Lusa - 07 Novembro 2007, 15:36
Díli - A filha do ex-chefe da diplomacia australiana em 1975 revelou hoje que o pai teve conhecimento e encobriu o massacre de cinco jornalistas em Balibó, Timor-Leste.
Geraldine Willesee, filha do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Don Willesee, contou hoje ao jornal The Australian que o pai soube da morte dos "5 de Balibó", a 18 de Outubro de 1975.
"Nos seus últimos dias de agonia, em 2003, o meu pai falou outra vez, de forma amargurada e sem desculpas, do papel da Austrália na invasão de Timor-Leste", escreveu Geraldine Willesee, num longo artigo intitulado "Ferido pela culpa de Balibó".
Num "momento emotivo" de conversa com a filha, Don Willesee contou-lhe "dois segredos do governo".
O primeiro é que decidiu informar as famílias das vítimas de Balibó, contrariando ordens do governo trabalhista.
Don Willesee, informado da morte dos jornalistas, tinha ordens para manter segredo até à semana seguinte, mas "não podia suportar a ideia de as famílias passarem todo o fim-de-semana sem saber".
"Por isso, discretamente, garanti que as famílias receberiam a notícia", recorda Geraldine Willesee das palavras do pai.
"O outro segredo que o meu pai me contou é que os indonésios tinham morto os cinco australianos", escreveu a filha do ex-ministro no artigo do Australian.
A versão oficial, mantida até hoje por Jacarta, é que os jornalistas foram mortos em fogo cruzado.
Geraldine Willesee, ex-jornalista política em Camberra, procurou vários antigos colaboradores do pai quando um inquérito à morte de uma das vítimas de Balibó, Brian Peters, foi aberto por um tribunal australiano.
A demanda confirmou que o governo e o ministro sabiam a verdade sobre Balibó.
Um dos antigos colaboradores de Don Willesee contou à filha: "Sim, o seu pai fez parte da operação de cobertura… Com uma arma apontada à cabeça".
Outro ter-lhe-á confirmado que o chefe da diplomacia pensou seriamente em pedir a demissão devido ao incidente de Balibó.
"Outro dos ex-colaboradores confirmou ter visto o infame telegrama dos serviços de informação (australianos) contando do assassínio deliberado dos jornalistas pelos indonésios", escreveu Geraldine Willesee.
A ex-jornalista refere que, "apesar de terem passado mais de 30 anos", não conseguiu ter acesso a todo o arquivo ministerial do pai.
Don Willesee foi ministro dos Negócios Estrangeiros australiano apenas por mais 26 dias após a morte dos jornalistas em Balibó.
PRM-Lusa/fim
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