quinta-feira, agosto 02, 2007

An epidemic of white jeeps

The Economist – Aug 1st 2007

Curmudgeonly thoughts about aid

Arriving recently in Port Moresby, the capital of Papua New Guinea, your correspondent was puzzled: where were all the white jeeps? On recent visits to Phnom Penh and Dili, the capitals of Cambodia and Timor-Leste respectively, one of the most impressive sights was the swarm of white four-wheel drives—emblazoned with the logos of every United Nations body, donor agency and charity imaginable—that clog the streets. It turns out that “PNG”, as locals often call their country, also has its share of jeep-driving aid workers, though there are fewer of them and they mostly belong to one agency: AusAID, from Australia, of which PNG was a colony until 1975.

These three countries are among East Asia’s poorest and, year after year, receive huge amounts of foreign aid relative to their size. The UN’s $170m annual budget for Timor-Leste is equivalent to about half the country’s non-oil gross domestic product. And that is before counting the substantial spending by countless other donor agencies or the cost of the Australian-led peacekeeping force there. The $690m that donors are promising to Cambodia in the coming year is more than its government collects in tax revenues. And although Australia’s aid to PNG has declined since its independence, it is still equivalent to about one-quarter of that country’s tax revenues.

The sheer number of foreign-funded development projects, and the bureaucracy involved in dealing with their sponsors, overwhelm these poor countries’ ramshackle governments. A World Bank report last year said it was impossible to be sure how many foreign-funded projects were running in Cambodia—maybe 500, maybe double that.

Although this aid is well-intentioned and the recipient countries are truly needy, a curmudgeonly and heretical thought occurs: is this overkill? Are these impoverished countries, which have been bypassed by Asia’s surging prosperity, really benefiting from being bombarded with the money and advice of so many do-gooders, however sincere? Would they be better off if given a bit more space to develop self-reliance?

Of course, with so much money sloshing around, some of it is bound to do good. In Timor-Leste, for example, thousands of refugees from recent politically-inspired clashes are sheltering in tents provided by the UN’s refugee agency, while the UN’s World Food Programme is feeding thousands more who are suffering from a drought. If nothing else, the very presence of all these well-paid foreigners boosts the local economy, as part of their salaries trickles down to restaurant workers, rickshaw drivers and the like.

However, it is less clear whether these projects are making a sustainable improvement in the receiving countries. The UN compiles a “human-development index” (HDI) for each country, attempting to measure its development in broader terms, including health and education as well as income. The latest version of these figures shows, for example, that despite all the aid it has received, Papua New Guinea’s HDI has worsened from 0.53 in 2000 to 0.523 in 2004 (compared with 0.965 for Norway, the highest scorer).

Cambodia’s HDI has improved from 0.536 in 1995 to 0.583 in 2004. This is good but perhaps one might have expected better, after nine years of being love-bombed with aid. And perhaps much of the improvement was due to Cambodia having a relatively open economy and thus enjoying more rapid growth, rather than a result of its many development projects.

PNG’s prime minister, Sir Michael Somare, affects cynicism about Australia’s donations, calling them “boomerang aid”: ie, money that mostly returns to the pockets of Australian consultants and bureaucrats. But Sir Michael knows his country’s former colonial ruler feels too much responsibility (or possibly guilt) to walk away.

Likewise, Cambodia’s prime minister, Hun Sen, feigns disdain for his country’s aid donors, because he knows they lack the collective guts to quit, despite their exasperation at his government’s corruption and incompetence. Donors to Cambodia and PNG have tried clubbing together to press the two countries’ leaders with a common set of reform demands. But the prime ministers, like the leaders of other recipient countries, know full well how desperate donor agencies are to shovel their money out the door before the year-end, lest their paymasters back home cut their budgets.

A few years ago the buzz-phrase in foreign aid was “budget support”: Britain and other donors sought to give an increasing share of their aid directly to poor governments, especially in Africa, and let them decide how best to spend it. But in the worst-governed countries (ie, the most needy ones) the result was much misspending. In the poorer bits of East Asia, donors have tended to move in the opposite direction, removing aid from the clutches of local political leaders and overseeing its spending more directly.

Even so, they feel obliged to continue “working with” governments in the recipient countries, encouraging them to “take ownership” of aid projects’ goals, even if they do not control the funds. Often, all the agencies end up doing is constraining their own ability to speak out about the widespread graft and mismanagement in those governments. Donors should, if their efforts at coaxing recipient governments are going nowhere, be more ready to work without them, for example by using charities to send aid directly to the poor. Perhaps they might even, from time to time, consider the arguments for spending less.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tradução:
Uma epidemia de jeeps brancos
The Economist – Agosto 1, 2007

Pensamentos mesquinhos acerca da ajuda

Ao chegar recentemente a Port Moresby, a capital da Papua Nova Guiné, o vosso correspondente estava baralhado: onde estavam todos os jeeps brancos? Em recentes visitas a Phnom Penh e Dili, as capitais do Cambodia e de Timor-Leste respectivamente, uma das visões mais impressionantes era a quantidade de carros brancos de quatro rodas — enfeitados com os logótipos de cada agência das Nações Unidas, agências dadoras e de caridade imagináveis — que enchem as ruas. Acontece que a “PNG”, como os locais chamam muitas vezes ao seu país, tem também a sua parte de trabalhadores humanitários que guiam jeeps, apesar de haver menos e pertencerem na sua maioria a uma única agência: AusAID, da Austrália, de que PNG foi uma colónia até 1975.

Estes três países estão entre os mais pobres da Ásia do Leste, e ano após ano, recebem enormes quantias de ajuda estrangeira relativamente ao seu tamanho. O orçamento anual da ONU de $170m para Timor-Leste é equivalente a cerca de metade do PIB doméstico sem o petróleo do país. E isso é antes de contar os gastos substanciais de inúmeras outras agências dadoras ou o custo da força militar liderada pelos Australianos lá. Os $690m que os dadores estão a prometer ao Cambodja no próximo ano é mais do que o seu governo recolhe de impostos. E apesar de a ajuda da Austrália à PNG ter declinado desde a independência, é ainda equivalente a cerca de um quarto dos rendimentos de impostos desse país.

O número absoluto de projectos de desenvolvimento financiados pelo estrangeiro, e a burocracia envolvida no lidar com os seus patrocinadores, sobrecarregam os enfraquecidos governos desses países pobres. Um relatório do Banco Mundial no ano passado dizia que era impossível ter a certeza de quantos projectos financiados pelo estrangeiro havia no Cambodja — talvez 500, talvez o dobro.

Apesar desta ajuda ser bem-intencionada e de os países receptores terem na verdade necessidades, ocorre-me um pensamento mesquinho e herético: não será excessivo? Estão estes países empobrecidos, que foram postos de lado pela prosperidade emergente da Ásia, realmente a beneficiar com o bombardeamento de dinheiro e conselhos de tantos benfeitores, mesmo que sinceros? Não fariam eles melhor se lhes dessem um pouco mais de espaço para desenvolverem a sua auto-dependência?

Obviamente que com tanto dinheiro espalhado à volta, algum tem de fazer bem. Em Timor-Leste, por exemplo, milhares de deslocados dos recentes confrontos politicamente inspirados estão abrigados em tendas fornecidas pela agência de refugiados da ONU, enquanto que o Programa Mundial de Alimentação da ONU está a alimentar mais milhares que estão a sofrer da seca. Se não houvesse mais nada, bastava a presença destes estrangeiros bem pagos para favorecer a economia local, dado que parte dos seus salários acaba por escorrer para os trabalhadores dos restaurantes, motoristas de táxi e outros do mesmo tipo.

Contudo, é menos claro que esses projectos tragam melhorias sustentadas nos países receptores. A ONU compila um “índice do desenvolvimento humano” (HDI) para cada país, na tentativa de medir o seu desenvolvimento em termos latos, incluindo saúde e educação bem como rendimentos. A última versão desses números mostra, por exemplo, que apesar de toda a ajuda que tem recebido o HDI da Papua Nova Guiné piorou de 0.53 em 2000 para 0.523 em 2004 (comparado com o 0.965 da Noruega, o que tem o índice mais alto).

O HDI do Cambodia melhorou de 0.536 em 1995 para 0.583 em 2004. Isto é bom mas talvez que se pudesse esperar melhor, depois de nove anos de bombardeamentos de ajuda. E talvez que muitas das melhorias foram devidas ao facto de o Cambodja ter uma economia relativamente aberta e por isso gozar de um crescimento mais rápido, em vez e ter resultado dos seus muitos projectos de desenvolvimento.

O primeiro-ministro da PNG, Sir Michael Somare, mostra cinismo com as doações da Austrália, chamando-lhe “ajuda boomerang”: isto é, dinheiro que na sua maioria retorna para as algibeiras dos consultores e burocratas Australianos. Mas Sir Michael sabe que o antigo colonizador do seu país sente demasiadas responsabilidades (ou possivelmente culpa) para sair.

Do mesmo modo, o primeiro-ministro do Cambodja, Hun Sen, finge desdenhar os dadores de ajuda ao seu país, porque sabe que lhes coragem colectiva para desistirem, apesar do seu desespero com a corrupção e a incompetência do seu governo. Dadores para o Cambodja e para a PNG tentaram juntar-se para pressionar os líderes de ambos os países com um conjunto comum de pedidos de reformas. Mas os primeiros-ministros, tal como os líderes de outros países receptores, conhecem perfeitamente como as agências dadoras estão desesperadas para mandar o dinheiro para fora da porta antes do fim do ano, senão os seus patrões pagantes cortam os seus orçamentos.

Há alguns anos atrás a frase de toque na ajuda estrangeira era “apoio orçamental”: a Grã-Bretanha e outros dadores procuravam dar uma parte crescente da sua ajuda directamente a governos pobres, especialmente em África, e deixavam-nos decidir da melhor maneira de a gastar. Mas nos países piores governados (isto é, nos mais necessitados) o resultado era muito desperdício. Nos locais mais pobres da Ásia do Leste, os dadores tenderam a ir na direcção oposta, removendo a ajuda das garras dos líderes políticos locais e fiscalizando os gastos mais directamente.

Mesmo assim, sentem-se obrigados a continuar a “trabalhar com” governos nos países receptores, encorajando-os a “assumir a propriedade” dos objectivos dos projectos de ajuda, mesmo se não controlam os financiamentos. Muitas vezes, o que todas as agências acabam por fazer é constringirem a sua própria capacidade de denunciarem os subornos e a incompetência alargada desses governos. Os dadores deviam, se os seus esforços de persuadirem os governos dessem resultado, estar mais prontos para trabalhar sem eles, por exemplo usando caridades para enviar a ajuda directamente para os pobres. Talvez até pudessem, de tempos a tempos, considerar os argumentos para gastarem menos.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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