sexta-feira, setembro 15, 2006

Queixa contra comportamento forças militares e policiais australianas

Tradução da Margarida.

De uma leitora:

Para:

Joint Task Force - Brig. Mick Slater
Caicoli
Dili

UNPOL – Comissário Antero Lopes
Obrigado Baracks
Dili

Australian Federal Police – Coronel Steve Lancaster
Timor Lodge
Dili

Assunto: Queixa contra acção militar e policial Australiana


Ontem, 11 de Setembro de 2006, à volta da uma da manhã guiava sozinha num Mitsubishi Pajero verde com o número de matrícula 16-874. Depois da Ponte de Bidau na direcção para a Areia Branca e longe de Dili, foi-me dito para parar num auto-stop por uma patrulha militar Australiana.

Guiava mais depressa que a velocidade autorizada de 45 k/ph dados os frequentes ataques contra veículos à noite.

Parei e os soldados pediram a minha autorização para revistar o carro que imediatamente lhes dei.

Estava a falar ao telefone quando um dos soldados que revistavam o carro se moveu para mim e usou a palavra "f…. ", para comentar sobre qualquer coisa relacionada com a velocidade com que guiava.

Perguntei se tinha usado a palavra "f....." ou se eu não o tinha percebido. O soldado respondeu sim e disse "f.....," e depois começou a repeti-la ostensivamente e dum modo agressivo e arrogante usando palavras ofensivas em cada frase.

Disse-lhe que não deveria usar esse tipo de linguagem, ao que respondeu que podia falar de qualquer "f….. " modo que lhe agradasse.

Pedi-lhe a sua identificação e disse-lhe que esperava um pedido de desculpas. Respondeu-me que não me daria nenhuma "f..... " identificação e que não iria pedir desculpa "f…..".

Contactei com a polícia Australiana que enviou uma patrulha com dois oficiais de polícia Australianos e dois Malaios.

Tomaram nota do incidente e disseram que iriam identificar os soldados Australianos. O oficial da polícia Australiano Dean Messenger deu-me o seu número de serviço, era 18530.

Disse-me que no dia a seguir eu podia ligar ao mesmo número do comando da polícia da Austrália e que me informariam do modo correcto para apresentar uma queixa formal.

Todos os membros da patrulha da polícia tiveram uma atitude correcta e profissional, que foi também testemunhada por alguns dos meus amigos que entretanto chegaram.

Esta manhã liguei ao comando da polícia e passei o meu nome e o número do serviço e disseram-me que seria contactada mais tarde.

Ligaram-me e perguntaram o que queria. Contei-lhes outra vez o que tinha acontecido e decidiram ligar-me mais tarde.

Como ninguém pelas 3 da tarde me ligou, liguei-lhes eu e dei-lhes outra vez o meu número do serviço. Contei-lhes outra vez o que tinha acontecido e que queria saber onde podia deixar a minha queixa, etc.

Disseram-me que me ligariam ao seu superior. O Sargento Better veio ao telefone e pediu-me outra vez o meu nome e o que tinha acontecido.

Expliquei-lhes que já tinha contado muitas vezes aos seus colegas hoje, que lhes tinha dado o número do serviço, que já lhes tinha explicado o que tinha acontecido e se me podiam dar a identificação dos soldados da patrulha e informar-me onde podia deixar uma queixa.

Ele disse que não conhecia a situação, que tinha de repetir tudo outra vez. Pedi-lhe para me dar o seu número de serviço. Ele desligou o telefone.

Telefonei-lhe outra vez e perguntei-lhe se a chamada tinha caído. Disse que tinha de fazer e que fora ele quem desligara.

Disse que o militar Australiano de ligação me podia ligar conforme o seu tempo e conveniência, o que arrogantemente repetiu, uma vez e outras.

Nunca tinha testemunhado tal arrogância e falta de profissionalismo da parte de membros de forças de segurança tal como a destes Australianos e do sargento Better da polícia Australiana.

Timor-Leste é uma nação soberana e as forças de segurança estrangeiras estão neste país para ajudar a restabelecer a ordem, e não para fazerem o que lhes apetece sem prestarem contas a ninguém.

Num local onde a violência ocorre diariamente nas ruas à volta da capital, no meio da presença de milhares de soldados Australianos, estes mesmos ordenam a uma mulher para parar no meio da noite. São vulgares e arrogantes.

O sargento da polícia Australiana que atendeu o telefone pondo-se ele próprio ao serviço das pessoas revelou-se tão arrogante e falho de profissionalismo, não procedeu correctamente, não deu a informação que lhe foi pedida, e levou-me a pensar que estava mais preocupado em proteger os seus próprios nacionais Australianos do que a tentar resolver a situação.

Gostaria de saber se estes soldados e polícias teriam a mesma atitude se eu fosse Australiana ou se estivéssemos na Austrália e não em Timor-Leste.

Os militares Australianos, em vez de darem um exemplo profissional actuam exactamente de forma oposta do que era esperado.

Os militares Australianos foram acusados hoje no Parlamento Nacional de terem feito várias intervenções inadmissíveis no interior de campos de deslocados no aeroporto.

Os militares Australianos protegem um desertor, um homem procurado e que somente detiveram depois doutras forças de segurança terem denunciado a situação.

A força militar Australiana foi acusada pelo Primeiro-Ministro de Timor-Leste de ter permitido a fuga de 57 presos da Prisão de Becora incluindo Alfredo Reinado.

As forças militares Australianas, cujo comando confirmou que sabia das andanças dos presos, mas depois de 12 dias ainda não fez nenhuma detenção.

É agora mais fácil entender as declarações feitas pelo Ministro dos Assuntos Estrangeiros Australiano, Downer quando disse que é mais fácil para a força militar Australiana receber ordens de Canberra do que de New York, como um argumento para se opor à integração dos militares Australianos numa força sob as Nações Unidas.

São sete da noite e pelas mostras, não foi conveniente ao oficial de ligação Australiano entrar em contacto comigo.

Por isso apelo a todas as autoridades a quem endereço esta carta para procederem de acordo com as regras e protocolos a que esta questão está sujeita e para fazerem o possível para que este tipo de situação não se repita.


Os melhores cumprimentos,

(nome identificado e assinatura)

Díli, 12 de Setembro 2006

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3 comentários:

Anónimo disse...

O comportamento dos militares australianos, neste caso como em muitos outros, revela bem o espírito com que estão em Timor Leste. Não por amizade e para ajudar mas sim para proteger o que mais lhes interessa: a influência e o neocolonialismo desbragado que nem conseguem disfarçar. Para não falar de outro tipo de interesses que os levou a arquitectar esta crise.
O país dos carneiros e dos cangurus considera que os pequenos países limitrofes são quintais seus, que podem explorar e achincalhar a seu prazer e interese.
Assim, de democráticos e civilizados têm muito pouco ou até mesmo nada.
Aquilo que a leitora relata sobre os procedimentos e comportamento destes militares não deixa de ser surrealista.
Num exército de um país com dignidade o assunto já estaria resolvido e as desculpas apresentadas, mas tudo indica que eles mandaram as boas maneiras ás urtigas e preferem ser ostensivamente ordinários e racistas.
Se as patentes superiores do exército australiano são aquilo que dá para perceber, como se poderá esperar que sejam os soldados?
Mas não basta pensar assim e ficar quieta ou temerosa. Insista e escreva ao Slat com carta a dar conhecimento ao Chefe do Estado Maior do Exército australiano (ou correspondente a esse cargo)
Anote pormenores, datas e nomes ou outro tipo de referências físicas, isso é importante e será a sustentabilidade do seu testemunho.
Força e... muita paciência.

Anónimo disse...

Give me a break, lady!...

Malai Azul 2 disse...

Até hoje ninguém contactou a senhora em causa.

Nem do comanando policial ou militar australiano, nem das Nações Unidas.

Neste país, hoje em dia, vale tudo e ninguém é responsabilizado por nada.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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