terça-feira, junho 13, 2006

Levante-se, o verdadeiro Sr. ALKATIRI

Por Helen Hill

MELBOURNE (The Age/Pacific Media Watch): O governo e os media Australianos têm demonizado o PM de Timor-Leste sem conhecerem todos os factos.

"Desde as eleições de Agosto de 2001 para a Assembleia Constituinte em Timor-Leste - quando o mais antigo partido da resistência, a Fretilin, ganhou uns convincentes 57 por cento dos votos contra outros 14 partidos – observei entre os empregados da embaixada Australiana em Dili, e a maioria dos jornalistas Australianos que escrevem sobre Timor, uma prontidão para criticar Mari Alkatiri, o PM de Timor-Leste, em matérias que mostram que eles quase nada sabem acerca dele.

O Bulletin e o The Australian recomendam regularmente a sua queda. Na semana antes do congresso da Fretilin em Dili, o ABC juntou-se a eles com as habituais críticas a Alkatiri. Jim Middleton no notíciário da noite da ABC especulava "o que é que acontecerá se Alkatiri decidir resistir" apelava à sua demissão, e sem contraditório pôs no ar queixas de um membro saneado do comité central da Fretilin que alegava que 80 por cento do comité central estava contra o Primeiro-Ministro.

Uma semana depois, depois de mais episódios violentos em Dili, vimos Maxine McKew em Lateline a tentar pôr palavras na boca dos deputados Malcolm Turnbull e Peter Garrett: "Não está de acordo que não há muito apoio a Alkatiri?" Como é que eles poderiam saber se tudo o que eles viram foram os media Australianos?

Quem é Mari Alkatiri e porque é que ele levanta tal hostilidade dos políticos Australianos e dos apresentadores dos media?

Ao mesmo tempo que estava a ser dito pelos Australianos a Alkatiri que ele devia demitir-se, ele estava a receber chamadas telefónicas do PM Português e outros, a desejar-lhe êxitos e a pedir-lhe para não o fazer.

Com Jose Ramos Horta, Alkatiri ajudou a fundar a Fretilin quando, nos primórdios de 1970, tomou a forma de um grupo clandestino de jovens que se encontravam debaixo do nariz dos colonialistas Portugueses em frente do edifício onde agora ele tem o seu escritório.

Na véspera da invasão Indonesia, Alkatiri, que se tinha já graduado como agrimensor em Angola, foi mandado com Ramos Horta e Rogerio Lobato para pôr o caso de Timor nas Nações Unidas.

O seu exílio durou 24 anos, mas foi usado produtivamente; estudou direito e economia na Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique, com exilados da África do Sul e outros que lutavam pela liberdade.

Moçambique oferecia bolsas de estudo a qualquer estudante Timorense capaz de se qualificar para ser admitido, e foi este grupo, que trabalhou em muitas profissões enquanto se graduava e que ganhou uma grande experiência em desenvolvimento económico, que agora constitui o esqueleto do serviço público.

Em Moçambique, Alkatiri aprendeu bastante acerca de organizações internacionais e como evitar cair nalgumas das ratoeiras que Moçambique tinha encontrado.

A sua perícia negocial que o governo Australiano tanto receia foi ganha neste período.
Todos os anos ele esteve com Ramos Horta na Assembleia Geral da ONU, no debate sobre Timor-Leste. Em 1998 foi Alkatiri quem mais contribuiu para que o Conselho Nacional da Resistência Timorense adoptasse a sua "Magna Carta", ligando as futuras políticas de Timor com os melhores critérios da pratica internacional vindos das Conferências da ONU sobre direitos humanos, ambiente, população, mulheres e desenvolvimento social durante os anos de 1990.

Os detractores alegam frequentemente que a presença de Alkatiri em Moçambique durante 24 anos significa que ele é de alguma forma uma espécie de marxista não reconstruído. Na verdade, ele é um nacionalista na economia com bastantes preocupações nas questões ambientais e das mulheres; regularmente ele fala contra a violência contra as mulheres. Tem falado contra a privatização da electricidade e conseguiu obter um armazém farmacêutico de “marca única” apesar da oposição inicial do Banco Mundial.

Ele tem esperança que uma companhia estatal para o petróleo assistida pela China, Malásia e Brazil permitirá que Timor beneficie mais do seu próprio petróleo e gás, somando ao que ganhará da área partilhada com a Austrália.

No congresso da Fretilin, ele anunciou iniciativas para acabar com pagamentos escolares nas escolas primárias e para introduzir refeições suportadas pelo Estado em todas as escolas.

Há um alargado apoio em Timor pela decisão de Alkatiri não pedir empréstimos ao Banco Mundial, apesar de isso dar a Timor alguns anos com salários muito baixos nos serviços públicos. Os médicos Cubanos convidados por Alkatiri para trabalhar nas áreas rurais são também muito populares, bem como na nova escola médica que estão a implementar na universidade nacional.

Os jovens intelectuais na universidade e os líderes de muitas organizações não-governamentais Timorenses gabam os conhecimentos económicos de Alkatiri e a sua habilidade para defender os interesses de Timor contra os interesses do Banco Mundial e do Governo Australiano (sobre a questão do Mar de Timor), ao mesmo tempo que estão desapontados com o progresso lento na reforma educativa e o desenvolvimento do sector cooperativo.

Os seus maiores erros de julgamento incluem a draconiana lei da difamação, a qual atraiu a ira de muitos dos media de Timor, e o seu atraso em intervir no despedimento dos soldados dissidentes, onde ele apoiou as decisões do comandante das Forças Armadas Taur Matan Ruak.

Outra acusação frequente é que Alkatiri é "arrogante", e, apesar disto poder ser verdade, ele aumentou massivamente as consultas públicas no último ano. De acordo com a constituição semi-presidencial de Timor-Leste, o presidente é eleito pelo voto popular ao passo que os ministros são indicados pelo partido com a maioria no Parlamento. Alkatiri despediu alguns ministros por terem tido actuações fracas, e alguns deles apoiaram o seu concorrente no congresso da Fretilin.

Numa reviravolta bastante bizarra, um dos mais audazes apoiantes de Alkatiri durante este crise tem sido o Banco Mundial, cujo director escreveu na semana passada que "Timor-Leste conquistou muito graças à liderança sensível do país e às sólidas medidas tomadas que ajudaram a pôr no lugar os blocos de construção para uma paz estável e uma economia crescente ".

* Helen Hill ensina sociologia nat Victoria University e é autora de Stirrings of Nationalism in East Timor: Fretilin 1974-78, Oxford Press.

3 comentários:

Anónimo disse...

Correccao O Partido Politico mais antigo de Timor Oriental e a Uniao democratica Timorense fundada a 11 de Maio de 1974. A Associacao Social Democratica Timorense foi fundada a 20 de Maio de 1974 vindo mais tarde a ser transformada em Frente Revolucionariade timor Leste Independente pelos estudantes timorenses influenciados pelo MRPP entre eles Roque Rodrigues , Carvarino, Carlos Cesar,Hamis,Vicente Reis, Rosa bonaparte etc.

Mata Hari

Anónimo disse...

Mas se ele é assim tão brilhante porque é que não anticipou esta crise?
Se ele é tão bom negociador porque é que não conseguiu resolver a questão dos peticionários? Ou será que é só com o petróleo que ele é bom negociante?

Penso eu que qualquer idiota podia ver que a desmobilização de mais de 1/3 de efectivos militares num país onde o desemprego é crónico só podia acabar mal.

Além do mais não era preciso ser vidente. Os próprios peticionários diziam em voz alta que poderia haver problemas se as suas reclamações não fossem ouvidas. Nessa altura eles ainda nem pensavam em exigir a demissão do PM.

Mas é a tal arrogância

“Outra acusação frequente é que Alkatiri é "arrogante", e, apesar disto poder ser verdade, ele aumentou massivamente as consultas públicas no último ano.”

Não sei não…

Anónimo disse...

Grande Comentario sim senhor!!!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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