quarta-feira, março 14, 2007

PRIMEIRO-MINISTRO DIVULGA PROPOSTA DE NOVO SISTEMA FISCAL

GABINETE DO PRIMEIRO MINISTRO
14 de Março de 2007

PRIMEIRO-MINISTRO DIVULGA PROPOSTA DE NOVO SISTEMA FISCAL
UM SISTEMA SIMPLIFICADO, FAVORÁVEL AOS POBRES, FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL E À CRIAÇÃO DE EMPREGOS


Declaração do Primeiro-Ministro Dr. José Ramos-Horta:

“Logo que assumi a responsabilidade de chefiar o II Governo Constitucional pedi ao PNUD e ao FMI um estudo sobre uma possível reforma radical do sistema fiscal.

Após consultas alargadas e cuidadosa consideração, apresento hoje uma proposta para um novo sistema fiscal para Timor-Leste que é simplificado, a favor dos pobres e que incentiva o sector privado, o investimento estrangeiro e a criação de empregos. A minha proposta vai além das recomendações do FMI.

Quando tomei posse como Primeiro-Ministro, em 10 de Julho de 2006, disse que o governo que ia liderar tentaria servir os interesses dos pobres, seria um governo para os pobres, estaria na vanguarda da luta contra a pobreza.

Prometi usar o dinheiro disponível para dignificar o ser humano, dar-lhe esperança, dar-lhe alimento, roupa e um tecto.

A receita não petrolífera total do Estado representa menos de 5% da receita petrolífera, sendo os impostos indirectos sobre bens 1,19% desta última, o imposto de transacções 0,64%, os impostos sobre empresas 0,63%, as taxas de importação 0,59%, o imposto sobre rendimento pessoal 0,49%, as taxas de retenção 0,46% e a taxa de serviço apenas 0,36%.

Para quê, então, preocupações com a cobrança de uma receita tão diminuta? Gastamos mais, talvez, a tentar cobrar estas taxas e impostos do que o montante efectivamente arrecadado.
Com receitas de gás e petróleo superiores a $1.000 milhões de dólares norte-americanos, considero que uma forma de tentar estimular a economia será aumentar o rendimento disponível das famílias através de um sistema fiscal novo, melhor talhado para favorecer, nos anos vindouros, os objectivos do desenvolvimento de Timor-Leste e, simultaneamente, mais compatível com o ambiente globalizado em que as empresas se movem.

A minha convicção sobre as características de um novo sistema fiscal para o nosso país, leva-me a defender basicamente uma redução drástica e até a abolição pura e simples da maior parte dos impostos e taxas.

Fiz consultas, quer a nível oficial, quer a nível informal, com um vasto leque de peritos do Banco Mundial, do PNUD, com académicos. Encomendei ao FMI uma avaliação e propostas de um novo sistema fiscal para Timor-Leste. Nesse processo consolidei a minha opinião, levando-me a propor um novo sistema fiscal que é corajoso, racional e avançado.

É favorável aos pobres porque Timor-Leste tem receitas petrolíferas significativas, pelo que não tem de arrecadar receita a partir dos pobres ou das pequenas empresas.

É favorável ao desenvolvimento empresarial porque Timor-Leste tem de estimular o desenvolvimento de um sector privado forte. Isso implica estimular a criação de novas empresas nacionais e o estabelecimento no nosso país de empresas estrangeiras.

É simples porque Timor-Leste não deve absorver muitos recursos humanos qualificados na operação de uma máquina fiscal complexa ou no combate á evasão fiscal. O governo e o sector privado têm de se libertar do fardo que representa um sistema fiscal complexo.

Assim, solicitei à senhora Ministra do Plano e das Finanças que instrua os seus funcionários para elaborarem um projecto de novo sistema fiscal, ou procederem às necessárias alterações da legislação existente, baseando-se nas recomendações que a seguir apresento, por forma a ser levado ao Conselho de Ministros e subsequentemente apresentado ao Parlamento Nacional, que tem competência exclusiva em matéria de política fiscal.

1ª recomendação: Abolir as tarifas, o imposto de transacções e os impostos indirectos, tornando-nos num “país de comércio livre”.

Defendo esta medida porque Timor-Leste não arrecada grande receita de tarifas sobre os produtos importados e, no entanto, tais taxas representam um fardo administrativo. Na minha opinião, como critério geral, Timor-Leste deve eliminar as tarifas em todos os produtos importados.

Deverão considerar-se excepções no caso de importações “indesejáveis”, como sejam os casos de produtos prejudiciais ao ambiente ou para a saúde. Estes produtos indesejáveis devem ser claramente listados e submetidos a uma elevada tarifa alfandegária fixa.

Com a redução tarifária, deve ser tida em conta a necessidade de compensar alguns produtores locais, para que os produtores timorenses não fiquem prejudicados pelo custo inferior dos produtos importados que competem com produtos produzidos internamente.

2ª recomendação: Pessoas e empresas com rendimentos inferiores a $1.000 dólares mensais devem ser isentadas de imposto.

Esta medida cria um limiar de isenção de imposto para pessoas de baixos rendimentos. Isto é absolutamente razoável: não há motivo que justifique obrigar timorenses pobres a pagarem impostos.

3ª recomendação: Fixar um escalão único de 5-10% para os impostos sobre rendimentos individuais e empresariais.

Peritos prestigiados dizem-me que qualquer rendimento superior a $1.000 dólares norte-americanos deve ser sujeito a uma baixa taxa de imposto de 5-10%. Concordo com essas opiniões.

Penso que o Fundo Monetário Internacional (FMI) propõe uma taxa relativamente elevada de 15-20%, para não parecer encorajar a criação de “paraísos fiscais”. Mas considero também que Timor-Leste deve adoptar taxas abaixo dos 15-20%. Em princípio, poderia adoptar uma taxa 0 sem condicionar a despesa do Estado, uma vez que a receita do petróleo será mais do que suficiente. Mas há razões que aconselham a adoptar uma taxa superior a 0, tendo em conta um futuro em que Timor-Leste precise de receita adicional. Por isso, considero razoável uma taxa de 5 a 10%, nas presentes circunstâncias.

A razão porque defendo a mesma taxa base para o imposto sobre rendimentos pessoais e o imposto sobre rendimentos empresariais é o facto de ser não apenas razoável, mas também simples, e previnir tentativas de fuga aos impostos, através de transferências de rendimentos entre contas empresariais e pessoais.

4ª recomendação: Abolição da taxa de 1% sobre a facturação das empresas.

Esta taxa não arrecada grande receita e é um fardo administrativo. Deve ser abolida.

5ª recomendação: Simplificação dos incentivos fiscais para investidores estrangeiros.

Reduzindo significativamente o nível dos impostos, reduz-se significativamente a necessidade de incentivos destinados aos investidores estrangeiros, isto é, a taxa base muito baixa será incentivo bastante.

Os incentivos discricionários actualmente em vigor são complexos e desnecessários. Com taxas base inferiores a 15% não haverá necessidade de incentivos adicionais para as empresas.
6ª recomendação: Minimizar o recurso a medidas indirectas e temporárias.

Tem havido propostas para introduzir medidas temporárias de vários tipos. Tais medidas destinam-se ou a desencorajar actividades indesejáveis (por exemplo, tarifas para reduzir a importação de automóveis ou computadores) ou a encorajar actividades desejáveis (por exemplo, encorajar a contratação local de trabalhadores timorenses) ou a compensar certos grupos (por exemplo, a redução do preço da electricidade para instituições que acolhem desalojados).

Após ouvir especialistas, considero que tais objectivos devem ser prosseguidos com medidas de apoio “permanentes” e “directas”, em vez de medidas temporárias e indirectas.

Poderemos usar medidas directas, como sejam um pagamento único a pessoas deslocadas, em vez de medidas indirectas como a compensação através de redução do custo de serviços públicos. Devemos adoptar outras medidas permanentes, como sejam níveis de taxação fiscal baixos, em vez de períodos de três anos a taxa 0. As medidas permanentes geram estabilidade e previsibilidade, alimentando a confiança empresarial.

Medidas directas e permanentes são preferíveis por serem claras, focadas nos objectivos para que são criadas e menos susceptíveis de gerarem desperdício e corrupção.

Estas ideias para a reforma do sistema fiscal foram discutidas com o Presidente Xanana Gusmão e o ex-Primeiro-Ministro Mari Alkatiri. Ambos concordaram de uma forma geral com elas. Na verdade, o Dr Alkatiri disse-me numa conversa recente que, há dois anos, tinha querido uma revisão do sistema fiscal como esta.

Acredito que esta minha proposta de novo sistema fiscal é a proposta certa para Timor-Leste. É uma iniciativa que tomo por considerar ser essencial para o bem do nosso país.

A mantermos quaisquer taxas ou impostos, eles devem recair apenas sobre produtos ou actividades com risco ambiental ou de saúde pública.

Infelizmente, o curto período do meu mandato como Primeiro-Ministro, não me permite supervisionar a aplicação de um sistema de impostos como o que defendo – favorável aos pobres, favorável ao desenvolvimento das empresas, simplificado e, simultaneamente, corajoso, racional, e avançado em termos das necessidades futuras. Mas comprometo-me a lutar pela adopção destas medidas, na minha qualidade de simples cidadão ou em qualquer cargo que venha a desempenhar no futuro, porque acredito que são medidas necessárias e certas para Timor-Leste nesta fase do nosso desenvolvimento como nação.” – FIM.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.