segunda-feira, março 19, 2007

Mulheres de Ataúro fornecem bonecas de pano para escolas

Pedro Rosa Mendes (texto) e António Cotrim (fotos), da agência Lusa Ataúro, 18 Mar (Lusa) -
Na hospedaria de Vila Maumeta, na ilha timorense de Ataúro, o quarto do meio não recebe hóspedes. É o quarto maior, o dos sonhos, onde seis mulheres desenham, cortam e costuram bonecas de pano, orientadas por uma pintora suíça que lhes ensina a cor e a forma.

O Grupo Boneca de Ataúro ganhou recentemente um concurso promovido pela Unicef (o Fundo das Nações Unidas para a Criança) para fornecer brinquedos de pano às escolas pré-primárias de Timor-Leste.

É uma encomenda grande: 3.240 bonecas. Mil foram entregues a 01 de Março. O segundo lote empilha-se numa das paredes.

"Estes sacos têm bonecas", explica uma das costureiras, Luísa dos Santos. "Estão aqui 460". A próxima entrega para a Unicef é a 15 de Abril. A entrega final será a 30 de Maio.
"Num dia, fazemos vinte bonecas", diz Luísa.

E quantas bonecas pode fazer cada costureira sozinha por dia? "Num dia, fazemos vinte bonecas", repete a costureira. Não há trabalho individual neste grupo. "Duas senhoras para a almofada. Duas senhoras para a roupa. Duas senhoras para o cabelo".

Em cada boneca estão as mãos e as ideias de Luísa dos Santos, Basília de Sousa, Luciana Baptista, Lúcia Barros, Alexandrina Amaral e Ana da Silva.

Há uma mesa com dezenas de bonecas sentadas, já prontas. As bonecas nascem na mesa ao lado, onde se corta silhuetas coloridas em chita e popeline. As brincadeiras das crianças lá fora misturam-se com o som das máquinas de costura e das grandes tesouras.

"Primeiro corta-se a boneca, depois os olhos, nariz e boca, e a seguir as senhoras costuram a almofada. No fim, é bordar e costurar o cabelo", ensina uma das costureiras.

A alma (e a tesoureira) do Grupo Boneca de Ataúro é uma artista plástica de Chiasso (Suíça), Piera Zuercher, que se mudou para Ataúro para se isolar da crise política e militar que tomou conta de Díli em Abril e Maio de 2006.

"Estava em Díli a fazer um trabalho e no meio daquela confusão decidi que não estava lá a fazer nada", conta a pintora suíça.

"Vim para a ilha. A gente daqui precisa e quer trabalhar e isso entusiasma-me".

A ideia de fabricar bonecas de pano surgiu por acaso entre Piera Zuercher e um dos padres de Ataúro.

"Ambos gostamos de brinquedos e falámos nisto".

O Grupo Boneca de Ataúro, criado em Outubro de 2006, alterou a vida de cerca de trinta mulheres que trabalham em núcleos como o de Vila Maumeta, em diferentes pontos da ilha.
"Antes, todas nós ficávamos em casa todo o dia, assim só sem fazer nada", recorda. "Íamos à horta e só assim. Agora trabalhamos aqui todos os dias. Ficamos contentes com este trabalho".

"Elas são felizes criando brinquedos", diz Piera Zuercher. O quarto das bonecas é, também, uma ilha nas vidas difíceis que fazem a história das mulheres timorenses.

Ana da Silva, por exemplo, enviuvou com dez filhos, e toda a sua vida foi afectada pelos acontecimentos violentos de 2006 em Díli.

O Grupo Boneca de Ataúro terá em Junho uma exposição organizada pelo Instituto Camões, em Díli, coincidindo com o Dia Internacional da Criança.

O futuro do projecto passa pela exportação das bonecas, através de uma organização em Bali (Indonésia) que pretende colocar os brinquedos no mercado europeu.

"É uma sorte", afirma Piera Zuercher. "Agora estamos a fazer bonecas para Timor, mas não é para sempre.

Para continuar, precisamos de pensar outra coisa".

Piera Zuercher prossegue em Ataúro o seu próprio trabalho artístico e partilha a sua formação de pintura e arquitectura com as costureiras de bonecas, que às sextas- feiras têm seis horas de formação sobre cor e forma.

"Fora uma das senhoras que tem essa aptidão naturalmente, as outras não fazem relação entre formas e cores", diz Piera Zuercher. "É como se não pensassem nisso. Estão muito longe".

"Mas quando se mostra, entendem logo o que é melhor e o que não está bem", acrescenta a artista suíça, pegando numa boneca-modelo, muito perfeita, para a exposição de Junho. "Olha isto, que beleza!".

PRM-Lusa/Fim

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho piada a este repórter da Lusa que está em TL mas em vez de tentar divulgar e dar-nos a conhecer os Timorenses, anda positivamente fascinado pelos expatriados que por aí estão. Na semana passada foi o norueguês, hoje é a suiça. Será que para a semana que vem até é capaz de descobrir algums alemão? Que parolice, Pedro, que snobismo mais piroso o seu. Estar em TL e só se preocupar com europeus!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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