terça-feira, fevereiro 10, 2009

Guarda presidencial "disparou primeiro", dizem arguidos do 11 de Fevereiro

*** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa ***

Díli, 09 Fev (Lusa) - A guarda presidencial foi “a primeira a disparar” quando o major rebelde Alfredo Reinado entrou armado na residência do Presidente timorense, José Ramos-Horta, no atentado de há um ano, segundo documentos a que a Agência Lusa teve acesso.

“Os primeiros a disparar naquele dia foram os seguranças do Presidente da República”, afirmaram vários arguidos no processo sobre o duplo ataque contra o chefe de Estado e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.

José Ramos-Horta ficou gravemente ferido na sequência do ataque à sua residência pelo grupo de Alfredo Reinado, na manhã de 11 de Fevereiro de 2008, no qual morreram o major rebelde e um dos seus homens.

Xanana Gusmão escapou, pouco depois, a uma emboscada montada pelo grupo do ex-tenente Gastão Salsinha na estrada de Balíbar, a sul de Díli, onde residia então o primeiro-ministro.

O filme dos acontecimentos, segundo os documentos processuais consultados pela Lusa, começa com o trajecto do grupo do major Reinado desde Lauala, Ermera (oeste), de madrugada, e a chegada à residência de José Ramos-Horta pouco depois das 06:00.

“O Alfredo perguntou aos seguranças onde estava o Presidente, tendo estes respondido que tinha ido para a ginástica”, contou um dos suspeitos às autoridades.

“Em seguida, o Alfredo, o Leopoldino (Exposto), o (Gilberto Suni) Mota e o (Egídio) Lay entraram para o interior do quintal da casa do Presidente, (e) estavam todos armados”, acrescentou o mesmo arguido.

“Após o Reinado e os outros três terem entrado no interior do quintal, passados 3 a 5 minutos ouviram-(se) tiros. O primeiro foi um tiro a tiro seguido de rajada”, segundo o mesmo arguido, um dos nove elementos que acompanharam o major naquele dia.

A inquirição dos suspeitos confirma que Alfredo Reinado morreu cerca de 30 a 40 minutos antes de José Ramos-Horta ter sido atingido a tiro, um dos primeiros dados a emergir no próprio dia dos ataques.

“Após os tiros, o Mota e o Lay saíram a correr e nessa altura todos os que estavam cá fora, com excepção do ‘Aimeu’ e do Lay, disparam em direcção do quintal do Presidente. Dispararam tiro a tiro e rajadas”, contou ainda o mesmo arguido.

Segundo o mesmo testemunho, “surgiu na estrada em frente à casa do PR um jipe das F-FDTL” (Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste), proveniente de Metinaro (a leste da capital), que foi apanhado no fogo cruzado.

Os homens de Reinado, então, “puseram-se em fuga em direcção à ribeira (na encosta em frente) e depois para Fatuahi”.

Uma testemunha, que se encontrava na casa do Presidente disse que “reconheceu o Alfredo Reinado” e que major rebelde a ameaçou de morte.

“(um dos militares da segurança) pegou na sua arma e disparou em direcção aos dois elementos do grupo, tendo atingido o Reinado e o Leopoldino”, lê-se nos autos de interrogatório.

Um dos principais suspeitos do 11 de Fevereiro, do grupo que entrou no recinto com Alfredo Reinado, relatou “que ninguém falou que o PR tinha sido atingido e que só ouviu falar nisso no dia 13 de Fevereiro”.

Após a morte do major Reinado, o resto do grupo juntou-se a Gastão Salsinha e só em Abril a maioria dos fugitivos se entregou às autoridades.

O antigo líder dos peticionários das F-FDTL, com uma dezena de co-arguidos, aguarda desde então, em prisão preventiva, a conclusão da investigação.

PRM.

Lusa/fim

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