domingo, março 04, 2007

CRISE - Major Reinado e militares australianos preparados para a luta

Expresso - Sábado, 3 de Março de 2007

Timor: No alto do cerco

Pedro Rosa Mendes, em Same, Exclusivo Expresso/Lusa

Same, no litoral sul timorense, deu uma ironia topográfica ao cerco das tropas especiais australianas ao major Alfredo Reinado. Same é um buraco; o ar é mais respirável do que em Dili e até há o luxo de um arrepio nocturno. Mas é um facto penoso que Same fica a mais de quatro horas de Díli, num bom jipe.

Os militares australianos tiveram, portanto, que descer bastante, com os seus jipes cor de «Outback», depois de o Presidente Xanana Gusmão autorizar diante da nação a captura do evadido mais famoso de Timor-Leste (porque há outros, e muitos estão com o major desde a evasão prisional de 30 de Agosto de 2006). Same, é sombra de um pico de dois mil metros de altitude, tem uma colina a que Reinado conseguiu agarrar-se durante a semana. O militar chegou a Same depois de ter passado no domingo por três esquadras de fronteira, na região de Maliana, e ter levado 25 pistolas automáticas e alguns polícias. Este é o monte onde fica a antiga casa do administrador de posto do tempo colonial e uma antena de transmissões. De lá domina-se a localidade e os acessos: com uma arma adequada, faz-se mira directa à estrada que sai do coração da montanha com as 'microletes' vergadas de gente na estrada do norte. Ou outros perigos.

É claro que a topografia é sempre uma verdade relativa (como provou a Resistência). Assim: se Reinado se manteve quatro dias acima dos SAS e dos veículos blindados, os helicópteros de combate e vigilância zurziram quatro dias em cima de Reinado. Vigiando do alto e enervando de perto.

“Estamos à beira da guerra civil!”, gritava, terça-feira, no início do cerco, o deputado independente Leandro Isaac, apanhado “por acaso", disse, na companhia de Reinado e do seu grupo quando os australianos apertaram a tenaz. Montado o cerco, ninguém saiu nem entrou de Same. Incluindo os jornalistas. “Não se pode passar. Há uma coisa grande a acontecer”, explicava na quarta-feira o oficial da patrulha que impedia a passagem na entrada norte da vila.

A uma distância respeitável das barreiras australianas, os residentes da periferia aglomeravam-se no segundo dia e lamentavam o impasse do quotidiano: “Não nos deixam ir ao mercado nem as crianças podem ir à escola”.

Durante o cerco, em entrevistas telefónicas para órgãos timorenses, portugueses ou australianos, Reinado deixou o seu programa. O major é tão directo a falar como tem fama de ser no gatilho: promete atirar sobre qualquer ISF a quem possa ver o branco dos olhos; desgosta de Xanana Gusmão, de Mari Alkatiri, um pouco também de José Ramos-Horta; gosta da Austrália, mas tem vergonha disso também; da GNR gostaria mais se o subagrupamento Bravo estivesse em Portugal; da Fretilin, passe a expressão, “talvez só à bala”.

Para um número indeterminado de timorenses, seguramente para muitos jovens, Alfredo Reinado não é o renegado ou o homem que traiu uma negociação pacífica, mas o herói que teve a coragem de resistir ao “Governo dos comunistas”. “Já reparou quantos jovens em Díli usam o cabelo cortado à Reinado?”, pergunta-se num café da capital, na véspera de o procurador-geral da República, Longuinhos Monteiro, ir a Same (de helicóptero) para comunicar ao major as condições de rendição. O comandante das ISF, brigadeiro Mal Rerden, é muito explícito: “Em qualquer situação de ameaça, tenta-se conter a ameaça. Tendo feito isso, decide-se como lidar com ela”. O que é claro para um militar é menos límpido para os políticos. Em Same, na 'Hamburguer Hill' do major Reinado, o país vive suspenso de uma situação em que nem tudo, ou muito pouco, será resolvido por um gatilho australiano. Mesmo os seus inimigos concordam: Alfredo é um inevitável vencedor, agora ou no futuro. “A menos que o matem, o que é pouco provável”, comenta um militar ocidental em Díli. “Ninguém precisa de um mártir”.

Alkatiri copia Durão e Santana

O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste decidiu convidar Einhart da Paz, especialista brasileiro em «marketing» político, para dirigir a sua campanha nas próximas eleições legislativas, que deverão ocorrer entre Maio e Junho deste ano. Einhart confirmou ao Expresso que esteve em Díli antes do Carnaval para preparar uma proposta, aguardando a resposta final de Mari Alkatiri já esta semana. “Tendo em conta que não existem meios de comunicação de massas em Timor, vai ser um desafio interessante”. Em Portugal, Einhart da Paz foi o director de campanha de Durão Barroso (em 2002) e de Santana Lopes (em 2001 e em 2004).

1 comentário:

Anónimo disse...

Prezado Alkatiri
Em vez de contratar um marqueteiro brasileiro, de que nunca ouvi falar, que tal ser sincero e franco com o povo timorense. Não há marqueting melhor!
Alfredo
Brasil

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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