domingo, agosto 05, 2007

Os aliados de Xanana... recordando. (1)

Tradução da Margarida:

Entrevista com Mário Carrascalão 1995

Data: Sexta-feira, 09 Junho 1995 - 13:51:00 EDT

'Suara Pembaruan' 4/24/95 conforme tradução pela BBC

['Suara Pembaruan'] Ouvimos dizer que recusou um convite feito pelo Secretário-geral da ONU para atender um encontro entre grupos pró e anti- integração em Salzburg, Áustria.

[Carrascalão] Tive duas razões para recusar o convite. Primeira, eu sou o Embaixador Indonésio na Roménia. O convite não faz parte das tarefas de que me incumbiram. Segunda, o convite foi-me dirigido a mim pessoalmente. Penso que como indivíduo apenas posso agir em assuntos em que República da Indonésia não tenha interesse. Uma vez que estão envolvidos interesses da República da Indonésia, eu não posso agir como indivíduo. Ao assumir o cargo de embaixador Indonésio, eu reconheci totalmente a integração de Timor-Leste na República da Indonésia, porque eu não teria sido embaixador se Timor-Leste não fizesse parte da Indonésia.
Por isso, o que é que falaria a título individual? Explicaria a situação em Timor-Leste no encontro se o governo da República da Indonésia me nomeasse para o fazer, agindo como seu enviado. A título individual, não posso ter nada a fazer com Horta e Abílio Araújo. Eu considero a integração finalizada;
Eu aceitei a integração de 1975. Eu posso questionar a situação, mas não a integração. Eu fui vocal quando fui governador, mas não questionei a integração. Eu procurei maneiras de melhorar a situação em Timor-Leste como uma manifestação da integração, porque eu considero a integração finalizada.

[P] Como é que o Departamento dos Negócios Estrangeiros reajiu à sua recusa?

[R] Eu relatei a minha recusa ao ministro dos negócios estrangeiros e enviei uma carta ao secretário-geral da ONU dizendo que não podia atender o encontro porque eu represento o governo da República da Indonésia.

[P] Qual será o valor diplomático do encontro?

[R] Na minha opinião, como fórum de construção de confiança, o encontro está formatado para criar uma atmosfera favorável para conversações substantivas sobre a questão de Timor-Leste.
Pessoalmente não sei o que serão conversações substantivas, mas eu penso que as conversações substantivas não serão as realizadas entre os grupos pró e anti-integração mas antes entre os ministros dos estrangeiros da República da Indonésia e de Portugal sob o patrocínio do secretário-geral da ONU.
Os dois ministros podem alcançar resultados justos e bons se houver um entendimento preliminar mútuo entre os grupos pró e anti-integração.

[P] Alguma vez se encontrou com os opositores à integração, incluindo o seu próprio irmão João Carrascalão, enquanto esteve de serviço no estrangeiro?

[R] Não tenho nenhum interesse em tais encontros. Eu sou um homem de princípios. Agora que escolhi a Indonésia, manter-me-ei comprometido com a Indonésia. Depois das conversações de Roma, o meu irmão João Carrascalão veio à capital da Roménia, Bucareste, depois de obter a autorização do Ministro dos Estrangeiros Ali Alatas. Ele telefonou-me porque ele queria visitar a residência oficial do Embaixador Indonésio na Roménia. Eu perguntei-lhe para o que é que ele me queria ver – eu sou Indonésio, tu não és.
Eu sou o Embaixador da Indonésia, não de Timor-Leste. Tu não podes ficar na residência do Embaixador da República da Indonésia. Não te posso ver num país onde estou creditado como embaixador. De facto somos irmãos, e podemos vermos em qualquer lugar onde eu não represento os interesses diplomáticos da República da Indonésia. Soube que ele ficou num hotel depois de ter ouvido a minha explicação. Mais tarde ele regressou à Austrália. Não nos vimos. Esta era uma questão de princípio. Não o descartei como meu irmão. Continuamos a ser irmãos, mas tenho que manter os meus princípios.

[P] Ramos Horta e Abílio Araújo?

[A] Lamento, conheço-os demasiadamente bem. Não confio e não confiarei na Fretilin. Por isso, lamento, não há maneira alguma de poder confiar em membros da Fretilin. Baseado na minha experiência, não se podia confiar neles ainda quando a Fretilin era um partido político. Não se pode confiar neles nem agora nem nunca.

[P] O que acha da opinião pública noutros países em relação a Timor-Leste?

[R] Estou confiante que as partes estrangeiras - Portugal e os seus aliados – gradualmente removerão a questão de Timor-Leste das suas agendas se a situação em Timor-Leste melhorar mais. Tudo depende da situação no próprio Timor-Leste. Se deixar de haver desilusão, frustração ou descontentamento em Timor-Leste, a questão de Timor-Leste desaparecerá no estrangeiro porque há maiores problemas no mundo. Nós em Timor-Leste parecemos encarar a questão de Timor-Leste como um problema sério, mas o mundo vê a Bósnia-Herzegovina, Ruanda, e outros como problemas muito grandes. A questão de Timor-Leste não preocupa o mundo. Ponha a questão desta maneira: há fumo no estrangeiro por causa do fogo em Timor-Leste. Por isso, deixem-nos apagar o fogo para prevenir que haja qualquer fumo!

[P] Como se pode responder à situação em Timor-Leste?

[R] Deverá haver um conceito especial de desenvolvimento que posso realmente ir ao encontro das aspirações dos Timorenses. O governo da República da Indonésia gastou uma quantidade enorme de dinheiro em Timor-Leste. O governo tem prestado atenção especial a Timor-Leste, ao contrário doutras regiões, principalmente por causa da sua história passada, que tem sido frequentemente explorada para propósitos políticos.

[P] É Importante a unidade dos Timorenses?

[R] É muito importante. A unidade é a principal vantagem para uma resolução compreensiva da questão na arena internacional.
De acordo com isto, não deve haver nenhumas facções. O partidarismo é um ponto sensível. Já havia sinais de partidarismo quando era governador.

Criando condições favoráveis

[P] Como é que os diplomatas estrangeiros vêem a questão?

[R] Na minha opinião, eles não questionam o estatuto de Timor-Leste, apesar de ter havido queixas ocasionais sobre a situação dos direitos humanos em Timor-Leste. A posição de Portugal é importante. Se a situação em Timor-Leste melhorar, Portugal pode mesmo abordar-nos e pedir ao povo de Timor-Leste para aceitar a integração. Devemos entender que a questão de Timor-Leste já não é mais uma questão de qualquer partido político em Portugal porque a questão envolve agora o governo. Por isso, seja quem for que lidere Portugal continuará a prestar atenção à questão, que se mantém na constituição do país.
De acordo com isto, devemos criar condições favoráveis em Timor-Leste e no próprio Portugal para que um dia peçam ao povo de Timor-Leste para ser parte da Indonésia.

[P] O que é que o governo está a fazer para resolver a questão?

[R] Com esperança, a questão será resolvida sob o Sexto Gabinete de Desenvolvimento por causa do nosso compromisso com este objectivo.
Apenas um obstáculo se mantém no caminho das conversações entre os dois ministros dos estrangeiros sob o patrocínio do secretário-geral da ONU. Portugal é ainda reconhecido internacionalmente como o poder administrante e Timor-Leste mantém-se na sua constituição. Para nós, a integração ficou finalizada pela Lei No 7/1976. Deve haver agora uma atitude de dar e receber para através de entendimento mútuo resolver a questão. Isso agora é connosco.
Melhoremos com seriedade a situação em Timor-Leste! As autoridades aproximaram-se mais do povo. Este é um bom passo. Devem procurar maneiras para ficarem mais próximas do povo. Então o povo sentirá de verdade a presença das forças armadas da República da Indonésia e da administração local como seus protectores. O povo desenvolverá um sentido de felicidade, e um dia Portugal admitirá a derrota e reconhecerá a Indonésia como o único país capaz de tornar próspero o povo de Timor-Leste.

[P] E sobre o papel da Igreja Católica?

[R] Todas as partes têm de compreender e entender que a Igreja Católica tem um papel muito importante em Timor-Leste numa base de curto e longo tempo. Sabemos que a Igreja Católica está directamente sob o Vaticano por causa da natureza internacional da questão de Timor-Leste, mas devemos criar relações harmoniosas para bem do desenvolvimento aqui. Devemos encorajar os Timorenses a darem informações sobre o desenvolvimento não apenas à igreja mas também a funcionários da administração local. Por outras palavras, devemos criar uma atmosfera condutiva que permita ao povo ver os administradores locais, não apenas a Igreja Católica, como os seus protectores. Devemos criar tais condições sem qualquer desvio.

1 comentário:

Basilio Araujo disse...

This is already an old issue. The decision of Mario Carrascalão to opt for East Timor independence in 1999 should have changed all his political views prior to 1999.

After 1999, the chapter of integration is supposed to be closed and thus those parties who supported East Timor immediate independence should respect those people like Mario Carrascalão who supported east Timor thru integration into a sovereign state.

The UN charter 1514 and 1541 of 1960 opens three options for a Non-Self-Governing territory to choose either for an immediate independence or an independence thru integration or independence thru a free association.

Whatever option Mario Carrascalão chose before 1999 was in line with the abovementioned UN Charter, all of which talked about East Timor independence in several different ways.

If, in fact, the first option (the immediate independence option) won in 1999, does mean to exclude people like Mario Carrascalão.

The crisis in East Timor in 2005 and 2006 just indicate that, should East Timor chose for a transitional period for independence like what Xanana and some other people in Portugal have ever proposed for 25 years of autonomy under Portugal, Indonesia, and UN auspices, no incident like in 1999, 2005 and 2006 ever happened in East Timor. No Timorese should live in Refugee camps in West Timor, no refugee should live in refugee camps like now in the airport area and inside the capital city, Reinado should never go to jungle.

But everithing already happened. No use crying for the spilt milk. But we still can help each other to create peace in the independent state of East Timor by avoiding to create more hatreds, violence and conflicts.

We should not stop pointing fingers to Mario Carrascalão. Without Mario Carrascalão and Abilio Osorio Soares, no many East Timorese would have succeeded in getting their degrees like now who plays the key roles in the independent state of ET.

Without people like Mario Carrascalão and Rui Lopes, Xanana would have been dead in his bunker in Lahane.

Without the integrationist hardliners like Abilio Osorio who gave his head to protect the Fretilin members by emplying them in the Agency of Public Works of Indonesia in the 1980-as, no many Fretilin key leaders are now alive and enjoy their freedom.

All of us should remember that people like Francisco Lopes da Cruz was kept out of East Timor and made jobless by the Indonesians for seven years in Jakarta just because Lopes da Cruz wanted many East Timorese involvement in ET government during his period. Abilio Osorio Soares was also ousted from ET for some years because of his goodwill of protecting the Fretilin members who whose lives were threatened by the Inondeian Army. Mario Carrascalão was considered a double agent of preparing ET for its independece when he starts to demand for more scholarships for ET students.

Now rests the question, shouln´t these people who have ever given up their lives to protect the Fretilin members deserve a mere respect? Who, in fact, has the most contribution to prepare ET for its independence?

I think Mario Carrascalão deserves a respect and honor.

Basilio Araujo

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.