segunda-feira, janeiro 14, 2008

O FRÁGIL PODER DOS COMPROMETIDOS

Blog Timor Lorosae Nação
Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2008
Klaudio Berek

VERDADE E RESPONSABILIDADE SÃO SEMPRE PREFERÍVEIS

Os últimos acontecimentos em Timor-Leste, relacionados com Alfredo Reinado, têm vindo a agitar os espíritos mais inconsoláveis e contrários à decisão do Presidente Ramos Horta ter indigitado Xanana Gusmão para formar governo e seguidamente ter empossado membros da AMP para governarem.

A decisão foi e pode continuar a ser discutível mas não deixa de ser constitucional. Pode gerar um certo desconforto, é certo, mas é constitucional por não constar na referida constituição, preto no branco, que as alianças de partidos devem ser constituídas antes das eleições e a essas se submeterem.
Os que defendem a constituição e nomeação do governo AMP devem condescender de todos os outros argumentos contestatários por isso. Nunca se viu tal em países democráticos e em Timor-Leste só se está a ver por não estar devidamente explicita a forma como a aliança ou alianças de partidos pode ser considerada para governar.

Foi uma esperteza saloia do PR Horta e seus conselheiros? Foi com toda a certeza. Uma atitude que de certeza foi pensada e configurada ainda antes das eleições? Foi com toda a certeza. Lembremos que nesse tempo o objectivo era impossibilitar a Fretilin de novamente formar governo.

Sabemos que mais incomodativo que a verdade é não se revelar a verdade e assumi-la. Se assim foi só há que assumir que o objectivo era afastar a Fretilin do Palácio do Governo de forma mais ou menos credível através de eleições. Todos o sabem ao fim e ao cabo.

Por isso não se compreende que não seja assumido pelos que actualmente detêm o poder em Timor.

A falta de transparência dá azo a muito mais confusão e se a cada um fossem atribuídas as suas responsabilidades e motivos das práticas das mesmas tudo seria visto com outros olhos pela sociedade timorense e a agitação e confrontos que pudessem existir no momento já estariam de todo esbatidos e a verdade seria aceite. Melhor ou pior mas seria aceite pacificamente.

A falta de coragem de Xanana e de Horta na revelação da verdade podem conduzir Timor para uma nova e repetitiva senda de violência, o que de todo não é desejável.

Reparemos no caso do General Eanes, em Portugal, com o 25 de Novembro, e testemunhemos como ele é respeitado. Mas conseguiu-o a ferro-e-fogo. Assumindo as suas práticas, as suas responsabilidades.

Em Timor-Leste, a falta de coragem dos líderes que fizeram o golpe de estado e que nunca tornaram as coisas claras foi e continua a ser notória. É impossível continuarmos a confiar em líderes destes. Que se escondem atrás de mentiras e de silêncios em vez de se orgulharem de terem feito “isto ou aquilo” porque consideraram ser o melhor modo de serem patriotas e conduzirem o país para a via democrática.

O caso Alfredo Reinado é flagrante. Mostra a preferência doentia de falsidade que o Presidente Horta e Xanana Gusmão, entre muitos mais, praticam, alapando-se por detrás do poder, que não os esconde das verdades ditas por quem os apoiou e cumpriu ordens suas, proporcionando-lhes que chegassem onde estão. Periclitantes, é certo, mas com poderes!

Alfredo Reinado cansou de ser bode expiatório de um golpe de estado que existiu mas nunca foi assumido pelos seus autores. Em vez disso marginaliza-se quem foi nas loas dos agora “poderosos” Xanana e Horta.

Alfredo Reinado está ferido na sua dignidade e isso é aquilo que de pior se pode fazer a um homem da sua estirpe.

Para evitar violência, Reinado envereda pelas acusações verdadeiras sobre as responsabilidades da “crise de 2006”. Acusa Xanana sem meias-palavras e deixa Horta nos limbos por enquanto. Quem não sabe que Alfredo está a dizer a verdade?

Não se trata de aqui enaltecer Alfredo Reinado mas sim de aquilatar da personalidade dos que julgávamos serem os melhores para Timor-Leste e que esses são os que deveriam conduzir o país à Justiça, Ordem e Progresso.

Todos pensámos que Horta e Xanana seriam as pessoas indicadas e que o contributo da Fretilin, na fiscalização do exercício do poder por ambos, nos traria as garantias de que seguiríamos por bom caminho, sem grandes escolhos.

Nada disso aconteceu, nada disso está a acontecer. Não sabemos ao certo aquilo que nos pode acontecer e para onde estamos a caminhar enquanto país.

As razões prendem-se com a falta de honestidade e de transparência de Horta e Xanana – porque com os outros podemos bem.

Para além dos inúmeros casos sociais que estão por resolver, em que o dos deslocados é o mais flagrante, este governo de Xanana e de Horta o que tem feito? Nada ou quase nada.

Descobriu-se que o que sabem melhor fazer é esconderem-se por detrás do poder, do seu estatuto presidencial e governamental, e pouco mais. Descobriu-se que são capazes de “governar” sentados sobre a miséria dos outros, dos governados. Indiferentes à dita miséria e à inépcia dos que com eles partilham o poder. Esses são os que estão a fazer com que a corrupção, o compadrio, os jogos de interesses ilegais se multipliquem pelo país.

É aqui que Alfredo Reinado pode fazer vingar a sua imagem e as suas declarações verdadeiras, cativando até quem se lhe opunha.

O apoio popular de que Reinado dispõe já não permite contrariarem o percurso que se lhe adivinha. Os homens em armas de que dispõe serão certamente multiplicados por espontâneos populares que aderirão à sua causa: a verdade e responsabilidade, seja isso o que vier a ser. Qualquer reacção para o hostilizar dará mau resultado. Muito mau resultado. A não ser que o liquidem.

Vamos ver o que acontece, sabendo nós que se não negociarem com Alfredo Reinado e não assumirem as suas responsabilidades muito mal poderá sobrar para os timorenses, através das revoltas incontidas que surgirão.

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