terça-feira, setembro 18, 2007

Timor-Leste: "Nunca houve um Estado falhado" - ex-chefe ONU

Lusa – 17 de Setembro de 2007, 07:33

Díli - Timor-Leste "nunca foi, em momento algum, um Estado falhado", afirmou hoje Sukehiro Hasegawa, ex-chefe da missão das Nações Unidas em funções na crise de 2006, em entrevista à Agência Lusa.

"Nunca se atingiu o ponto de Estado falhado", afirmou Sukehiro Hasegawa, que foi representante-especial do secretário-geral da ONU em Timor-Leste até 22 de Setembro de 2006.

Sukehiro Hasegawa admite, no entanto, que "Timor-Leste esteve à beira de cair dentro de uma 'armadilha de conflito'".

"Uma armadilha é isso mesmo: um buraco-negro de violência para onde se entra num processo de ataque mútuo e de onde é muito difícil sair", explicou Sukehiro Hasegawa à Lusa.
"Felizmente, os líderes timorenses compreenderam que ninguém sairia vitorioso de um conflito assim", acrescentou.

Na opinião de Sukehiro Hasegawa, "a operação de manutenção de paz deve continuar em Timor-Leste pelo menos até às próximas eleições, mesmo que não tão grande", considerando "importante uma estratégia clara de reconciliação e de consolidação do Estado".

"Foi por compreenderem o risco de cair na armadilha que os dirigentes timorenses pediram a ajuda internacional", afirmou.

O antigo chefe da missão internacional esteve em Timor-Leste uma semana acompanhando 16 alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Hosei, Japão, onde Sukehiro Hasegawa é professor do Departamento de Política Global.

Em entrevista à Lusa, Sukehiro Hasegawa explicou que "existia em Timor-Leste um conflito interno mas mesmo no auge da crise as estruturas do Estado funcionaram".

"Não existia desacordo sobre a necessidade de forças estrangeiras, apenas sobre o tempo de missão e os países de proveniência", afirmou Sukehiro Hasegawa.

"Eu não tinha forças minhas", recordou o ex-chefe da ONU, que não se encontrava no país no final de Abril de 2006, quando uma manifestação de peticionários das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste degenerou em violência.

"Eu só tinha um punhado de assessores militares e de instrutores, todos desarmados", acrescentou Sukehiro Hasegawa.

O ex-chefe de missão reconheceu que a redução dos efectivos da UNMISET foi precipitada e resultou de uma má avaliação da situação em Timor-Leste.

"O Reino Unido, a Austrália e os Estados Unidos da América insistiram que havia estabilidade aqui e que já não havia nenhuma ameaça" antes da crise de 2006, recordou Sukehiro Hasegawa.

"Posição diferente tinham Lisboa e Brasília, que pretendiam a continuação da missão", acrescentou.

Sukehiro Hasegawa chefiou as duas missões internacionais em Timor-Leste anteriores à UNMIT (UNMISET e UNOTIL), desde Julho de 2002 até Setembro de 2006.

PRM-Lusa/Fim

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