segunda-feira, junho 25, 2007

Embaixador Manuel Abrantes: “não deixar a ideia de voltar para Timor”

Jornal Nacional Semanário – 24 Junho 2007

ATConline, Olívio Paulo de Deus

Depois duma reunião entre os estudantes bolseiros timorenses do IPAD (Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento) e o Embaixador de Timor para Portugal, Dr. Manuel Abrantes, em Coimbra no 5 de Junho de 2007, ATC online aproveitou a ocasião para realizar uma entrevista com Sr. Embaixador sobre a situação dos estudantes timorenses em Portugal e as suas perspectivas para o futuro.
ATC online: Podia explicar um pouco sobre o seu papel como embaixador de Timor, em geral, e mais especificamente, junto aos estudantes timorenses que estão a estudar cá em Portugal?
Sr. Embaixador: Bom, no geral já pronunciei na vossa tomada de posse do presidente eleito dos ATC (Académicos Timorenses de Coimbra) e esse foi o geral. A embaixada tem duas vertentes importantes a cumprir, uma que é na sua representação diplomática e outra que são serviços consulares. Depois nos serviços consulares têm vários departamentos que terão que ser inseridos os trabalhos, sobretudo, para responder situações de cidadãos timorenses que se encontram em Portugal. E representação diplomática, como é óbvio, é mais o símbolo de nação, é mais a representação do país que é o presidente da república e o governo, são duas representações, o estado e o governo. E sobretudo, as relações com outros países, os outros corpos diplomáticos que se encontram aqui com objectivo de manter, conservar e sustentar estas relações privilegiadas que tem com Portugal e com outros países que se encontram acreditados em Portugal.
Aos estudantes, a tua pergunta, esta também está inserida no programa de embaixada, sobretudo, no acompanhamento do empenhamento dos estudantes em Portugal, de fazer com que a assistência seja possível, o acompanhamento de assistência seja possível através do IPAD, através das entidades que dão a bolsa, através de instituições no sentido de facilitar mais que poder os estudantes timorenses no seu enquadramento e no aproveitamento dos estudos nas faculdades onde estão inseridos, nas suas respectivas universidade.
ATC online: Desde 2001 até agora o governo já não envia mais estudantes para estudar em Portugal e pelo contrário, grande número dos estudantes continuam a sair anualmente para outros países como Indonésia, Austrália, Cuba e EUA – que é positivo – mas nenhum desses países é lusófono, acha que futuramente isso pode ameaçar a posição da língua portuguesa em Timor, à medida em que, maioria dos nossos futuros quadros ou elites políticos não falam português?
Sr. Embaixador: Em lado nenhum. Não há. As ameaças não são identificadas. O que está agora é a questão de recursos humanos para Timor-leste. Obviamente os recursos humanos, obviamente, gostaria de repetir esta palavra, os recursos humanos são todos eles rentáveis e aproveitados em qualquer das latitudes onde os timorenses serão acreditados em estudar, quer no Brasil, quer na Cuba, quer na Espanha, quer na Indonésia, quer na Austrália e quer em Portugal, são no contexto geral para Timor, é obvio, os recursos humanos. Esses recursos humanos são muito necessários em todas as áreas.
Uma é os recursos humanos, outra é uma questão da nossa identidade que são coisas diferentes. Uma que é significa o consenso nacional de identidade que passa através de língua portuguesa e esta, obviamente, não será ela uma forma descabida no sentido de mandar estudantes para outros países não da CPLP e sentirem-se neste contexto ser um bocado constrangidos para o desenvolvimento da língua portuguesa. Estado timorense, digo estado, estado e mais o governo, tem adoptado medidas e tem feito na questão de língua todos os esforços de poder reintroduzir e progressivamente a reintrodução do português não só o português como língua oficial mas o português falado em todas as circunstâncias, em todas as instituições do estado timorense.
ATC online: O nosso sistema judicial é muito parecido com o de Portugal, ou digamos, uma “quase cópia” do sistema judicial português. Devido a esta proximidade, não acha que é melhor mandar mais estudantes principalmente do direito para tirar o curso aqui?
Sr. Embaixador: São duas respostas que queria dar para a tua pergunta. Primeiro é esta questão, o termo é um bocado pejorativo dizer cópia, não é cópia mais é uma assimilação daquilo que se pode ser aplicado em Timor, não é ela toda copia mas o matriz é universal. Há dois sistemas, como tu sabes, no mundo há dois sistemas, o sistema continental no conceito de direito e da justiça e o sistema anglo-saxónico. Este é o sistema continental que Timor-leste adoptou, sobretudo de matriz civilista e não só, língua portuguesa e língua tétum para serem usados quer nos tribunais, quer nos centros de formação jurídica no sentido de preparar os futuros magistrados judiciais. A segunda pergunta, nós lamentamos imenso, por isso que a minha presença de estar aqui para remediar a situação e ao mesmo tempo rentabilizar os recursos. Veja como na tua universidade, na faculdade de direito tinha uma remessa mais de doze estudantes, neste momento só temos um…
ATC online: Temos mais…
Sr. Embaixador: Não. Mas os de bolsa só temos um. Precisamente nesta situação que nos pôs mais em termos de rever a situação. Primeiro ter assumido esta situação no geral e rever a situação, para futuramente poderem enviar, mas sem problemas graves como se efectuou em 2001 no sentido de melhor acompanhamento, reencaminhamento e enquadramento dos mesmos a ultrapassar a questão da língua portuguesa que maioria disse que é difícil, mas para nós, assumimos que é uma matéria que se deve estudar, e chegamos a conclusão de que para além de rever a situação, o recrutamento de estudantes, os futuros candidatos a universidades em Portugal deverão ser tratados de uma maneira muito peculiar e, ao mesmo tempo, que é necessário o estudante ter também nela uma disciplina de vida, um método de estudo, ultrapassar problemas psicológicos que ele traz em si, a adaptação à cultura e à realidade onde se encontra, para se poder encarar bem os seus estudos. É óbvio, não deixar desta ideia de voltar a Timor dentro daquele espaço de cinco anos, que foi dotado a bolsa para aprender. Nós apontamos também as dificuldades, como atraso de bolsas, envio de materiais, problemas pontuais que surgem com a família em Timor, distância, saudades e um bocado ambiente diferente. Nós já notamos como questões reais mas terão que ser ultrapassados pelo próprio aluno.
ATC online: Aqui em Portugal, não só há estudantes bolseiros do IPAD, da cooperação, mas há também estudantes timorenses que não são do projecto de cooperação, tem apoio específico para eles?
Sr. Embaixador: É precisamente isso que nós estamos agora a ter o balanço de uma estatística de quantos estudantes bolseiros e de quantos não bolseiros, quantos é que já serviram das bolsas de acção social, quantos é que vieram em nome do privado, em nome das famílias, e depois nós podermos apurar a uma situação, uma estatística acertada e fazer um reencaminhamento possível das ofertas que as autoridades portuguesas, as instituições e as congregações ou as instituições de ensino vão dar, mas tudo, será no seu mérito próprio. Não se poderá ser duma coisa repetida como se foi dos anos anteriores, não é? Terá que ser no mérito próprio.
ATC online: Há estudantes que perderam a bolsa mas querem continuar o estudo, há formas de os apoiar ou recuperar a sua bolsa no caso de conseguir passar do ano?
Sr. Embaixador: Neste sentido foram postas oportunidades e é claro as oportunidades que estão neste momento, as reais eu nesta posição não deveria fazer falsas promessas nenhumas. Portanto é realidade em que nos encontramos, mas a medida em que nos vamos encontrando oportunidades, não deixaríamos de faze-las mas sobretudo no mérito que cada um tem para com a bolsa.
ATC online: Como sabe, a maior preocupação da maioria dos recém-licenciados é conseguir arranjar o seu primeiro emprego. Acha que o mercado de trabalho timorense consegue absorver os nossos quadros formados?
Sr. Embaixador: Duma maneira geral sim, por isso que se mandou para Portugal, tem sido quadro de inteira disponibilidade para todas as instâncias sobretudo dos governamentais, é necessário aqui um trabalho da nossa parte de coordenação e sobretudo de transparência no sentido de informar antecipadamente aos respectivos ministérios quais as possibilidades e quais as vontades de poderem trabalhar nos devidos ministérios. Faltou aqui também um trabalho coordenador no sentido de informar antecipadamente e a vontade do próprio bolseiro voltar a trabalhar mesmo com a situação real que se vai desafiar na sua vida, portanto esta é outra realidade, uma realidade também que é económica que está em Timor-leste, os próprios vencimentos, é uma realidade própria que contrasta muito com a realidade portuguesa, portanto terá que estar nessas condições psicológicas, nesta vontade de servir, e obviamente deveria dizer de que o estado está com muita vontade de absorver, porque até falta, porque são esses os recursos que Timor leste…
ATC online: Para evitar fuga de cérebro…
Sr. Embaixador: De evitar fuga de cérebros. Depende também da vontade porque está também uma questão em que é agora chamo aqui sobretudo a vontade e a consciência dos próprios nossos finalistas de sentirem de que é um dever contribuir para o nosso estado.
ATC online: O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Dr. Luís Amado, na sua última visita a Timor fez uma declaração a imprensa, dizendo que a cooperação portuguesa com Timor irá “sofrer ajustamento”, julgo que senhor já deve ter conhecimento disto, que ajustamentos são esses? Qual é o impacto deste na relação entre Portugal e Timor, principalmente na área de educação?
Sr. Embaixador: Infelizmente, não tive contacto directo com o senhor ministro, espero contactá-lo para ver os reajustamentos. Da nossa parte nós estamos fazendo o esforço de reencaminhamento e rentabilização das bolsas que tem aqui e fazer com que seja uma continuidade das cooperações bilaterais que Portugal tem com Timor-leste. Portugal está no consórcio das nações que apoiam Timor. Em termos bilaterais Portugal está no número um. Os reajustamentos, não devo pronunciar ainda, como serão pronunciados e espero ter também do senhor ministro directamente sobre o assunto.
ATC online: Vou citar uma declaração do Sr. Luís Amado: “a questão da identidade em forma de valores, da cultura e da língua são uma marca permanente de referência na relação com Portugal e esse processo vai continuar sem paixão e sem excessiva emocionalidade que por vezes tem marcado acção dos alguns actores no terreno”. Como é que senhor interpreta está ideia de sem paixão e sem excessiva emocionalidade?
Sr. Embaixador: Eu não devia interpretá-las porque são palavras do ministro, ele próprio a interpretar, né? Porque são palavras dele (e riu-se).
ATC online: Depois dalgum contacto ou relacionamento estabelecido com a nossa associação, senhor deve ter alguma ideia sobre esta associação. O que é que acha dos ATC?
Sr. Embaixador: Eu acho óptimo, até porque assim tem o núcleo para ajudar também a embaixada em termos de apoio académico aos nossos compatriotas timorenses e fê-lo muito bem ter a associação dos Académicos Timorenses em Coimbra mas eu gostaria que virasse mais no sentido de apoiar cada compatriota, cada estudante em estudar mais e mais, sobretudo, virando para o aproveitamento académico.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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