domingo, julho 09, 2006

Do Canto do Cirne

DA BOUNDARY, DA EQUIDISTÂNCIA, DO TIMOR GAP, DAS FIGURAS PATÉTICAS DE XANANA E HORTA, DOS RECEPTADORES, DO CRIME ORGANIZADO E DA PULHICE EM GERAL


Em Fevereiro de 1942 o Japão desembarcou em Timor uma força de 20.000 homens (mais do que o equivalente a uma Divisão, próximo de um Corpo de Exército) e ocupou a colónia portuguesa, sem sequer dizer “água vai”. Preparavam-se para lançar dali, o território mais próximo da Austrália, a invasão. Os timorenses, enquadrados por uma companhia de comandos australiana, cujo comandante ainda era idolatrado pelos naturais há 38 anos e tive o privilégio de conhecer pessoalmente já coronel reformado, lutaram heroicamente contra os nipónicos, infligindo-lhes pesadas baixas e paralisarando o esforço militar japonês. Morreram entre 60 e 70 mil timorenses mas, provavelmente, pouparam a Austrália à guerra no seu território e a muito sofrimento!

Nobre povo e nação valente!

Gente brava (às vezes demais!), obstinada, dedicada às causas em que se envolve e nobre. Lamentavelmente iletrados, embora cultos à sua maneira. Não sabem quem foi Gandhi, quem é o Dalai Lama, ou Boaventura Sousa Santos, mas têm uma filosofia da vida em que vale a pena meditar.

Pois este povo, para quem a Austrália tem uma dívida de gratidão e devia lamber-lhes o rabo, é tratado abaixo de cão pela pulhice “australopiteca”.

De acordo com a lei internacional, os países marinhos têm direitos económicos sobre uma área com 200 milhas de largura, a partir da linha de costa. Quando entre dois países a distância é inferior a 400 milhas, essa distância é dividida ao meio. É o principio da equidistância. Fácil, justo, cristalino e até um jurista ilustre tem dificuldade em distorcer tal princípio.

Em 1972, a Austrália arranjou uma desculpa qualquer, completamente esfarrapada, usando o argumento da plataforma continental e apoderou-se de 85% daquela distância. Portugal, potência administrante, não aceitou, recorreu para o Tribunal Internacional de Justiça de Haia e ali, com aquelas subtilezas jurídicas que conhecemos, o Tribunal arranjou maneira de dizer "nim".

Ficou então uma área, ”mar de ninguém”, conhecida por Timor Gap (ver mapa - JPDA significa Joint Petroleum Development Area, uma trafulhice constante no "Timor Sea Treaty"). Por extraordinária coincidência, é aí que estão localizadas as reservas principais de petróleo e gás natural como Bayu-Undan, Sunrise e Troubadour!!

Quando Indonésia começou a dar sinais de que podia invadir Timor Leste, graças à clarividência, senso político e inteligência granítica da rapaziada do Movimento das Forças Armadas, o embaixador australiano em Jacarta mandou um telegrama confidencial ao seu governo dizendo que encerrar o problema do Timor Gap podia ser mais fácil com a Indonésia do que com Portugal. Daí ao fechar dos olhos das autoridades australianas ao atropelo da invasão foi um passo de minhoca. Os americanos, que como as companhias petrolíferas e os bancários suíços, estão sempre envolvidos em tudo quanto seja porcaria deste estilo, disseram amén. E lá vieram anos de sofrimento para os pobres timorenses, atirado sobre eles pelos amigos do “paipar”, “tudai”, “chocolaitou” “tomaitou” e outras palavras terminadas em diabo que os carregue. Além de serem ingratos, são estupores! Mordem a mão que deviam beijar.

Então, a troco de continuarem com os olhos fechados para as arbitrariedades de Suharto e “sus muchachos”, em 1989 assinaram com a Indonésia o Tratado do Timor Gap, reconhecendo a soberania da Indonésia sobre Timor Leste, coisa que nenhum país ocidental tinha feito até à data. Sobre isto, o Professor Roger Clark, autoridade mundial em Direito Marítimo, escreveu: "[...] é como adquirir material a um ladrão [...] o facto é que eles não têm direito histórico, nem legal, nem moral sobreTimor-leste e os seus recursos".

Mas os australianos assinavam tudo, até a crucificação do pai, por uns barris de petróleo.
Então, surge uma personalidade sinistra, que até dizem ser comunista, vejam lá, a pedir contas à Austrália!

Alkatiri!!

O homem viveu 24 anos em Moçambique, na fase marxista do país e foi ali educado. Com as reservas e dificuldades que está a levantar a esta negociata do petróleo, só pode ser comunista!

É preciso abatê-lo!

Como?
Fácil!!!

O Major Alfredo Reinado, antigo exilado na Austrália e treinado na Academia Militar de Camberra, é o homem certo para começar a complicar a vida a Alkatiri. E Ramos Horta, que tirou um curso de diplomacia, provavelmente por correspondência, em Sidney, é o candidato ideal para primeiro ministro.

E Xanana?

Quem é?!!! Aquele que gravou para a TV uma entrevista patética com Abílio Araújo, depois de feito prisioneiro pelos indonésios? Que faz aqueles discursos fluentes e brilhantes? Que nem deve saber o que é o Timor Gap? Por amor de Deus!! Não estamos a falar de gente muito estimulante, mas esse...!!!

E a Igreja?

Bom, aqui para nós, os Senhores Bispos não são grandes ”espingardas” intelectuais. Frequentaram o Seminário Maior em Macau, segundo parece, e aquilo da Filosofia, da Teologia, do Direito Canónico e assim, deixou-os exaustos. E ainda têm uns “fumos” de anti-colonialismo. Vocês não viram a distância de D. Ximenes Belo quando foi recebido em Lisboa pelo generoso povo daquele País, que parecia ter recebido Jesus Cristo no Aeroporto da Portela? Com esses não há problema. Só vão perceber o que é colonialismo quando compreenderem o que é isto do Tratado do Timor Gap. Só daqui a muitos anos! E vão perceber que o colonialismo português em Timor era um luxo do Salazar. Só dava despesa! Mas servia, juntamente com Goa, Damão e Diu, para compor a panóplia do “País do Minho a Timor”. Por aí, não há problema.

Mas acham que o Alkatiri é mesmo comunista?

Sabemos lá se é! Provavelmente, não. Mas dá jeito dizer que sim. Também, se for, no tempo actual isso é uma doença que tem cura espontânea e não tem consequências. Assim como a maior parte das infecções pelo vírus de Epstein-Barr!

Ramos Horta, Primeiro Ministro de Timor Leste!

Que tristeza!...

Estou triste porque há coisas naquela terra que não vou esquecer nunca mais. A cadeira onde fiz consulta no Hospital de Baucau durante ano e meio e era o banco de um tanque japonês, adaptado com engenho timorense àquela inesperada função. As grutas que haviam sido enormes paióis, escavadas nas montanhas por milhares de indígenas recrutados pelos nipónicos e abatidos sumariamente no fim para não revelarem aos australianos a sua localização. A ternura dos “moradores”, espécie de guarda pretoriana dos” liurais”, que me ajudavam como se fosse uma criança a vencer os difíceis caminhos para as terras onde me deslocava em “acção psico-social”. As recepções dos chefes nativos, que me contemplavam invariavelmente com belíssimo sarapatel, acompanhado por cerveja “Laurentina” choca, muito melhor do que qualquer champagne, whisky, ou vinho do restaurante do Hotel Negresco, em Nice. E a solidariedade do condutor de Unimog que quase morria afogado numa ribeira, com a preocupação única de me pôr a salvo.

Como posso aceitar o que se passa em Timor Leste, entregue a Xanana e Horta e com australianos a garantir a paz.

Peacekeepers or Petroleum Predators?

5 comentários:

Anónimo disse...

Aqui está uma forma de "pintar" simples, 64 anos da história de Timor. Algumas omissões importantes ajudam à simplificação.
Como por exemplo, o Ámen americano.
Em 1975 o petróleo era tão importante quanto a geopolítica quando estava por um fio a derrota completa no Vietname?
Claro que não. Nessa altura o problema era a doutrinação FRELIMISTA da FRETILIN e subsequente aproximação à China (de Mao na altura, o tal da revolução cultural, lembram-se?).
Isto era intolerável no xadrez geopolítico da altura. Os américa ocupados em duas frentes da guerra fria, não tinham tempo nem pachorra para se preocuparem com uma minúscula metade de uma ilha.
E deram carta branca à Indonésia, não sem antes terem avisado o governo de Portugal da altura. Recordam-se quem era o Primeiro Ministro de Portugal na altura? Pois, esse mesmo, o que tinha uma "muralha de aço".
Misture-se agora a orientação dominante em Lisboa (entregar o poder das províncias ultramarinas aos movimentos "democráticos e representativos", com o custo de sustentação de Timor, como diz Cyrne e muito bem (lembram-se da declaração de Almeida Santos quando regressou de Timor dizendo que era um paquete encalhado que custava muito dinheiro a Portugal?), e a decisão de Lisboa foi como a de Pôncio Pilatos.
E quem em Lisboa tomou a decisão de nada decidir e nada fazer é que devia ser responsabilizado por tudo quanto aconteceu e está acontecer aos timorenses daí para cá. Não pode ser escamoteada a responsabilidade de quem governava Timor na altura de, independentemente da vontade dos Oficiais do MFA lá colocados para promoverem a entrega de Timor à FRETILIN, não ter mantido a ordem e impedir os desmandos que deram origem ao golpe e contra-golpe e por consequência à guerra civil.
Mas faltou-lhe em coragem o que lhe sobrou em obediência aos desígnios de Lisboa, por intermádio dos 3 majores do MFA.
Assim foram sacrificados quase 3 centenas de milhar de timorenses ao longo dos anos e ainda não terminou.
O objectivo foi conseguido. Impediu-se a preparação dos timorenses para em referendo decidirem do seu futuro, e em eleições livres escolherem o seu
governo se fosse sua escolha serem independentes.
Mas este crime não foi só com timorenses. O mesmo aconteceu com São Tomenses e Cabo Verdianos.
Não tiveram na altura própria a oportunidade de exprimirem livremente a sua vontade num referendo.
Os documentos que a conta gotas vão sendo tornados públicos no Kremlin são clarificadores das orientações dadas aos peões de brega em Lisboa.

Anónimo disse...

A historia fica para os historiadores.O "Fote Make Riba"( ja lhe disse que se quiser passar bem por Timorense deve aprender a escrever o seu pseudonimo em tetum como deve ser ou seja "foti maka Riba", quer nos convencer que foram os EUA, Gra-Bretanha e Australia que ordenaram que Portugal abandonasse Timor da maneira como o fizeram e que o 25 de Abril e a politica de mandarem as colonias ultramarinas a sua propria sorte o mais depressa possivel nao teve qualquer influencia na maneira como Portugal deixou Timor. RIDICULO!!!

Mas como disse a historia e para os historiadores e agora deixem o novo governo escrever o presente e tracar as linhas rumo ao futuro. Afoguem as vossas magoas e deixem os Timorenses procurarem maneira de voltar a viver em paz.

Anónimo disse...

Repudio a conotação acima por inverdadeira, mas que se pode fazer? Há quem insista na visão simplista de que quem não é por nós só pode ser contra nós.
E clarifico, "nós fomos peões de brega no jogo de xadrez dessas mesmas potências..." alto lá. Alguns foram peões de brega e não foi dessas potências. A César o que é de César.
Estou mesmo a ver os EUA a mandarem o Rosa Coutinho entregar Angola ao MPLA. É só rir.
Tal como em Timor. O governo australiano disse ao Lemos Pires que deixasse a FRETILIN tomar conta do paiol do Exército e levantar as G-3, morteiros e munições, porque ficariam em boas mãos. Onde é que já ouvi isto?
Ter memória é lixado. É só rir.
Se não fosse esta vontade de chorar....

Anónimo disse...

O Malai Azul é das esquerdas e noto-lhe a parcialidade que normalmente tolda o raciocínio e impede ver o óbvio.
Considero que Portugal fez já o que devia por Timor e para além duma solidariedade decorrente da viagem comum ninguém deve nada a ninguém.
Mas o Malai disse á Mario Soares (MS) que como nas outras ex-colónias a culpa dos erros da descolonização foi das FA´s...
Promoveram o Lemos Pires que era o chefe máximo em Timor muito depois pelo que a culpa ao não ser dele também não foi das FA´s...
O MS quiz ou não entregar também em 1975 Macau? O homem tratou de entregar tudo a qualquer preço... e depois a culpa atribuiu-a aos outros que nada mandavam...
Ainda agora mandaram o ex-governador civil amigo de ciganos para salvar os amigos do Malai e não é que conseguiu? E ainda se queixam...
Tudo leva de facto a c oncluir que em Timor o que estavaem marcha era uma "democracia á Cubana...."

Anónimo disse...

"Fote Make Riba": Ve-se que ha muitos anos que nao vem a timor porque senao saberia que timor tem um tetun oficial que e o chamado 'Tetun-Prasa' desenvolvido pelo Instituto Nacional de Linguistica e aprovado pelo conselho de Ministros do governo de Mari Alkatiri.
Se nao sabia fica a saber e se voce decidir escriber o protuguese da mezma froma komu eskreve o tetun tenhu a sertexa ke algun protugues lhe vai xamar a atencaun. Passar bem...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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