domingo, junho 18, 2006

Dos leitores

Micael Pereira, autor dos textos e fotos das reportagens que o Expresso publicou (pelo menos nesta e na semana passada) e seu enviado a Timor-Leste, explica na edição de hoje, 17/06/06:

“Personalidades ouvidas pelo Expresso

AS INFORMAÇÕES contidas neste artigo resultam de dados cruzados pelo EXPRESSO, obtidos a partir de um relatório escrito e muito detalhado das actividades desenvolvidas por uma alegada equipa de segurança secreta da Fretilin e de uma série de entrevistas, «on» e «off-record», com Lino Saldanha, comandante-adjunto da PNTL (Polícia Nacional de Timor-Leste) para a área administrativa; Ismael Babo, comandante-adjunto da PNTL para a área operacional; Mari Alkatiri, primeiro-ministro de Timor-Leste; Eusébio Salsinha, chefe de gabinete do ex-ministro do Interior Rogério Lobato; general Matan Ruak, chefe do Estado-Maior-General das Forças de Defesa de Timor-Leste (FDTL); coronel Lere Anan, número dois das FTDL; major Alfredo Reinado, líder militar dos vários grupos rebeldes; major Marcos Tilman, líder de um dos grupos rebeldes; tenente Gastão Salsinha, líder do movimento dos peticionários; comandante Railos, líder da autodenominada equipa de segurança secreta da Fretilin; Ramos-Horta, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa; Leandro Isaac, deputado independente; João Mendes Gonçalves, vice-presidente do PSD, o maior partido da oposição; conselheiros militares, magistrados e elementos da missão das Nações Unidas.


O chefe de gabinete do Presidente da República, Xanana Gusmão, nunca atendeu os pedidos do EXPRESSO para uma entrevista. O EXPRESSO foi a casa do comandante-geral da PNTL, Paulo Martins, 60 quilómetros a sul de Díli, mas este mostrou-se indisponível para falar. M.P.”


PS: sobre isto, só dois reparos:

1 - Lamentável é que o Micael Pereira, o enviado do Expresso em Timor-Leste não tenha tido a coragem de assumir que afinal o "relatório escrito e muito detalhado das actividades desenvolvidas por uma alegada equipa de segurança secreta da Fretilin" de que fala é nem mais nem menos o relatório que o "Comandante" Railos entregou ao PR Gusmão...

Compreende-se. Se o tivesse feito a caixa da primeira página do Expresso "Golpe em Timor-Leste liderado por ex-ministro" perderia impacto.

2 - Lamentável também é que o mesmo Micael Pereira não tenha esclarecido das datas em que recolheu os "on" e "off" records, incluindo os do PM. É que para uma compradora habitual do Expresso como eu, NÃO existe a entrevista ao PM, pois o Expresso nunca a publicou.

Em contrapartida, e só na semana passada, existiram no caderno principal: 1 página inteira com as fotos em pose do "Comandante" Railos&friends, além do editorial ("A 'pax' australiana?") e do artigo de Loro Horta ("Xanana e Alkatiri: os senhores da guerra em Timor") e na revista Única, dois artigos laudatórios (com texto e fotos do Micael Pereira) "Os novos rebeldes da montanha" e "A estrela da revolta", que ocuparam 11 páginas inteiras e eram acompanhadas por outras tantas fotografias! Resta dizer que a "estrela" é o Alfredo e os "rebeldes" são os supostos seguidores do Alfredo, do Salsinha, do Tara e do Tilman.

8 comentários:

Anónimo disse...

O desespero e tanto que ja se procura ate pegar em tecnicalidades para distrair a atencao da parte principal da peca. Ou seja a confirmacao em entrevista do Ex-Ministro do Interior que foi ele que recrutou os grupos civis e os armou sob a desculpa ridicula de serem Pistoleiros (perdao "pisteiros")para os policias de reserva.

Esta entrevista ao ex Ministro da precisamente credibilidade a que o lider de um dos tais grupos, Comandante Railos, tem vindo a dizer: Que as Excellencias, Sr Rogerio Lobato e Mari Alkatiri os armaram e enviaram numa missao de intimidacao e assasinato dos peticionarios e lideres de oposicao em anticipacao das proximas eleicoes legislativas.

Aquando da denuncia publica por parte deste mesmo grupo:

1- Negaram a sua existencia
2- O PM admitiu conhecer-los por serem militantes do seu partido Fretilin
3- O Rogerio admite finalmente que os contratou dando uma desculpa esfarrapada.

Este grupo comecou por ser uma incenacao da oposicao, declarado inexistente pelo PM, para depois vir a ser formalmente reconhecido pelo Ex- Ministro do Interior.

Ve se claramente um padrao aqui. As coisas comecam por ser alegacoes e, devagar, devagarinho vao se tornando em confirmada realidade . Ha muita justica a fazer!!

Anónimo disse...

Anónimo das 4:09:21 PM : é melhor reler a peça do tal Micael e a entrevista com o Rogério Lobato pois está a baralhar quem disse o quê.

O que o ex-ministro disse foi: “Essas acusações (de criar grupos paramilitares) são descabidas e falsas. Nós constituímos um grupo de antigos combatentes que conhecem todos os esconderijos por onde entravam as milícias. Eles seriam pisteiros que ensinavam os homens da nossa Unidade de Reserva da Polícia (URP) para poderem actuar numa situação de guerrilha.”

Enquanto que é o tal Micael quem acusa o ex-ministro de ser o “principal responsável pelo caos militar e humanitário que se vive em Timor-Leste desde o dia 28 de Abril” e que criou três grupos de paramilitares que alegadamente, segundo o Micael fazem parte duma “estrutura de segurança secreta da Fretilin”.

Mas relei-a a peça do Micael e não a confunda com a entrevista do Rogério Lobato.

Anónimo disse...

A margarida e mesmo incorrigivel nao e? ate mesmo manipuladora porque so le o que lhe interessa.

Aqui esta parte da entrevista com
o Ex-Ministro do Interior:

Incluindo o comandante Railos e os seus homens?

Esses homens foram recrutados mais tarde. Nós vimos que era necessário criar um grupo com experiência, só que depois descoordenou-se completamente. Fez o que quis.

Quantos homens fazem parte desses grupos paramilitares?

Penso que são 15.

O comandante Railos diz que tem 30.

É possível que tenham aumentado para 30.

E que é da segurança secreta da Fretilin.

Não.

O primeiro-ministro já admitiu que eles são da Fretilin...

Nós recrutámo-los para serem pisteiros...

Mas são militantes da Fretilin.

Bom, eles podem ser militantes da Fretilin ou não. São antigos combatentes.

O primeiro-ministro assumiu que recebeu o comandante Railos e dois dos seus adjuntos em sua casa no dia 8 de Maio.

Naturalmente, mas sempre dentro daquele quadro de integrá-los nessa força que nós temos.

O comandante Railos diz que recebeu uma ordem sua para travar os peticionários nos dias 23 e 24 de Maio em Tibar. É verdade?

As pessoas em Díli estavam muito preocupadas na altura. Houve os ataques em Tibar e estavam milhares de pessoas lá acantonadas. Foi por isso que eu pedi para fazerem tudo no sentido de impedirem que essas forças chegassem a Díli, para não semearem a morte. Até porque uns dias antes tinham sido assassinados familiares meus: a minha cunhada e cinco sobrinhas. Foi o esforço que nós fizemos. Não resultou.

Anónimo disse...

"Nós recrutámo-los para serem pisteiros...

Mas são militantes da Fretilin.

Bom, eles podem ser militantes da Fretilin ou não. São antigos combatentes."

Anónimo das 2:30 AM: o que é que vê aqui se não a confirmação do que o Rogério Lobato tinha dito antes? Eu só vejo a confirmação de que eram antigos combatentes que foram contratados para serem pisteiros. Francamente não vejo o que isso tem a mais. Ou acha que um governo não deve estruturar os seus serviços policiais da forma que entende mais adequada? Eu acho que é mesmo a sua obrigação fazê-lo. Afinal a segurança das populações é uma obrigações de qualquer Estado responsável.

Mas entretanto lembrei-me do que o tal Micael escrevera no Expresso da semana passada (10 Junho 2006)no artigo “A estrela da revolta”, e reproduzo um naco: "(…) Neste refúgio idílico (…) o major Alfredo Reinaldo Alves vive dias de glória, assediado ininterruptamente por televisões e jornais do mundo inteiro, sedentos por descobrir quem é o homem que parece estar por detrás da revolta interna em Timor-Leste e a quem ninguém faz frente, num medo evidente de recomeçar com um gesto em falso o caminho sem retorno para uma hipotética guerra civil. (…)

É o primeiro e único dissidente militar até agora a ter morto oficialmente colegas das FDTL (…) a 23 de Maio (…).

No Palácio do Governo dizem (…) que há-de responder pelos seus crimes e desconsideram-no (…). Mas antes de vir a prestar contas em tribunal pelo que fez, a igreja católica local já o absolveu perante os olhos de Deus. “Alfredo é um bom homem”, diz o pároco local de Ailéu, a terra onde nasceu há 39 anos, a 20 quilómetros de Maubisse (…). O padre Hermínio não tem medo de tomar partido. “O major defende o povo”.

Estimado pelas igrejas do interior ocidental do país, convertidas em templos políticos numa guerra santa contra o muçulmano Mari bin Amude Alkatiri, e defendido pelos líderes dos concelhos dominados pelos loromonos, Alfredo tornou-se um símbolo da nova resistência timorense contra os antigos resistentes timorenses. Todos aqueles que se sentem discriminados pelas acusações de não terem feito nada durante a ocupação indonésia, vêem no major um exemplo de que o espírito guerreiro não é exclusivo dos lorosae (…). E é em sua homenagem que os jovens arruaceiros dos bairros loromonos de Dili atiram pedras e encendeiam casas gritando pelo seu nome – “Viva Alfredo!” – e acusando (…) o general Taur Matan Ruak: “Taur is no good!” (…)

Como convém a qualquer mito em construção, Alfredo tem uma história de vida intensa (…).”

PS: E sinceramente parece-se que é nesta via de demonizar uns (porque resistiram, porque tiveram êxito na luta pela libertação do seu país, pela aprovação de uma Constituição democrática e pelo êxito nas negociações do petróleo que abriu caminho ao aprofundamento da sua soberania) e de glorificar outros (porque abriram caminho à reentrada de tropas estrangeiras no seu território) que o Anónimo também joga. Lamentávelmente.

Anónimo disse...

O curioso é que se reestruturação deveria ter sido feita... talvez tivesse sido mais conveniente ter sido feita legalmente (bem como as acções tomadas - sem conhecimento do Comandante Supremo) aquando da estúpida decisão de correr com 40% da força final de um Estado de Direito, em pleno Parlamento!

Que coisa mesmo estranha.

Quando o argumento do petróleo serve para aprofundamento de soberania... valha-nos o Deus Petróleo se não fosse ele não conseguiríamos escravazar os povos!

Não parece nada que se tenha aprofundado a soberania. Foi pedida ajuda externa...

Anónimo disse...

Anónimo das 6:02:45 AM: aproveitei este longo fim de semana para ler umas coisas, nomeadamente as que estão no site da UNOTIL e descobri, entre muitas outras, que quando começou a “rebelião” foi o próprio PR que remeteu para o Governo e para o Chefe do Estado Maior a resolução da questão, depois dele (o PR) se ter embrulhado no assunto sem o conseguir resolver. Descobri também que bem tentaram com uma Comissão com os representantes dos quatro órgãos de soberania mais a Igreja, mais a sociedade civil (sic) ouvi-los a todos, arranjar soluções, mas que eles pura e simplesmente nem apareceram e a maioria até voltou para as aldeias, sem sequer se despedir. E não só sabotaram objectivamente todos os esforços como até nada propuseram. E que então o Chefe do Estado-Maior fez o mínimo possível: considerá-los despedidos, pura e simplesmente despedidos: sem recriminações, sem bolas negras, sem averbamentos criminais. E a decisão foi tomada, repito pelo Chefe de Estado Maior e ratificada politicamente – e bem no meu entender – pelo Governo e pelo Parlamento.

O petróleo é uma riqueza e qualquer riqueza, se bem gerida e se for empregada a favor da colectividade, ajuda a reforçar essa colectividade e, havendo vontade política, ajuda a reforçar a soberania, evita dependências estrangeiras. Vê o exemplo da Venezuela actual, não vê? É com o dinheiro do petróleo que hoje têm por lá planos de educação e de saúde a bem dos mais desfavorecidos e qe decidem soberanamente como usar dos seus rendimentos.

Mas concordo consigo quando diz que “Não parece nada que se tenha aprofundado a soberania. Foi pedida ajuda externa... “ Pois foi. Para evitar o mal maior que é o derramamento de sangue. Imagino quanto isso não terá custado aos patriotas da Fretilin. Foi como disse o PM um “empréstimo de soberania” que vão pagar caro. Mas que acredito que pagarão, tanto mais que ele faz questão de não ter dívidas para poder mandar no seu país.

Porque não há coisa mais triste e menos digna para uma pessoa ou uma nação que ter de passar a vida de mão estendida à “caridade” alheia. E se houve coisa que os timorenses nos ensinaram, com a sua luta, determinação e sacrifícios foi precisamente a dignidade.

Anónimo disse...

o problema da margarida e que so acede aquilo que esta escrito.
O Xanana tentou resolver sim. Nao o consegui porque fizeram tudo por tudo para o marginalizar.

Um dos episodios mais grave nessas tentativas de marginalizacao foi a recusa de Taur Matan Ruak em respoder ao pedido do PR para um encontro de consulta.

De igual modo grave foram as ordens dadas aos soldados das F-FDTL para impedirem a entrada do Presidente, seu Comandante Supremo, em tacitolo para averiguar a situacao no terreno.

Nao sabia? Ou sabia mas esta se a fazer de ignorante? E se nao sabia mesmo e porque a margarida esta longe e desligada demais para saber estas coisas.

Mas tambem nao era de admirar que isso tivesse acontecido porque o Sr Taur pensava que tendo pactuado com o PM ja estava livre de qualquer responsabilidade perante o seu Comandante Supremo.

Desilidiu me muito essa sua atitude porque tinha grande admiracao por ele.
Alguma coisa me diz que esta agora arrependido mas e tarde. E se ainda nao se arrependeu, devia abrir os olhos bem abertos para ver como foi manipulado como um boneco pelo PM. Deu naquilo que deu.

Anónimo disse...

Anónimo das 5:12:04 PM: Em toda esta situação se o PR provou alguma coisa é que não se acanha de falar como quer e sobre o que quer e quando não fala tem quem fale por ele. E ele NUNCA se queixou que o quiseram marginalizar, mas sim que os ditos peticionários não fizerem o que ele pediu e que foi regressarem aos quartéis. Quanto a queixas que ele possa ter tido sobre o Chefe do Estado Maior, a mim o que parece é que é precisamente o contrário, que o Chefe do Estado Maior é que teria razões para se queixar por o PR publicamente o ter recriminado.

E sobre o que está escrito, como sabe TL é uma democracia e aí tudo se escreve. O que interessa é saber ler o que todos escrevem e distinguir o trigo do joio. E eu li tudo.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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