sábado, março 01, 2008

Quem não investiga, não tem direito a falar" - CEMGFA Taur Matan Ruak

Díli, 29 Fev (Lusa) - O chefe do Estado-Maior-general das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak, afirmou hoje que "quem não investiga, não tem direito a falar", referindo-se ao chefe da missão da ONU no país.

Taur Matan Ruak referia-se a declarações que terão sido proferidas pelo representante especial do secretário-geral das Nações Unidas em Timor-Leste, Atul Khare, sobre um incidente no aeroporto internacional de Díli.

"Atul Khare ouviu uma parte. Devia ouvir a outra", afirmou Taur Matan Ruak em resposta à agência Lusa numa conferência de imprensa do Comando Conjunto da operação "Halibur" de captura do ex-tenente Gastão Salsinha.

Em causa está o incidente, noticiado pela Lusa, entre elementos da Polícia das Nações Unidas e militares das F-FDTL, quarta-feira.

Militares das F-FDTL retiraram à UNPol um elemento do antigo grupo de Alfredo Reinado que se tinha rendido no enclave de Oécussi, na parte oeste da Ilha de Timor, e que foi transportado para Díli num helicóptero ao serviço da Missão Integrada da ONU em Timor-Leste (UNMIT).

O episódio foi considerado "muito grave" pela missão internacional, segundo fontes ouvidas pela Lusa, e foi objecto de várias "reuniões de crise", em torno da preocupação com as garantias de segurança e legalidade dos suspeitos que se renderam ou poderão render à UNPol.

No entanto, nem as F-FDTL nem a UNMIT comentaram oficialmente o incidente durante três dias.

A situação foi ultrapassada com o próprio processo dos cinco elementos do antigo grupo de Alfredo Reinado, em que se inclui o prisioneiro que a UNPol trouxe de Oécussi.

Os cinco elementos, co-arguidos no processo em que o principal acusado era Alfredo Reinado, foram entregues quinta-feira à noite à UNPol pela Polícia Nacional (PNTL), segundo explica um comunicado emitido hoje pela UNMIT.

"A UNPol deteve formalmente os cinco elementos e apresentou-os ao Tribunal Distrital de Díli", acrescenta o comunicado, o primeiro da UNMIT na sequência do incidente de quarta-feira.

"O tribunal ordenou que os elementos ficassem durante a noite à guarda da UNPol e que fossem presentes ao tribunal de novo às 10:00 da manhã de hoje", afirmou a UNMIT.

"A PNTL e a UNPOl, assim como as F-FDTL e as Forças de Estabilização Internacionais (ISF), estão todos a desempenhar um papel nas operações para apreender as pessoas envolvidas nos ataques de Reinado e seus homens", afirmou Atul Khare no comunicado da UNMIT.

Atul Khare aplaude, de resto, "os esforços da PNTL e de todos os outros envolvidos que tornaram possível esta rendição pacífica à justiça".

Os cinco elementos (e mais dois co-arguidos que estavam na prisão de Becora) vão aguardar em liberdade o julgamento, marcado para 02 de Abril, depois de o juiz do processo ter hoje revogado a prisão preventiva que tinha imposto anteriormente, decidindo por uma medida de coacção mais leve, o termo de identidade e residência.

Falando sobre os resultados da operação "Halibur", o comandante-interino da PNTL, inspector Afonso de Jesus, renovou o apelo a Gastão Salsinha e seus homens "para se juntarem aos camaradas e amigos que já se encontram no campo de Aitarak Laran", em Díli.

O número oficial de peticionários acantonados em Díli é de 550, segundo divulgou hoje o porta-voz do Governo e secretário de Estado do Conselho de Ministros, Hermenegildo "Agio" Pereira.

Questionado sobre o tratamento a dar a Gastão Salsinha e a Kaer Susar, outro elemento do antigo grupo do major Reinado, Taur Matan Ruak deixou clara a distinção entre a operação "Halibur" e os processos judiciais que existem contra os dois fugitivos.

"Uma coisa são as mensagens dirigidas a Salsinha e os outros. Outra coisa é aquilo por que ele tem que responder perante a justiça. Isso é competência da justiça e não tenho que adiantar nada", afirmou o brigadeiro-general Ruak na conferência de imprensa.

"Não lhe peço que se renda. Peço-lhe que reconsidere a sua posição e coopere", explicou o general timorense.

Taur Matan Ruak declarou que "o Comando Conjunto só tem a agradecer aos peticionários acantonados".

"Foram magníficos, foram corajosos e estamos muito sensibilizados", frisou.

"Os outros, já não têm mais tempo a perder. E Timor também não", concluiu o CEMGFA timorense.

PRM
Lusa/Fim


NOTA DE RODAPÉ:

Apesar de não termos ficado esclarecidos sobre o incidente entre militares das FDTL e polícias da UNPOL, relativamente à situação de Gastão Salsinha e do seu grupo, o General Matan Ruak mostrou bem o sentido de Estado que tem.

A cada um sua responsabilidade.

Muito bem, General.

4 comentários:

  1. Pelos vistos, a situação de Timor leste revela uma falta de confiança entre as várias entidades existentes no país. E isto é muito mau, pois se entre as autoridades competentes existe o desentendimento e a falta de um comando único central, como pode o povo confiar nas promessas de paz e estabilidade?

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  2. Senhor General Matan Ruak,
    Estou de acordo que haja justiça e que as pessoas saibam distinguir entre o que é um acto isolado e um acto colectivo. Obvio que para Gastão Salsinha, não haja dúvidas que irá ser julgado segundo os seus crimes. Contudo, existe o grupo e todos aqueles que andaram a apoiar ou a suportar todas as barbaridades cometidas desde o ano de 2006. Qualé então a sua posição perante os crimes cometidos em grupos ou colectivamente por todos eles?

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  3. Lembre-se do provérbio, Senhor General Matan Ruak, " Chuva civil não molha militar" e " quem vai a guerra dá e leva. O Gastão Salsinha foi também militar, por isso,também sabe alguma coisa de militares. A justiça não pode ser aplicada por autoridades civis mas sim por um tribunal militar.

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  4. Psst... Psst...

    Não existem tribunais militares em Timor-Leste.

    Os militares das FDTL que estão presos na sequência de crimes cometidos durante a crise de 2006, foram condenados por um "tribunal civil" e cumprem pena na prisão de Becora.

    E nunca fugiram da Justiça.

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