quinta-feira, julho 13, 2006

Reconciliação vai ser difícil - PM José Ramos-Horta

Metinaro, Timor-Leste, 13 Jul (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, José Ramos-Horta, reconheceu hoje que no âmbito da crise político-militar qu e afecta o país, a reconciliação vai ser difícil, sobretudo no seio da Polícia Nacional.

O chefe do governo, que falava no final das visitas que fez durante a manhã (hora local) ao Quartel-General da Polícia Nacional, em Díli, e ao Centro d e Instrução das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), em Metinaro, 40 quilómetros a leste da capital, reconheceu que "não vai ser fácil" fazer a reconciliação.

"As feridas são profundas, frescas. São feridas reabertas neste último conflito e dos conflitos passados. Nas F-FDTL não há um grande problema de cliva gem, mas dentro da Polícia Nacional os problemas são profundos", disse em Metinaro.

Para trabalhar na reconciliação, no seio das duas instituições, e entre estas e a sociedade timorense, "para recuperar a credibilidade e prestígio", Ramos-Horta avançou uma proposta que envolve a hierarquia da Igreja Católica.

"O Presidente [Xanana Gusmão] tem em mente a constituição de uma Comiss ão Nacional de Diálogo. Já abordámos esta ideia com os dois bispos [D. Alberto R icardo da Silva, de Díli, e D. Basílio dos Nascimento, de Baucau], que, aliás, vão ter um papel de liderança neste processo de diálogo", explicou.

O processo, que envolve ainda as autoridades tradicionais e a sociedade civil, visa "encontrar soluções".

"Algumas têm que ser concretas, algumas têm que passar pela justiça. Outras passam por compensação material e, sobretudo, tentar encontrar mecanismos e uma cultura de não-violência e de paz, que possa de uma vez para sempre acabar com a violência neste país", adiantou.

Quanto ao regresso dos oficiais das forças armadas que abandonaram no início de Maio a cadeia de comando, tendo alguns deles participado em combates com camaradas seus das F-FDTL, Ramos-Horta considerou que essa eventualidade assenta no diálogo.

"O regresso [à instituição] passa por um diálogo com os seus colegas das forças armadas. Passa pela comissão internacional de investigação, pelo que só daqui a dois ou três meses se verá qual o futuro" desses oficiais, referiu.

O primeiro-ministro referia-se à Comissão Especial Independente para Ti mor-Leste, nomeada pela ONU para investigar os actos de violência registados ao longo da crise, iniciada em finais de Abril passado, que provocaram três dezenas de mortos e 150 mil deslocados.

A comissão, que é presidida pelo brasileiro Sérgio Pinheiro e que integ ra ainda a sul-africana Zelda Holtsman e o britânico Ralph Zacklin, deverá chega r ainda este mês a Timor-Leste, devendo apresentar os primeiros resultados em Outubro.

José Ramos-Horta - que tomou posse como primeiro-ministro segunda-feira , depois de Mari Alkatiri se ter demitido da chefia do governo a 26 de Junho - considerou que os oficiais que abandonaram a cadeia de comando "foram também vítimas de todo este processo".

"Os membros das F-FDTL, da Polícia Nacional, foram vítimas das decisões políticas tomadas por nós, líderes políticos e que afectaram estas duas grandes instituições de ordem e segurança", acrescentou.

A desconfiança na política de reconciliação foi evidenciada durante o e ncontro que Ramos-Horta manteve em Metinaro, primeiro com militares e depois com polícias, que se mantêm naquele Centro de Instrução militar por recearem regres sar às suas zonas de residência.

Lino Saldanha, comandante adjunto da Polícia Nacional no distrito de Díli, disse ao primeiro-ministro que se essa política for levada a cabo pelos políticos redundará num desastre.

"A reconciliação é uma coisa muito bonita, mas também pode ser um desastre se for feita pelos políticos", disse.

Lino Saldanha salientou que as diferenças têm que ser ultrapassadas "não no sentido político, mas por via judicial".

A política de reconciliação tinha já sido abordada durante a visita ao princípio da manhã ao Quartel-General da Polícia Nacional, palco a 25 de Maio passado da morte de dez agentes, na sequência de um ataque dos militares àquela unidade.

"Temos que iniciar uma nova era e reconstruir esta nação a partir das cinzas", defendeu Ramos-Horta, considerando que a divisão no seio da instituição contribui para o seu enfraquecimento.

EL

17 comentários:

Anónimo disse...

Ai sim?!... Não me diga! Só agora descobriu?
Porque não se queixa do seu "patrão"?
Foi ele o grande causador do que se passou!

Anónimo disse...

Os causadores foram todos e por isso mesmo todos devem contribuir para a reconciliacao.

Anónimo disse...

Não nos iludamos! A crise dos "peticionários" era, antes das desastradas declarações do PR, "gerível".
A partir daí deixou de o ser!
E o que é lastimável é que quem tem mais culpas no cartório peça aos outros para assumirem as suas responsabilidades sem ele próprio as assumir!
Parece que na sua óptica só lhe faltam as asas para ser um anjinho!...
A isto chama-se arrogância! No mínimo!
E isto "em bom português", porque se for em "mau português" chama-se "f.-da-p...ice"!... Sorry!...

Anónimo disse...

Anónimo das 11:10:27 PM: com essa sua teoria paga o justo pelo pecador. É mesmo isso que quer não é? Muito convenientemente, terá que admitir. Agora já lhe convém que a justiça não funcione? Só lhe convém a "justiça" feita pelos media australianos, particularmente a "made by" four corners? Pois. Dava jeito. Mas sabe que não é isso que vai acontecer e que no dia 20 o Mari Alkatiri vai mesmo à PGR e vai lá a sério.

Anónimo disse...

Vamos propor a beatificação de Santo Alkatiri.
Proponho ainda o reconhecimento da FRETILIN como obra missionária da boa vontade, da liberdade de expressão e de voto, da tolerância e da incorruptibilidade.

Amén

Anónimo disse...

Ó Malai Azul;
Margarida;
Distintos comentadores:
Ponto de ordem!
Não brinquem com coisas sérias ... por favor!

Anónimo disse...

Xanana Gusmão abriu a boca pelo que achava não ser justo. Fê-lo, mesmo que vocês e os politicamente-correctos (leia-se regra geral sempre corruptivos) não aceitem.

Faz isso sempre que acha injusta alguma situação, como se vê.

Acho muito bem!

Se é isso que fez afinal descambar como vocês dizem? Bem só mesmo a avestruz a colocar a cabeça dentro da areia não vê que a resolução, a solução que atiraram foi a que foi e não diz o mínimo respito ao sr. PR! Quem foi que decidiu mandar fora 591 militares?

Pois se injusta foi a medida estavam à espera que o PR se colocasse ao lado de quem?

Mas o problema nem é só esse. O problema é a total manipulação feita por Vs. Exas. para efectuarem a V. ânsia de Poder e de o manterem custasse o que custasse. Foram capazes de disparar uns contra os outros - alguma coisa estaria mesmo mal então!

Os pormenores? Espero que apareçam o maior número deles! Espero que sejam julgados os culpados por fazer correr sangue, sejam eles quais forem! Espero que os responsáveis políticos pelo que aconteceu sejam eles também imputados pelas suas acções e que o povo veja o que de facto andaram a fazer!

Anónimo disse...

Se o sr. Alkatiri não está implicado nas manobras de bastidores do que era o seu Governo? Ok, se não estiver não está e provar-se-á. Se estiver paciência.

Agora que o comportamente político, o dele sim, foi o de arrastar toda a crise ao máximo a ponto de Xanana "desistir" caso o sr. não saisse... é coisa que realmente e politicamente é muito curiosa.

Não percebeu que em política as coisas acontecem?

Agora vai vir com o quinteto de luxo? Coitado do Povo Timorense. Realmente o sr. tem todo o direito e deve defender-se como pretende para limpar o seu nome. Mas até à sua demissão cabe-lhe a inteira responsabilidade política (e esperemos que mais nenhuma) pelos acontecimentos - quem Governava era o próprio.

Anónimo disse...

O Anónimo das 1:54:00 AM, pergunta “Quem foi que decidiu mandar fora 591 militares?” Não quer mesmo perceber que quem se pôs fora foram os próprios e que a hierarquia castrense se limitou a sancionar essa decisão dos próprios. E para que não diga que sou eu que invento deixo o link ao site da UNOTIL onde encontrará lá esta notícia (nos relatos dos Media Nacionais de 18-20 de Março de 2006) que eu já traduzi e que aqui coloco:

“Não Compromisso na Decisão: Ruak

O Brigadeiro General das F-FDTL Taur Matan Ruak alegadamente disse aos media que não há mais compromissos no seguimento da decisão de despedir os 591 soldados mesmo que o Presidente Gusmão, Supremo Comandante das F-FDTL, discorde.

Taur disse que a decisão de não os aceitar de volta é para evitar abrir um mau precedente no futuro. “Reparem nas condições dos veteranos da guerra; muitos deles estão ainda mal. Se os admitíssemos de regresso, podiam repetir o mesmo. É melhor não os re-admitir, porque a nossa intenção é, seja quem for que se incorpore nas F-FDTL é para servir a nação e o povo. A posição nos altos cargos das F-FDTL não é adequada para quem quer enriquecer,” disse Ruak.

E sublinhou que os oficiais foram expulsos por terem saído do quartel-general da instituição e não por terem assinado a petição, acrescentando que as forças armadas são compostas por voluntários.

O brigadeiro general das F-FDTL explicou que em 11 de Janeiro recebeu uma petição anónima à qual o Presidente Gusmão por carta respondeu que o assunto devia ser resolvido tão cedo quanto possível.

De acordo com Rauk, em 2-3 de Feverero ele convocou um encontro com soldados e sargentos no quartel em Baucau para discutir a petição mas quando o assunto foi levantado alguns dos soldados disseram que era um assunto que somente o Presidente tinha competência para resolver.

O Chefe das Forças Armadas insistiu que o assunto fosse tratado no interior da instituição mas acrescentou que depois do seu regresso a Dili em 4 de Fevereiro, muitos dos membros tinham fugido do quartel de Baucau e do Centro de Treino de Metinaro para se encontrarem com o Presidente Gusmão em 8 de Fevereiro.

E acrescentou que desde então, ele fez várias propostas para os que tinham assinado a petição tais como estabelecer um batalhão ou um programa.
Ruak disse que eles recusaram cooperar com o processo de investigação e que quando foram autorizados a sair dos quartéis em 18 de Fevereiro e escalados para regressar em 20 de Fevereiro eles não regressaram.

STL relata o Brigadeiro General como tendo dito que os que foram demitidos devem evitar usar qualquer tipo de medidas para lhe porem pressão porque isso não resultará. Em vez disso, sugeriu que seria melhor que dessem ideias para uma solução.
http://www.unotil.org/UNMISETWebSite.nsf/cce478c23e97627349256f0a003ee127/cc3c25e39ea472b44925713b00367649?OpenDocument

Anónimo disse...

estou cansado de ler asneiras. a crise das ffdtl foi toda uma preparacao para o passo seguinte ate ao momento actual. sairam preparados para esta questao e com envolvimento de partidos politicos que tem nas forcas policiais e militares membros politicos em articulacao com o mais alto magistrado da nacao. deixem as hipocrisias e aceitem os factos. esta e a verdade inquestionavel. tao somente esta o resto e apenas ramalhete.
xanana tem responsabilidades, tem sim senhor. fala sem saber ou por saber aplicado e induzido. pena meus senhores pena de tanta mentira em timor leste. e isto nao serve para defender alkatiris ou outros, a verdade so tem uma face e ja a perdeu por completo em timor leste em todos os sectores e frentes.

Anónimo disse...

Margarida,

Não gaste mais o seu paleio! O pior cego é o que não quer ver!...
Estes senhores, tal como o seu ídolo PR, não sabem que há problemas que devem ser resolvidos na calma dos gabinetes e não na praça pública. É natural: afinal nunca tiveram um presidente como deve ser; este trata de tudo como se estivesse numa "banja"!...
Isso não é um Presidente da República, senhores! Mas hão-de apreender! Só é pena que vá levar tanto tempo e que tantas vidas se percam entretanto!
Para saberem o que é um Presidente da República como deve ser convidem, por exemplo, o Jorge Sampaio a dar umas lições de boas maneiras ao vosso "arengueiro mór"!...

Anónimo disse...

"Lino Saldanha salientou que as diferenças têm que ser ultrapassadas "não no sentido político, mas por via judicial".

Finalmente faz-se luz na crise timorense.

Um homem inteligente e evoluído.

Meus Deus até que enfim o mundo pode perceber que em Timor há homens de bom senso e evoluidos!

O mundo pode ver que os timorenses que têm visto nas imagens das televisões e na imprensa não são todos os timorenses. Esses que actualmente toda a gente qualifica de tribais, embrutecidos e pouco civilizados são só alguns!

Há gente com muito valor em Timor não são é mediáticos porque são sérios!

Anónimo disse...

Necessito coreccao se estiver errado! O Ramos Horta, agora diz que vai ser dificil a reconciliacao e que vai envolver a Igreja para sarar as feridas ainda frescas!
Eu nao vi nenhum representante da Igreja, com as suas respectivas estatuas, nas ruas de Dili, para que ajudassem a parar os ladroes e bandidos a queimar e a roubar tudo!
Tambem nunca vi em lado algum um chefe de Governo a pedir a Igreja que se involvam em assuntos politicos e de governamentacao, por isso pergunto ao meu amigo Horta: DESDE QUANDO E QUE TE TORNASTE ANJINHO? QUANDO COMECARES A REZAR MISSA NA IGREJA DO FAROL, AVISA-ME PARA EU PODER REZAR UMA AVE-MARIA CONTIGO, CANALHA!

Anónimo disse...

JRH sabe que reconciliacao vai ser dificil. Sim. Primeiro ele tem que reconciliar-se a si proprio pelas posturas que ele tem se tomado, como um hipocrita, um oportunista.

E depois, como ele vai reconciliar-se com os antigos combatentes das Falintil, hoje oficiais das FFDTL? Como e que ele escolheu a ouvir os criminosos como Reinado, Tara, Railos, etc., em vez dos seus proprios soldados? Porque e que estes criminosos ainda sao soltos?

Reconciliacao? Sim, mas nao so. Primeiro de tudo, os lideres tem que aprender a respeitar a lei e a constituicao. Depois e a reconciliacao entre os lideres. Pois, o povo nao precisa de reconciliacao. Ao povo, lideres com principios e honestos.

Se os lideres nao respeitarem as leis e a constituicao, nem Deus pode salvar os timorenses, muito menos reconciliacao.

Anónimo disse...

Oooooiiiiiiiiiii......
E melhor parar de meter o garfo torto no prato das pessoas. Se sentirem que sao melhores do que os lideres, porque nao preparam para candidatar-se no ano 2007?

Parecem criancas a chorar por nao ter recebido um rebucado.

Querem fazer criticas, escrevam aos lideres, pois quem sabe, estas criticas podem ser uteis ao povinho em geral.

Para de criticas e maos a obra!

Anónimo disse...

Tanta magoa. Ainda nao se conformaram com a queda do Mari Alkatiri e do seu governo? Coitados, nao ha consolo em lado nenhum nao e? Creditem porque e verdade. Este governo ja nao e o governo de Mari ainda que a maior parte do elenco seja o mesmo.

Anónimo disse...

O que não é de certeza é o governo do Xanana. E também não é o do Tara, Salsinha, Alfredo, Railós... e parece que o Orçamento até é o do Alkatiri, logo o Orçamento!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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