juventude.

Ramos Horta é um político consciente, auto formativo e, posteriormente, com a possibilidade de se introduzir, conviver e aprender, num emaranhado de personagens sonantes da política internacional que em Horta somente sempre viram futuros barris de petróleo.

Para ele isso não importou nada porque soube aproveitar muito bem as lições que ao longo de tantos anos teve oportunidade de usufruir.

Sem pretender ilibar Xanana Gusmão – até porque tem a culpa de não querer ter culpas – só não sabe quem não quer que Ramos Horta foi e continua a ser o contentor cerebral de Xanana Gusmão para as coisas da política, o que faz do actual Presidente da República de Timor-Leste a mente da eminência parda que passou incólume pela crise de 2006 mas que estava por dentro dela como esponja dentro de pote de leite e mel.

Ramos Horta é realmente um animal político que sabe para onde está a conduzir o seu país e Xanana só o está a secundar, muitas vezes a dar a cara e a fazer grandes borradas que com tempo são sabiamente corrigidas.

Outro elemento que tem vindo a ter influência no rumo que Timor-Leste está a ter é Kirsty Sword – em perfeita sintonia com Horta. Foi prova o seu protagonismo na crise de 2006, tendo partido a loiça que lhe competia e recatando-se posteriormente, sendo também prova disso a influência do seu feminismo na composição do governo AMP.

Ramos Horta foi laureado com o prémio criado por Alfredo Nobel por motivos político-económicos, porque pela paz ele pouco ou nada podia fazer. Foi laureado in extremis, quando já se adivinhava a queda do ditador Suharto e já se estava a fabricar o líder Xanana nas instalações de Cipinang. Na política, pelo menos na sabida política, tem de se andar sempre vários passos à frente.

E depois, a quem se entregaria Timor-Leste? Como seria possível ter a certeza de que o país ficaria em “mãos amigas”, que permitissem o controle das riquezas naturais assim como do rumo de conveniência a tomar?

Timor-Leste antes de ser “independente” já estava entregue. Horta e Xanana sabem-no, isso ficou implícito a partir do momento em que receberam as mordomias e se miscigenaram com os que devastaram as vidas de milhares de timorenses, com os que ficaram indiferentes aos massacres e no quintal das traseiras olhavam para o lado e extraiam petróleo e gás do Mar de Timor.

Neste momento eles só têm de cumprir o acordo que é implícito neste tipo de relações e esforçar-se um pouco por aparentarem viver em democracia.

Aliás, na política, estas práticas até são democráticas.

Traidores? Vendilhões?

O que é que é isso! Conceitos antigos, é o que é!

Somente Nobel-Arte de fazer política.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.