domingo, junho 11, 2006

Crise só acaba com suspensão do Parlamento - Deputado Manuel Tilman

Maubisse, Timor-Leste, 11 Jun (Lusa) - Um grupo de timorenses, em coordenação com militares rebeldes, está a preparar um documento que convença o presidente Xanana Gusmão a formar um governo de transição, para preparar eleições, disse hoje o deputado Manuel Tilman à Lusa.

Contactado telefonicamente pela Agência Lusa em Maubisse, a 75 quilómetros a sul de Díli, Manuel Tilman, um dos promotores da iniciativa, salientou que "o estado de calamidade social que se vive no país justifica a suspensão temporária do Parlamento Nacional através de um decreto presidencial".

"O Parlamento Nacional já não corresponde à realidade política de Timor-Leste", frisou.

Eleito pelo partido Klibur Oan Timor Asuain (KOTA, que obteve 2,13 pc nas eleições de 2001, tendo eleito dois dos 88 deputados do Parlamento Nacional), Tilman recusa nomear "os intelectuais que estão a colaborar nesta iniciativa", de quem diz apenas "representarem os 13 distritos timorenses, e provirem de vários partidos, incluindo a FRETILIN", no poder.

"Não me peça para revelar os nomes, porque muitos deles são amigos de (primeiro-ministro) Mari Alkatiri e são da parte leste do país. Muitos ficaram com as casas queimadas e receiam pela sua vida", disse.

O documento que está a ser preparado em Maubisse, para onde Manuel Tilman diz ter-se mudado desde o passado dia 22, visa conceder a Xanana Gusmão os fundamentos políticos que conduzam à suspensão do Parlamento e à formação de um governo de transição, com a missão de preparar eleições.

O texto deverá ser finalizado num encontro de dois dias a realizar até ao final da próxima semana, em local a determinar, e na sua elaboração estão alegadamente a colaborar "reitores e professores universitários, padres e intelectuais".

"Queremos ajudar o Presidente a decidir", vincou.

Questionado sobre a legitimidade de Mari Alkatiri e da FRETILIN, que venceu as primeiras eleições gerais, em 2001, com 57,37 por cento dos votos, Manuel Tilman respondeu com uma pergunta: "Acha que Mari Alkatiri considera que tem condições para continuar a governar?".

"Esta iniciativa (dos intelectuais) é minha e conta com o apoio do major Alfredo Reinado", adiantou.

A Lusa falou também com o major Alfredo Reinado, que lidera as forças militares rebeldes e que salientou "ser tempo dos políticos e dos intelectuais tentarem encontrar uma solução".

"A força não é a solução", reconheceu.

O major Alfredo Reinado abordou ainda os incidentes registados hoje em Maubisse, que atribuiu a "grupos de jovens que se envolveram em confrontos depois de terem bebido".

"Os meus homens não estiveram envolvidos", assegurou.

EL.


P.S. O grupo parlamentar Kota tem dois deputados.

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7 comentários:

Anónimo disse...

ÀS vezes temos que deixar de olhar para a árvore para vermos a floresta. Fui relar a última declaração do PM de 27 de Maio e constatei que as coisas ainda estão no pé em que ele então as descreveu. Quanto muito sabem-se mais uns pormenores da conspiração, mais uns tantos nomes, mais umas tantas manobras, mas o essencial está lá. Reponho-a aqui para mantermos as coisas em perspectiva:

Declaração do Primeiro-Ministro, 27 de Maio
Os militares australianos estão desde ontem a patrulhar o perímetro de segurança. Hoje também os da Malásia. Esta zona de intervenção das forças internacionais definida pelo Governo, em coordenação com o Presidente da República, está a ser operacionalizada pelos comandos das Forças de Defesa de Timor-Leste, australiano e malasiano.
A decisão de solicitar o apoio internacional foi uma medida naturalmente muito ponderada e teve na sua essência a vontade inequívoca do Governo de travar a onda de violência, evitando mais derramamento de sangue.
Obviamente, que em primeiro lugar esperamos que esta intervenção ponha termo à violência que temos vivido nos últimos dias. Isto demorará o seu tempo. Os militares e os polícias estrangeiros acabaram de chegar e começam agora a tentar controlar Díli - uma cidade que ainda não lhes é familiar.
Estou crente, no entanto, que a partir do momento que os timorenses começarem a sentir a presença constante destes homens e mulheres, os níveis de confiança subirão possibilitando um gradual regresso à normalidade, essencial para a preservação quer do Estado de Direito Democrático, quer dos bens e da população em geral.
Grande parte da violência ocorrida na capital de Timor-Leste nas últimas horas, ao contrário do que possa parecer a algumas pessoas e interesses, já não está relacionada com um problema muito grave que se traduziu em confrontos entre as nossas Forças de Defesa e alguns elementos da Polícia, mas trata-se sim de uma violência derivada da acção concertada e oportunista de grupos de marginais, que têm pilhado e queimado casas e haveres, e ameaçado o nosso martirizado povo.
As forças internacionais têm recebido indicações da parte do Governo para porem termo a estes incidentes. Aguardamos que em breve se possa dizer que já controlam a situação, revelando eficácia nas suas acções.
O Governo em momento algum deixou de trabalhar. Ainda esta manhã, sob a minha presidência, reuniu-se o Conselho de Ministros. Fizemos o ponto da situação. E aprovámos decisões importantes para dar eficácia à coordenação das autoridades de Timor-Leste com as forças internacionais.
Acusam-nos agora de não sabermos governar. Contudo, lembro aqui que as políticas delineadas e seguidas pelo Governo de que me orgulho chefiar têm recebido os mais insuspeitos elogios de toda a comunidade internacional. Destaco apenas a título de exemplo o aplauso sincero que o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, no mês passado e que repetiu agora no dia 25, fez às políticas deste Governo, aqui nesta mesma sala. Será que apenas num mês deixámos de ser um caso de exemplar sucesso, passando a ser um caso de manifesta incapacidade? Que fique claro: em todo este processo temos algumas culpas, nomeadamente na dificuldade de resolver atempadamente quaisquer injustiças que eventualmente existam no seio das Forças de Defesa de Timor-Leste. Mas garanto que o Governo saberá sempre assumir as suas responsabilidades. Espero que outros órgãos de soberania o façam também.
Eu, primeiro-ministro de Timor-Leste, mantenho as minhas declarações anteriores. Está em marcha uma tentativa de um golpe de Estado. Contudo, estou confiante que o senhor Presidente da República, com quem tenho mantido contacto, não deixará de respeitar a Constituição da República Democrática de Timor-Leste, que jurou cumprir. E não esquecerá nunca os interesses do povo de Timor-Leste, pelos quais todos lutámos durante 24 anos e milhares de irmãos deram a vida.

http://www.pm.gov.tp/port/27may06.htm

PS: e acho que foi óptima a ideoa do Malai Azul em trazer para aqui as fotos da manifestação em Dili em 20 de Maio. Apesar de andar sempre à cata de informação sobre Timor, acreditam-se que só ontem e aqui eu soube dessa manifestação em Dili que reuniu 40 mil pessoas? Querem melhor indicação da desinformação geral e universal dos media e da sua parcialidade em relação à Fretilin? Particularmente quando cotejamos com a "cobertura" que deram à manif dos 2000 da semana passada?

Anónimo disse...

Se o grupo parlamentar do KOTA considera que a composição do Parlamento já não corresponde à realidade política de Timor Leste, então porque não propõe eleições em vez de um golpe palaciano?

Anónimo disse...

Talvez o Manuel Tilman fosse uma boa proposta para PM... Pobre povo timorense....

Anónimo disse...

E continuam a chamar-lhe "Major". Não falta muito é nomeado General e nomeado PR desse País.
E a Lusa pactua, pactua, pactua....
Ignorância Senhor EL?! Não cumpriu o serviço militar?!

Anónimo disse...

Eduardo Lobão... jornalista que está ao serviço do golpe de Estado desde a primeira hora. Tem sido o porta-voz dos rebeldes e continua a sua marcha. Parabéns ao homem que insistia na queda do Governo com a manifestação da Igreja Católica. Foi tão rápido na altura a andar de autocolantes da igreja católica - não fosse ficar do lado errado depois da mudança governamental - como desta vez a servir de instrumento de transmissão das ameaças e vontades dos rebeldes coordenados pelos australianos - será que está à espera de um lugar tipo "assessor" do Tilmann - tão a ver não é?

Anónimo disse...

Esse Eduardo Lobão anda à procura é de um tacho na Austrália. Só pode

Anónimo disse...

O tal documento pode ser ridiculo, descabelado e tudo mais.
Agora, na presente situação que se vive em Timor, é de facto noticia.
O homem informou e o seu texto é objectivo e neutral - qual é o vosso problema?

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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