sexta-feira, novembro 09, 2007

Timor-Leste: Filha de ex-MNE australiano confirma encobrimento sobre Balibó

Lusa - 07 Novembro 2007, 15:36

Díli - A filha do ex-chefe da diplomacia australiana em 1975 revelou hoje que o pai teve conhecimento e encobriu o massacre de cinco jornalistas em Balibó, Timor-Leste.

Geraldine Willesee, filha do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Don Willesee, contou hoje ao jornal The Australian que o pai soube da morte dos "5 de Balibó", a 18 de Outubro de 1975.

"Nos seus últimos dias de agonia, em 2003, o meu pai falou outra vez, de forma amargurada e sem desculpas, do papel da Austrália na invasão de Timor-Leste", escreveu Geraldine Willesee, num longo artigo intitulado "Ferido pela culpa de Balibó".

Num "momento emotivo" de conversa com a filha, Don Willesee contou-lhe "dois segredos do governo".

O primeiro é que decidiu informar as famílias das vítimas de Balibó, contrariando ordens do governo trabalhista.

Don Willesee, informado da morte dos jornalistas, tinha ordens para manter segredo até à semana seguinte, mas "não podia suportar a ideia de as famílias passarem todo o fim-de-semana sem saber".

"Por isso, discretamente, garanti que as famílias receberiam a notícia", recorda Geraldine Willesee das palavras do pai.

"O outro segredo que o meu pai me contou é que os indonésios tinham morto os cinco australianos", escreveu a filha do ex-ministro no artigo do Australian.

A versão oficial, mantida até hoje por Jacarta, é que os jornalistas foram mortos em fogo cruzado.

Geraldine Willesee, ex-jornalista política em Camberra, procurou vários antigos colaboradores do pai quando um inquérito à morte de uma das vítimas de Balibó, Brian Peters, foi aberto por um tribunal australiano.

A demanda confirmou que o governo e o ministro sabiam a verdade sobre Balibó.

Um dos antigos colaboradores de Don Willesee contou à filha: "Sim, o seu pai fez parte da operação de cobertura… Com uma arma apontada à cabeça".

Outro ter-lhe-á confirmado que o chefe da diplomacia pensou seriamente em pedir a demissão devido ao incidente de Balibó.

"Outro dos ex-colaboradores confirmou ter visto o infame telegrama dos serviços de informação (australianos) contando do assassínio deliberado dos jornalistas pelos indonésios", escreveu Geraldine Willesee.

A ex-jornalista refere que, "apesar de terem passado mais de 30 anos", não conseguiu ter acesso a todo o arquivo ministerial do pai.

Don Willesee foi ministro dos Negócios Estrangeiros australiano apenas por mais 26 dias após a morte dos jornalistas em Balibó.

PRM-Lusa/fim

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