domingo, julho 01, 2007

Voto livre na prisão de Becora numa urna móvel

Jornal de Notícias - Domingo, 1 de Julho de 2007

Pedro Rosa Mendes *

Angola, para Rogério Lobato, não será apenas o país onde esteve preso nos anos 80 por tráfico de diamantes. O ex-ministro do Interior de Timor-Leste votou ontem nas legislativas vestindo um pólo do clube Petro-Atlético de Luanda, elegante mancha amarela na clausura da prisão de Becora, em Díli. No peito do pólo de Rogério Lobato, o emblema oficial do jovem clube (fundado em 2004 em Portugal), a vermelho-fogo "Atlético Petróleos de Luanda", com dois símbolos, uma torre de extracção de petróleo e as argolas olímpicas.

Becora é uma prisão como as outras atravessa-se um portão de ferro cinzento e entra-se num pátio cinzento guardado por fardas cinzentas dos guardas prisionais. Ontem, ao princípio da tarde, estava também cinzento o céu sobre Becora, quando uma estação de voto móvel - uma das novidades destas legislativas - chegou à principal cadeia do país, carregada por um grupo amarelo e azul de oficiais do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral e de observadores.

Rogério Lobato, de bom humor, saiu para o pátio central da prisão, onde se ergue o pequeno edifício da biblioteca, usado para instalar as mesas de voto. "A minha libertação não depende do resultado das eleições", sublinhou o ex-ministro do Interior, referindo-se à Lei de Verdade e Clemência que espera promulgação pelo presidente da República, Ramos-Horta. "Existe um processo que está a correr e acredito que eu seja abrangido por esse processo", acrescentou Rogério Lobato.

Foi o primeiro a votar, numa sala ampla cercada de motivos marinhos. Há golfinhos pintados nas paredes exteriores da biblioteca. À entrada, o ex-ministro do Interior e ex-dirigente da Fretilin teve também de passar por um mural com uma versão vagamente reconhecível de Xanana Gusmão, o principal adversário do partido maioritário nestas legislativas.

Com os fusos horários da lusofonia, o Petro-Atlético jogou, sexta-feira à noite em Portugal, ao mesmo tempo a que, ontem, os timorenses elegiam o novo Parlamento e Governo.

Outro tipo de violência

Atrás de Rogério Lobato e nas alas em redor da biblioteca, agarrados às grades, estão 222 presos acusados pelos crimes que interceptam a história recente do jovem país. O ex-ministro foi condenado por homicídios relacionados com a entrega de armas a civis, por ele ordenada há um ano. Outros eleitores estão ali por outro tipo de violência, como José Pereira Lopes, apanhado num combate de rua algures no Bairro Pité, uma das áreas mais voláteis de Díli.

"Apanharam-me numa luta entre grupos de artes marciais, entre o PSHT e o 77, no dia 17 de Março". "Eu faço parte do 77", afirmou José, tentando explicar o "problema grande" em que uma patrulha de tropas australianas o surpreendeu.

Há um fuso horário geracional entre os crimes de Rogério Lobato e os de José Pereira Lopes, mas o líder histórico e o pequeno delinquente habitam no mesmo canto de Becora - oposto àquele onde estava o major fugitivo Alfredo Reinado.

Após a votação, o ex-ministro do Interior recolheu à sua cela. "Hoje, a estratégia da equipa Atlético é atacar pelas alas", informa o "site" do clube luso-angolano sobre o jogo de sexta-feira à noite. O clube onde a torre de petróleo encontra as correntes olímpicas venceu por 1-0.
* Da Agência Lusa

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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