domingo, junho 18, 2006

ONU adia seis meses envio de força de paz

Expresso 17.06.2006

ESTÁ fora de questão o envio de uma força de paz das Nações Unidas para Timor-Leste antes de seis meses, se é que se chega a um acordo neste sentido, disse ao EXPRESSO o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, na quinta-feira. Quanto aos efectivos da Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Portugal (convidados ao abrigo de acordos bilaterais diferentes), Annan disse: «Suspeito que terão de ficar lá seis meses ou mais, mesmo se enviarmos uma nova força da ONU. Isto vai levar o seu tempo».

Apesar dos esforços da diplomacia portuguesa, o Conselho de Segurança da ONU, na sua reunião de terça-feira, não considerou urgente a transformação da intervenção militar estrangeira em Timor em acção multilateral. A Austrália também não foi mandatada pela ONU para assumir o comando das operações. A questão ficou adiada para uma próxima reunião do CS. Annan recusa-se a tomar partido no diferendo que provocou atritos entre as tropas australianas e os efectivos da GNR enviados para Díli.

«Se o Conselho de Segurança decidir enviar uma nova força de manutenção da paz da ONU, que inclua tropas e polícia, e os australianos decidirem juntar-se a essa força, terão de ficar sob o comando da ONU. Se decidirem actuar de forma independente e o Conselho de Segurança o permitir, verificar-se-á uma coabitação, tal como temos no Kosovo, onde as operações da ONU existem lado-a-lado com as forças da NATO, que reportam e são financiadas por outrem».A maior urgência, segundo Annan, é para uma força policial da ONU. O Governo de Díli está a pedir «um número substancial de polícias - tão depressa quanto possível, porque partem do princípio que os aspectos militares serão assumidos», pelos contingentes estrangeiros já presentes.

Esta opinião é corroborada por Camberra. O ministro dos Negócios Estrangeiros australiano, Alexander Downer, diz: «Torna-se claro que será necessária uma presença policial estrangeira durante bastante tempo. Seria aconselhável que essa polícia internacional actue sob mandato da ONU».

ONU em avaliação. No quartel-general da ONU os responsáveis ainda estão a tentar determinar o que correu mal com uma missão que foi apresentada como uma história de sucesso. Alguns pensam que o pessoal da ONU no terreno não recolheu nem analisou a informação necessária e não manteve o quartel-general devidamente informado.Um diplomata europeu disse ao EXPRESSO que Annan deve assumir uma parte da culpa: «Apressou-se em demasia a declarar Timor uma história de sucesso, ignorando as lições da história sobre o derrube de regimes democráticos».

Mas Annan recusa essas insinuações. Disse ao EXPRESSO que «tínhamos conhecimento da existência de tensões entre os dirigentes, mas julgo que nenhum de nós esperava que isto explodisse da forma que aconteceu. São pessoas que lutaram, trabalharam juntas, e fizeram frente a uma potência colonial. Conheciam-se bem uns aos outros. Realmente não esperávamos que chegassem ao ponto a que chegaram. A verdade é que tentámos aconselhá-los. Mas é claro que não se podem impor conselhos - só se pode dar um bom conselho e deixar que o governo e outros decidam o que fazer com isso».Annan está mais inclinado para lançar as culpas sobre a «comunidade internacional» - uma indirecta ao Conselho de Segurança ou, mais especificamente, a Washington - por ter querido pôr termo à missão da ONU de forma apressada.

Para ele, Timor é um exemplo clássico do tipo de situação que pode beneficiar das atenções da mais nova instituição da ONU, que foi criada no ano passado em resposta a uma iniciativa de Lisboa: a Comissão de Construção da Paz.

1 comentário:

Anónimo disse...

Achei estranha esta referência a Lisboa nessa tal Comissão para a Construção da Paz. Numa busca no google encontrei este discurso do Embaixador dos USA em Portugal, Alfred Hoffman, Jr. na Universidade do Minho, Braga, em Abril 4, 2006, onde às tantas se lê:
"(…) Os Estados Unidos têm duas grandes prioridades para o futuro da ONU: o Conselho de Direitos Humanos e a criação duma Comissão para a Construção da Paz. (…)"

http://www.american-embassy.pt/AmbUnMinho_port.html

Parece que as peças do puzzle se começam a encaixar para transformar os timorenses no objectos de todas as experiências de interferência possíveis e imaginárias. E como sempre cá temos o Expresso – desta vez pela pena de Tony Jenkins, o seu correspondente em Nova Iorque – como ponta de lança dos objectivos norte-americanos. Ai o que petróleo faz…!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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