quinta-feira, agosto 09, 2007

Posse de Xanana Gusmão em Timor-Leste recebida com violência em dois distritos

Público, 09.08.2007

O novo primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, tomou ontem posse prometendo unificar o país numa cerimónia marcada pela ausência da Fretilin e por distúrbios em vários distritos - houve casas assaltadas e pelo menos uma pessoa foi ferida a tiro.

"Juro perante Deus, perante o povo e por minha honra cumprir com lealdade as funções que me são confiadas", disse o antigo Presidente timorense no discurso de investidura, todo pronunciado em português.

"Respeitarei a Constituição e as leis e consagrarei a minha energia à defesa e consolidação da independência e unidade nacional", jurou ainda, citado pelas agências, dois dias depois de ser indigitado numa decisão mal recebida pela Fretilin, o partido mais votado nas eleições do fim de Junho, com cerca de 30 por centro dos votos.

Apesar de todos os créditos e homenagens que o Presidente José Ramos-Horta fez ao seu líder, Mari Alkatiri, a Fretilin decidiu não comparecer sequer ao juramento.

O resultado das eleições arrastou um bloqueio institucional relacionado com a melhor interpretação da lei fundamental. A Constituição diz que o primeiro-ministro deve "ser designado pelo partido que recolheu mais votos ou pela aliança de partidos com maioria parlamentar".

O Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste criado pelo herói da resistência timorense durante a ocupação indonésia (1975-1999) fez uma aliança com três outros partidos minoritários para obter uma maioria dos 65 assentos do Parlamento e formar um governo. A Fretilin recusou admitir esta hipótese reivindicando o seu direito a governar. O chefe de Estado preferiu a aliança.

Ontem, ao mesmo tempo que Xanana Gusmão afirmava que o mandato que lhe foi atribuído "demonstra claramente a vontade de mudança expressa pelos timorenses", o principal partido timorense fez questão de faltar para mostrar o contrário, com a tensão dos últimos dois dias a assaltar os distritos de Viqueque e Baucau, de acordo com um relato da violência assinado pela Reuters.

Apoiantes da Fretilin atacaram pelo menos 15 casas em Viqueque, disse o chefe de operações da Polícia Nacional, Mateus Fernandes. As forças de segurança enfrentaram dificuldades para restaurar a ordem. "Tivemos muitas dificuldades devido ao escasso número de agentes de que dispomos", explicou, contactado por telefone a partir de Díli.

Em Baucau, um militante do partido maioritário foi ferido a tiro e a polícia deteve 45 pessoas.

A capital timorense, abalada por manifestações e desacatos por parte de militantes da Fretilin quando foi anunciada a escolha de Xanana não registou quaisquer incidentes.

O novo gabinete terá 12 ministros.
O chefe de Governo acumulará com as pastas da Defesa, Segurança e Recursos Naturais. José Luís Guterres, antigo chefe da diplomacia timorense, será vice-primeiro-ministro.

Os restantes membros do Executivo serão Zacarias Albano da Costa (Negócios Estrangeiros), Lúcia Lobato (Justiça), Mariano Lopes Sabino (Agricultura), João Gonçalves (Economia e Desenvolvimento), Emília Pires (Economia e Finanças), Gil da Costa Alves (Comércio e Indústria), João Câncio de Freitas (Educação) e Nelson Martins (Saúde). Ágio Pereira será secretário de Estado da Presidência do Conselho.

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