sexta-feira, julho 14, 2006

Xanana Gusmão quer mais solidariedade institucional e mais justiça


Díli, 14 Jul (Lusa) - A necessidade de reforçar a solidariedade institu cional e apostar na reconciliação nacional, partindo da verdade e da aplicação d a justiça, foram votos do Presidente timorense no discurso que proferiu hoje dep ois de empossar o II Governo Constitucional.

"Hoje, com a tomada de posse do II Governo Constitucional, encerramos u m ciclo da crise profunda que ameaçou as instituições do Estado de Direito Democ rático e sujeitou o nosso povo a sofrimentos e angustias imprevisíveis e injusta s", começou por afirmar o Presidente da República de Timor-Leste, Xanana Gusmão.

Depois de criticar os que "precipitadamente" anunciaram que Timor-Leste se iria transformar num Estado falhado e os que "choraram lágrimas de crocodilo ", insinuando que o país tinha ficado refém de "poderosos interesses globais, po líticos, militares ou económicos", Xanana destacou os "muitos que continuaram a acreditar" nos timorenses.

"Porém muitos continuaram a acreditar em nós porque sabem que um povo q ue resistiu mais de duas décadas a todas as formas de intimidação - desde a subj ugação mais brutal até à sedução mais maliciosa. Porque sabem que um povo como o nosso nunca desiste", afirmou.

Referindo-se aos milhares de deslocados provocados pela crise em Timor- Leste, "que ainda receiam regressar às suas casas, uns com medo de novas represá lias, outros, porque nada sobrou dos seus parcos haveres, destruídos e vandaliza dos, a não ser as paredes calcinadas", o Presidente disse que a posse do novo go verno constitui "um passo modesto" na resolução dessa mesma crise.

"Em definitivo só encontraremos resposta para esta crise tão grave e do lorosa quando devolvermos a voz ao povo soberano, para o povo se pronuncie sobre o modo como foi governado e escolha aqueles em quem pode confiar", salientou.

Para tal, importa antes socorrer as populações deslocadas, repor a orde m nas ruas e assegurar o funcionamento dos serviços públicos.

"Será então a hora de nos prepararmos para as eleições que são o meio a dequado para resolver pacificamente os conflitos e para vencer as crises, reforç ando o Estado de Direito e consolidando a democracia constitucional", frisou.

Xanana Gusmão considerou ainda que o governo hoje empossado "toma sobre os seus ombros um pesado fardo".

"Para reconciliarmos todos os timorenses e sararmos as feridas que nos dividiram, temos um enorme esforço a fazer. Mas não há reconciliação sem verdade e a verdade exige justiça para que o mal não se repita, confiante na impunidade ", defendeu.

A cerimónia decorreu no terraço do Palácio das Cinzas, sede da Presidên cia da República, perante dezenas de convidados, em que o Presidente da Repúblic a foi o único a discursar.

Na passada segunda-feira tinham já tomado posse o primeiro-ministro Jos é Ramos-Horta e dois vice-primeiro-ministros, Estanislau da Silva e Rui Araújo.

EL.

Honestidade política e cooperação institucional, pede Xanana Gusmão


Díli, 14 Jul (Lusa) - Xanana Gusmão pediu hoje ao novo governo timorens e "honestidade política" e "cooperação institucional" para se enfrentar e ultrap assar a actual crise político-militar.

Questionado sobre o que esperava do II Governo Constituconal, liderado por José Ramos Horta, em declarações à Lusa no final da cerimónia de posse do II Governo Constitucional, Xanana respondeu que tinha pedido "honestidade política ". "Pedi ao novo governo honestidade política para compreender que neste c urto período de tempo, para enfrentarmos o processo de solução da crise, tem de haver uma maior cooperação institucional", afirmou.

"Não significa interferência minha nos actos do governo, mas a crise me rece uma atenção especial de todos os órgãos de soberania. A Constituição diz qu e o governo responde perante o Presidente. Há maior necessidade de sermos guiado s pelo princípio da honestidade política, falarmos com franqueza uns com os outr os sobre problemas de interesse nacional e de haver maior interacção conjunta", acrescentou.

Para aumentar os níveis de confiança da população timorense, da qual 15 por cento do cerca de milhão de habitantes está deslocada em campos de acolhime nto, Xanana Gusmão lamentou o ainda reduzido número de polícias internacionais n o país.

"Segurança não é só colocar pessoas (nos locais). A segurança implica t ambém o esforço de criar nas comunidades um espírito de maior confiança. Não é f ácil", disse, referindo-se aos encontros que patrocinou quinta-feira com jovens ligados aos grupos de artes marciais e com as autoridades locais da capital timo rense.

"Temos problemas provocados pelo ainda pequeno número de polícias inter nacionais. Estamos à espera da polícia das Nações Unidas, que só chega talvez de ntro de mais de um mês", adiantou.

Xanana salientou ainda que nos encontros de quinta-feira lhe foi coloca do o problema que persiste na divisão no seio da Polícia Nacional.

"Há todo um processo para se rever, para se afinar, para que a presença da polícia internacional e timorense apoie e ajude no aspecto da segurança e au mente a confiança nas populações", vincou.

O novo governo timorense apresenta várias novidades, a começar pelo pre enchimento do cargo de vice-primeiro-ministro, que embora previsto na lei orgâni ca do governo, nunca tinham sido ocupados.

A chamada de José Luís Guterres, que integrou como vice-ministro dos Ne gócios Estrangeiros o I Governo Constitucional, criado em Maio de 2002, represen ta uma abertura da FRETILIN, partido maioritário e que indicou a esmagadora maio ria dos membros deste executivo.

José Luís Guterres, que depois de sair do governo foi colocado na embai xada de Washington e na chefia da missão timorense na ONU, foi o rosto do desafi o à liderança de Mari Alkatiri no recente congresso da FRETILIN, embora tenha de sistido de ir a votos, invocando as alterações estatutárias que permitiram a ree leição da anterior direcção partidária pelo método de braço no ar.

Relativamente ao anterior executivo de Mari Alkatiri, o governo hoje em possado apresenta ainda como novidades a entrada de Inácio Moreira, reitor da Es cola Politécnica, para a pasta dos Transportes e Comunicações, que substituiu no cargo Ovídeo Amaral.

Inácio Moreira é irmão de César Moreira, antigo vice-ministro das Obras Públicas de Mari Alkatiri até à remodelação de Julho de 2005, e que não foi rec onduzido no cargo.

Por outro lado, a não recondução de Armindo Maia, que tutelava a Educaç ão e Cultura no I Governo, implicou a promoção de Rosália Corte-Real, que era su a vice-ministra da Educação e Cultura.

Como o primeiro-ministro José Ramos-Horta anunciou que pretendia convid ar alguns dos anteriores ministros para postos diplomáticos, é de crer que Ovíde o Amaral e Armindo Maia venham a ser sondados para ocupar algumas das novas repr esentações diplomáticas que o governo pretende abrir, como são o caso do Vatican o e Banguecoque, além da rotação que deverá verificar-se nas embaixadas de Lisbo a, Washington, Bruxelas e Maputo.

Outra novidade do executivo hoje empossado foi a autonomização da pasta dos Recursos Naturais, Minerais e da Política Energética, que deixa de estar na dependência do chefe do governo, como sucedia com Mari Alkatiri, e passa a ter um ministro a tempo inteiro, cargo para o qual foi nomeado José Teixeira, que er a vice-ministro nessa área.

Finalmente, as restantes alterações dizem respeito ao grupo as cinco se cretarias de Estado regionais, criadas em Julho de 2005, e para as quais foram a penas reconduzidos dois responsáveis: José Reis e Albano Salém.

José Reis, que é secretário-geral adjunto da FRETILIN, vai continuar à frente da secretaria de Estado para a Coordenação da Região I, que engloba os tr ês distritos do leste, Lautém, Baucau e Viqueque, e Albano Salem mantém-se como secretário de Estado residente em Oecusse.

Nas restantes três pastas deste grupo de cinco, há dois novos secretári os de Estado para as regiões II (Manatuto, Manufahi e Ainaro) e IV (Liquiça, Bob onaro e Covalima), para as quais foram respectivamente empossados Adriano Corte- Real e Lino Torrezão.

Por preencher ficam apenas os cargos de vice-ministro do Interior, dos Transportes e Comunicações, da Educação para o Ensino Técnico e Superior e da Ju stiça, e os secretários de Estado da Cultura e de Coordenação da Região III (Díl i, Aileu e Ermera).

No total, o II Governo Constitucional, que tem o mandato de conduzir o país até às eleições de Abril ou Maio de 2007, passa a contar com 40 pastas, menos três que a anterior composição do I Governo.

EL.

17 comentários:

Anónimo disse...

Xanana Gusmão pediu ao novo governo "honestidade política para compreender que neste curto período de tempo, para enfrentarmos o processo de solução da crise, tem de haver uma maior cooperação institucional".
Será que o senhor Presidente da República, desta vez, garantirá uma uma maior cooperação institucional com o governo?

Anónimo disse...

O Governo terá pouco mais de 20 pastas por serem suficientes para a governação do país.
Afinal tem 40 pastas menos três que o anterior governo.
Aqui está a denúncia da primeira medida demagógica do novo PM.
Veremos quais serão as seguintes.

Anónimo disse...

A população só poderá sentir segurança se como disse o Presidente houver honestidade politica.
E honestidade politica também significa que ninguém está acima da lei.
Enquanto se vir apenas o ex-PM e o ex-Ministro a responder em Tribunal e os militares desertores e os autores de violência e destruição a não serem apresentados em Tribunal e pelo contrário a terem direito a tratamento especial e quase de figuras de Estado não haverá nrnhum cidadão que confie no Presidente ou no Governo.
A população não confiará nunca em líderes que protegem uns e atacam outros.
E mais grave ainda que ache normal que violadores da lei fiquem impunes.

Anónimo disse...

"Xanana destacou os "muitos que continuaram a acreditar" nos timorenses."

Sobre os timorenses, o povo nunca recaiu qualquer descrédito.

Aliás o povo que é sábio manteve-se dignamente afastado do palco da suposta crise.

O descrédito recaiu sobre os lideres, a sua incapacidade, a falta de sentido de Estado e o desrespeito total pela segurança dos cidadãos.

Não olharam a meios para atingir os fins.

E como diz muito bem o Presidente esperamos que se encerre "um ciclo da crise profunda que ameaçou as instituições do Estado de Direito Democrático e sujeitou o nosso povo a sofrimentos e angustias imprevisíveis e injustas".

O povo timorense não desiste é verdade e demontra-o com a falta de confiança nos seus líderes.

Pena é que estejam tão inebriados pelo poder e as suas "opiniões" que não consigam ler a mensagem que o povo lhes enviou logo que se refugiou nas montanhas e nos campos de refugiados.

Anónimo disse...

O discurso do Presidente sobre a solidariedade institucional e justiça só surge depois de Dili destruída e da população deslocada e despojada dos seus haveres.
Não será um pouco tardio?!

Anónimo disse...

anonimo das 8:42:22 PM

"suposta crise"? Voce deve andar noutro planeta. Nao esta ca na terra nao.

Anónimo disse...

O \'principio da hinestidade politica\' , porque eh que nao utilizou este rpincipio antes e durante a crise Sr. presidente?
...\'falarmos com franqueza uns com os outros\', porque eh que o sr Kay Rala nao usou a franqueza aquando da crise dos chamados peticionarios. Ja agora \'falar com franqueza\' apenas entre os orgaos de soberania do Estado? podera, sr presidente estender a sua franqueza tambem aos cidadaos? Ficar-lhe-ia muito agradecido!

Anónimo disse...

“A Constituição diz que o governo responde perante o Presidente” diz o PR. Mas não só. Segundo a Constituição da RDTL no seu artigo 107º, está lá bem explicadinho que “O Governo responde perante o Presidente da República e o Parlamento Nacional pela condução e execução da política interna e externa, nos termos da Constituição e da lei."

Mas este PR só saca da Constituição o que lhe convém. Já estamos habituados.

Anónimo disse...

E mais um discurso do Pedro Bacelar.

Anónimo disse...

O XANANA QUER MAIS JUSTICA! FAZ-ME RIR! XANANA, CONHECES O DESERTOR ALFREDO E SEUS COMPANHEIROS?

EM PORTUGUES, O QUE EXIGES, CHAMA-SE HIPOCRISIA, MEU GRANDE ALCAPARRA!

Anónimo disse...

O Alfredo e companheiros nao desertaram e por isso nao saodesertores. Agiram contra uma ilegalidade cometida pelas proprias F-FDTL.
Apesar da decisao ter vindo de Mari Alkatiri Taur decidiu acata-la e foram a Tasitolo ilegalmente acabando por matar civis.
O Brigadeiro-General Taur Matan Ruak devia ter sido mais cauteloso e exigir a Mari que os criterios legais fossem satisfeitos antes de ele acatar qualquer ordem de mobilizacao dos seus soldados. Nao o fez e acabou por participar na ilegalidade iniciada pela ordem de Mari.

O Alfredo decidiu rebeliar contra essa ordem por saber ser ilegal e abandonou o comando porque o proprio comando entava envolvido nessa ilegalidade. No entanto ele nao abandonou o comando por completo ao decidir submeter-se as ordens do seu Comandante Supremo.

O Alfredo disparou sobre os seus colegas das F-FDTL porque eles estavam la para disparar sobre ele. Este incidente revelou tambem uma mentira descarada do Gabinete de Mari Alkatiri que dizia que o Alfredo tinha emboscado soldados desarmados das F-FDTL. Acabamos mesmo por ver o contrario no video onde as F-FDTL ate lancavam granadas sobre as posicoes de Alfredo e seus homens.
Por isso ainda que o Alfredo tenha disparado primeiro nao fez nada senao defender-se visto que os seus colegas recusavam-se a responder aos seus varios pedidos para se retirarem do local e evitar um banho de sangue. Nao se retiraram porque as suas intencoes eram claras e sabemos muito bem porque e que eles la estavam. De facto a verdadeira emboscada foi feita ao Alfredo e nao o contrario.

O PM, atraves de um comunicado oficial do seu gabinete, MENTIU DESCARADAMENTE ao povo timorense e ate o PR tinha acreditado inicialmente antes de vir a saber o que defacto tinha acontecido em becora.
Estes sao os factos e nao aquilo que voces insistem em querer fazer acreditar.

Sera que ha tambem alguma sancao criminal para tamanha mentira de um PM em funcao?

Anónimo disse...

Claro que o discurso foi escrito pelo Dr. Bacelar e muito bem escrito, reflectindo o pensamento de alguem com valores e conviccoes. Mas o problema eh que o discurso foi escrito por alguem profundamente humanista mas lido por alguem sem conviccoes, nao sente e nao acredita nas ideias contidas no discurso! Foi sempre assim no passado e agora repete-se. O Ramos Horta foi sempre o principal estratega na conducao exitosa da luta em Timor!

Anónimo disse...

...Mas nao ha reconciliacao sem verdade e averdade exige justica para que o mal nao se repita, confiante na impunidade... O enunciado eh correctissimo. Nao sera um recado ao proprio PR? Pensemos nos Alfredos, Taras, Salsinhas, Railos, Marcos e outros iguais. Pensemos nos militares indonesios e milicias pro-indinesias em 99 e antes! A pratica do PR tem revelado que pede, exige justica a uns mas paressadamente vai a Bali abracar os carrascos da chefia militar indonesia de entao! Contraditorio, hipocrisia, ate quando Kay Rala? Veja la se te Ralas de vez com o bem estar das populacoes que estao nos campos com medo de voltarem as suas casas!

Anónimo disse...

Qual Bacelar qual carapuca. Reconhece-se muito bem o KAy Rala Xanana Gusmao nesse discurso. O conteudo do discurso e tipico de Xanana e apropriado para a ocasiao. Uma peculiaridade de Xanana e que ele escreve sempre dentro do contexto da situacao e nao se amedronta em dizer as coisas que devem ser ditas nas alturas em que devem ser ditas.

O Xanana nao vai muito nessas de political correctness mas sim people's correctness. Fala que opovo quer ouvir e da maneira como ele quer ouvir. A verdade simples e dura.

Anónimo disse...

Anónimo das 5:50:44 PM: finalmente uma verdade! De facto o Xanana fala “o que o povo quer ouvir e da maneira como ele quer ouvir”. A verdade simples e dura é que é um populista. No mínimo.

Anónimo disse...

La esta a manipuladora da margarida a fazer o seu trabalho. Nao engana a ninguem.

Anónimo disse...

Sinto alguma frustração no seu comentário, Anónimo das 12:31:57 AM...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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