domingo, agosto 20, 2006

O “arco de instabilidade” do Pacífico

Tradução da Margarida.


ABC

Reportagem dos correspondentes - Domingo, 20 Agosto , 2006
Repórter: Graeme Dobell

HAMISH ROBERTSON: Virando-se agora para a nossa própria região, o Ministro da Defesa da Austrália fez recentemente uma promessa de segurança aos países que (estão) no que ele chama de "arco de instabilidade", que se estendem de Timor ao Pacífico Sul.

O Dr Brendan Nelson diz que a Austrália tem uma responsabilidade para defender os interesses e valores das nações na sua região.

Esta reportagem pelo Correspondente dos Negócios Estrangeiros da Rádio Austrália Graeme Dobell.

GRAEME DOBELL: O "arco da instabilidade" é uma ideia Australiana nascida no final dos anos 1990, quando a era Suharto acabou em chamas em Jakarta, e a Indonésia deixou Timor-Leste em cinzas.

Ao definir o arco da instabilidade, o estrategista Paul Dibb disse que é o arco que se estendia da Indonésia até à Papua Nova Guiné e até ao Pacífico Sul.

Onde a Austrália podia ter uma vez esperado ter um escudo de segurança no seu norte, disse o Professor Dibb, agora o arquipélago contém um grupo de países vulneráveis.

O Ministro de Defesa da Austrália, Brendan Nelson, adoptou o arco da instabilidade, mas mudou a sua extensão geográfica, deixando calmamente cair a Indonésia da definição que ofereceu ao Parlamento.

BRENDAN NELSON: Não nos podemos dar ao luxo de ter estados falhados na nossa região. O chamado arco da instabilidade, que basicamente vai de Timor-Leste até aos estados do Sudoeste do Pacífico, significa que a Austrália não só tem uma responsabilidade na prevenção e mesmo em assistir com alivio humanitário e de emergência, como também não nos podemos dar ar luxo de permitir que nenhum desses países se tornem santuários de crime transnacional nem mesmo santuários do terrorismo.

GRAEME DOBELL: O Doutor Nelson diz que o destacamento da Força de Defesa Australiana para as Ilhas Salomão em Abril, depois de motins, e em Timor-Leste em Maio para lidar com a ruptura politica mostra como a Austrália pode responder rapidamente a problemas de segurança no arco.

O Ministro da Defesa diz que a Austrália agirá para estabilizar governos, proteger fronteiras, contra-terrorismo, e ajudar com desastres.

BRENDAN NELSON: A Austrália tem uma responsabilidade em proteger os nossos próprios interesses e valores para apoiar a defender e a proteger os interesses e valores desses países na nossa região.

(som de deputados dizendo "ouve, ouve ")

GRAEME DOBELL: Pode parecer um arco da instabilidade para o Ministro de Defesa da Austrália, mas os países do arco não gostam do termo, nem de serem chamados "falhados" ou mesmo "frágeis".

O responsável do Centro do Pacífico de Canberra, Professor Stewart Firth, diz que o arco da instabilidade tem alguma utilidade doméstica na Austrália, mas que não impressiona a região.

STEWART FIRTH: Sempre pensei que isso era um tanto exagerado, porque deve-se observar países particulares de modo a determinar a sua situação particular.

Quero dizer, as Fiji, por exemplo, que era suposto estarem no arco da instabilidade, estão – tanto quanto se pode ver – a entrar numa fase bastante estável, e as pessoas estão bastante optimistas quanto ao futuro das Fiji.

A Ilhas Salomão têm com certeza uma Missão de Assistência Regional nas Ilhas Salomão (RAMSI), e de momento pelo menos temos uma situação estabilizada lá.

A Papua Nova Guiné, penso, sabe, há demasiados pessimistas sobre a Papua Nova Guiné.

Assim, quer dizer, falar disto como um arco da instabilidade penso que é pintar com um pincel demasiado grande.

GRAEME DOBELL: É um instrumento útil para um Ministro da Defesa Australiano usar o arco da instabilidade? É uma maneira de explicar a política de defesa aos Australianos? Quais são os aproveitamentos Australianos do termo “arco da instabilidade” "?

STEWART FIRTH: Yeah, penso que tem razão. Penso que há um aproveitamento para um Ministro da Defesa Australiano.

E pode observar isso também quando a Austrália interveio Ilhas Salomão, que tivemos a possibilidade de justificar (essa intervenção) na base da possibilidade de um Estado falhado se poder tornar um santuário para terroristas. Apesar de a maioria das pessoas que conheceram as Ilhas Salomão pensarem que esta era uma ideia bastante peregrina. Contudo, teve bastante força e elevação para o eleitor Australiano e penso que neste sentido foi um modo de abordagem justificado.

E desconfio que o mesmo se aplica à frase “arco da instabilidade” para a audiência Australiana, mas o mesmo não se aplica à região. Os ilhéus do Pacífico não gostam da ideia de serem rotulados de falhados e de certo modo isto é um rótulo.

GRAME DOBELL: Que modelo vê para a política Australiana em relação ao arco de ilhas – se observar a intervenção Australiana em Timor-Leste, a intervenção Australiana nas Ilhas Salomão nos últimos meses – qual é o modelo de abordagem da Austrália ao arco de ilhas?

STEWART FIRTH: Bem, penso que o modelo existente é realmente um modelo muito de segurança. É tudo sobre segurança, é sobre segurança regional e segurança Australiana. Estamos a intervir nesta região, e tentamos melhorar resultados de governança, e etc., nos interesses de segurança. Por isso o modelo é construído à volta duma abordagem de segurança.

Agora, algumas pessoas dirão que isso pode ser importante, mas que temos que olhar para além disso e para uma abordagem de desenvolvimento. Se pensar nas Ilhas Salomão, por exemplo, as Ilhas Salomão, sim temos a lei e a ordem de volta, mas é isso suficiente? Não, isso claramente não é suficiente, dado o facto de dentro de cinco ou seis anos a agenda estar acabada nas Ilhas Salomão. Temos de pensar no desenvolvimento económico futuro das Ilhas Salomão, e não simplesmente na situação da lei e da ordem.

HAMISH ROBERTSON: Professor Stewart Firth, responsável do Centro Pacifico da Australian National University. Esta reportagem por Graeme Dobell.

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1 comentário:

Anónimo disse...

É realmente de admirar tanta riqueza de vocábulos de conveniência a que políticos e estrategas recorrem, como por exemplo: "estados falhados", "arco de instabilidade", "cinto de segurança", "efeitos colaterais", etc...

Neste caso concreto, que coincidência, o arco de instabilidade e de estados falhados abrange precisamente Timor e Papua Nova Guiné, os dois estados riquíssimos em petróleo.

"...não nos podemos dar ao luxo de permitir que nenhum desses países se tornem santuários de crime transnacional nem mesmo santuários do terrorrismo"
Resta a saber se, quando os senhores se referem a crime transnacional, se referem a crime a partir de "estados falhados" para a Austrália ou da Austrália para os "estados falhados"?
Que quantidade de pesca ilegal (em pesca e dinheiro) já foram levadas de Timor para a Austrália?
Que quantidade de madeira preciosa já foram levadas ilegalmente de Timor para a Austrália?

Sem querer sonegar o perigo e a ameaça real que o terrorismo constitui actualmente, em caso de Austrália isto já parece paranóico. Melhor protecção contra o terrorismo são políticas prudentes e não invasões unânimes como a que tinha sucedido no Iraque. Serviu isso para resolver o problema de direitos humanos naquele país e problema de terrorismo global? Pelo contrário, a ameaça de terrorismo era algo que apenas assombrava o mundo, hoje em dia já é uma silhueta que se desenha em amplas proporções.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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