Lusa - 08 Novembro 2007, 12:12
Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa
Díli, 08 Nov (Lusa) - Entre os arguidos do massacre de Caicoli estão dois veteranos com 24 anos de resistência no mato. Estão prontos para a prisão mas consideram "uma injustiça e um insulto" responderem, dizem, "por defender o Estado e a nação".
Passa do meio-dia no discreto Bairro do Farol, Díli, domicílio dos titulares timorenses. Doze homens - onze fardas verdes e uma farda azul - saem de um minibus militar à porta da residência do brigadeiro-general Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
São os arguidos no processo dos oito polícias mortos a 25 de Maio de 2006, em Caicoli, quando militares das F-FDTL dispararam sobre uma coluna da Polícia Nacional (PNTL) sob escolta das Nações Unidas.
"O general", como os militares se referem ao seu comandante, ainda não chegou.
É hora de almoço. O grupo de arguidos está nervosamente bem disposto: à mesa, depois de uma manhã no banco dos réus do Tribunal de Recurso, haverá frustração e incerteza.
O juiz do processo marcou a leitura da sentença para 29 de Novembro.
"Durante 24 anos, lutámos segundo o princípio da independência e da defesa de todo o povo. Sempre foram essas as minhas funções", afirmou à Agência Lusa o segundo-sargento Paulo da Conceição "Maucana".
O militar, natural de Quelicai, Baucau (leste), pertence à escolta pessoal do brigadeiro-general Ruak.
"Estava com ele na manhã do tiroteio, na mesma sala" das antigas instalações da força internacional de paz (PKF), em Caicoli, onde era o comando das F-FDTL, mesmo atrás do quartel-general da PNTL.
"Quando a PNTL disparou para a sala, os estilhaços da janela que havia por cima de mim caíram-me na cabeça", recordou hoje o sargento "Maucana", no alpendre do seu comandante.
"A intenção era matar o general Ruak e o coronel Lere (Anan Timur)", garante o escolta do brigadeiro-general.
"Maucana", que empunha uma M16 no início do filme do tiroteio visionado durante o julgamento, afirmou à Lusa que não disparou sobre a coluna de polícias porque nem sequer saiu da ex-PKF.
"As acusações são falsas. Eu estive no mato e tenho princípios. É um insulto estar a ser tratado como um criminoso", declarou à Lusa.
O sargento "Maucana" traz a braçadeira da Polícia Militar, que, até à crise de 2006, era comandada pelo major Alfredo Reinado.
O grupo do major Reinado atacou elementos das F-FDTL em duas ocasiões. Numa delas, "Maucana" foi ferido num dedo por um estilhaço de granada.
"Talvez tenha sido atacado" pelo seu ex-comandante, evadido de uma prisão de Díli desde 30 de Agosto de 2006.
O sargento "Maucana" carrega outra cicatriz, na perna esquerda, de quando foi atacado pelos indonésios em 1991, "depois de escoltar o comandante Xanana Gusmão para a região de Ainaro".
Também Armindo da Silva "Maukade", a completar 50 anos, fez a vida na resistência e junto dos chefes máximos da guerrilha: era escolta do coronel Lere.
Para o veterano "Maukade", estar no banco dos réus é "estranho".
É, no entanto, um dos três arguidos que admitiu ter disparado "uma rajada" em Caicoli.
"Sou um homem humilde e lutei por todo o povo. Não defendi a minha família, o meu pai ou a minha mulher. Depois da independência, tenho que defender o governo e as F-FDTL", resumiu à Lusa.
"Não vou sair das Forças a não ser que me digam que já não precisam de mim", garante.
Chega, entretanto, o brigadeiro-general Ruak, descontraído. Ao pedido de entrevista da Lusa, aponta para o advogado José Guterres: "Fale com ele!"
O soldado "Maukade" explica que, a 25 de Maio, "não houve uma ordem de cessar-fogo por rádio", mas que "passou de homem em homem uma ordem vinda do comando" para que parassem os tiros.
"Maukade" estava no exterior da ex-PKF "em autodefesa".
Para o mais velho dos arguidos, "houve uma falha das Nações Unidas".
"O cessar-fogo tem que ser coisa clara, com termos definidos. Nós parámos os tiros porque ouvimos que a ONU ia entrar" na PNTL para evacuar os polícias.
"Mas as negociações para cessar-fogo têm que seguir termos e fases bem definidas", o que, segundo "Maukade", não aconteceu.
O soldado insiste também que "a coluna não fez nada para respeitar a bandeira da ONU" e repete que "os polícias foram indisciplinados ao fazer 'manguitos' e a cantar o hino nacional".
O Ministério Público pediu a condenação do soldado "Maukade" e a absolvição, "com algumas dúvidas", do sargento "Maucana".
"Não somos loucos para nos matarmos uns aos outros entre militares e polícias", alega o sargento "Maucana".
"Se for para a prisão, a instituição continuará a cuidar de mim", conclui o veterano "Maukade".
"Estamos prontos para cumprir a lei. E as ordens do comando".
Lusa/fim
haviam tambem um grupo de civis mal uniformizados que tambem abriram fogo com armas automaticas e semi automaticas a PNTL.
ResponderEliminarNINGUEM TESTEMUNHA PORQUE TEM MEDO DE PERDER A VIDA.
O cor Reis referiu isso no seu testemunho, sobre os elementos que estavam por detrás do contentor
ResponderEliminarEntão o Cor Reis referiu isso e a Lusa NUNCA contou? Curioso, não é verdade?
ResponderEliminarEntao esses homens tem tantos principios que atiraram em policias ja completamente desarmadas. se isso nao for crime entao nao ha crime nenhum.nem sei se os Indonesios teriam tido a coragem de fazer isso
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