terça-feira, fevereiro 10, 2009

Ataques de há um ano "sem explicação racional"

*** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa ***

Díli, 09 Fev (Lusa) - Um ano após o duplo ataque contra a liderança de Timor-Leste, o 11 de Fevereiro de 2008 continua “sem explicação racional” e sem acusação formada.

“Não encontro nenhuma explicação racional para o que se passou”, resumiu um dos responsáveis do Centre for Humanitarian Dialogue (CHD), Léon de Riedmatten, numa entrevista recente à Agência Lusa em Díli.

A CHD, uma organização de mediação suíça, estava envolvida desde 2007 no processo de paz com o major fugitivo Alfredo Reinado e os peticionários das Forças Armadas liderados pelo ex-tenente Gastão Salsinha.

“Tudo estava encaminhado para uma solução do problema”, acrescentou o responsável do CHD à Lusa, em Novembro de 2008, por ocasião da assinatura de um protocolo com a Presidência da República timorense.

O Presidente da República, José Ramos-Horta, ficou gravemente ferido na manhã de 11 de Fevereiro de 2008 junto à sua residência, na sequência de um ataque pelo grupo do major Alfredo Reinado, no qual o próprio ex-comandante da Polícia Militar viria a morrer.

A Lusa confirmou junto da equipa do CHD em Díli que um encontro “definitivo” entre o Presidente da República e Alfredo Reinado podia acontecer tão cedo como 13 ou 14 de Fevereiro.

Um leque alargado de líderes políticos, elementos das forças de segurança timorenses e internacionais e vários observadores ouvidos nas últimas semanas pela Lusa concordam que “não faz qualquer sentido” que Alfredo Reinado escolhesse matar o chefe de Estado, a pessoa que mais se esforçou por uma resolução pacífica do problema.

“José Ramos-Horta era o único interlocutor em quem Reinado confiava. Alfredo considerava o Presidente o único líder timorense que não tinha culpas na crise de 2006”, afirmou à Lusa uma fonte que acompanhou os contactos do Estado timorense com o major fugitivo.

“Alfredo tinha um lado gaiato e um grande ego, às vezes a roçar a insolência. Mas não era maluco. Era um militar treinado e metódico que, se quisesse causar confusão, o poderia ter feito em muitas oportunidades”, comentou uma fonte internacional que contactou com o major Reinado desde 2006.

“A incógnita é saber se um homem assim pode ser influenciado por uma mulher ao ponto de fazer um disparate como atacar o seu único aliado objectivo na liderança timorense”, acrescentou o mesmo observador.

A má influência feminina em Alfredo Reinado é um tema recorrente, em geral, mas não em exclusivo, tendo por alvo Angelita Pires, ex-funcionária da Procuradoria-geral da República, companheira do major nos últimos meses de vida e co-arguida no processo do 11 de Fevereiro.

“Alfredo gostava muito do Presidente da República”, afirmou Angelita Pires à Lusa, defendendo-se das acusações em praça pública, insistindo na tese de uma “conspiração” para atrair Reinado a uma cilada.

O pai adoptivo de Reinado, o empresário e conselheiro de Estado Vítor Alves, reafirmou à Lusa que “há um ano que não há solução para o caso”.

“As autoridades não deviam bater mais na tecla do atentado. Deviam limpar o nome do menino”, frisou, recordando que “a injustiça provoca ressentimento” na juventude que apoiava o major Reinado.

Para as autoridades timorenses, no entanto, a intencionalidade criminosa de Alfredo Reinado, em concertação com Gastão Salsinha numa emboscada ao primeiro-ministro, não oferece dúvidas.

“Os propósitos do grupo liderado por Alfredo Reinado não era, como referiram os arguidos, visitar o Senhor Presidente”, escreveu um dos magistrados que instruiu o processo, num documento a que a Lusa teve acesso.

Reinado e Salsinha pretendiam “levar a cabo os actos que acabaram por praticar”, segundo o mesmo despacho.

“Talvez este caso demore a desvendar. Ou talvez o mistério fique para sempre, como os assassínios dos irmãos John e Robert Kennedy”, comentou uma fonte envolvida nos derradeiros contactos com Reinado.

Lusa/fim

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