sexta-feira, junho 29, 2007

Alkatiri ataca Xanana Gusmão

Diário de Notícias - Quarta-feira, 27 de Junho de 2007
Albano Matos, com agências

A Luta principal é entre o CNRT e a Fretilin

Um violento ataque a Xanana Gusmão, desferido por Mari Alkatiri numa conferência de imprensa em Díli que acabou regada a champanhe, foi a nota mais dissonante da campanha para as eleições legislativas de sábado em Timor-Leste.

O ex-primeiro-ministro acusou o antigo Presidente de "unir para comandar ou dividir para reinar", defendendo: "Demiti-me para evitar um banho de sangue, para contribuir para a resolução da crise e dar oportunidade a outras pessoas para lhe pôr fim. Um ano depois, não se resolveu a crise, o problema dos peticionários não foi resolvido e nem tão pouco o de Alfredo Reinado e o problema dos deslocados continua por resolver."

Alkatiri criticou Xanana de "desonestidade" por usar uma sigla - CNRT - "enganadora", recuperando um acrónimo "que é de todo o povo".

No seu último comício de campanha, o ex-Presidente, que é agora candidato a primeiro-ministro, repetiu os objectivos a cumprir no caso de ganhar as eleições: governar "com transparência", "privilegiar a justiça, saúde e educação" e "combater a corrupção".

Apesar da subida de tom dos principais protagonistas da vida política timorense, não se registou qualquer incidente digno de registo, como receavam as forças policiais e os representantes das organizações internacionais chegados a Timor para observar a votação e o escrutínio. Os receios eram ainda maiores porque Díli ia acolher 12 comícios de diferentes partidos só nas últimas 36 horas de campanha.

De tal modo a situação parece longe de tempos recentes, de maior tensão, que o representante especial da ONU, o indiano Atul Khare, referiu que o acto eleitoral se anuncia "tranquilo". "Tudo parece agora sobre carris para umas eleições pacíficas. Estamos confiantes em que o escrutínio de sábado seja globalmente tranquilo", afirmou Khare.

Com a campanha a chegar ao fim, ficam claras as duas alternativas principais que se colocam aos 530 mil eleitores quando forem escolher os 65 deputados que comporão o próximo parlamento timorense. De um lado está o CNRT (Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste), partido recentemente fundado por Xanana Gusmão aproveitando a sigla do Conselho Nacional de Resistência Timorense, que agrupou a resistência nos últimos anos da ocupação indonésia. Do outro, a Fretilin, de Mari Alkatiri, que sempre ocupou o poder desde a independência, mas parece vir perdendo influência nos últimos meses.

O primeiro desaire eleitoral da Fretilin aconteceu em Maio quando o seu candidato, Francisco Guterres (Lu Olo), perdeu a eleição presidencial para José Ramos-Horta. Este apresentara-se como independente, mas ostentava nos comícios o apoio da Igreja Católica e do então Presidente, Xanana Gusmão, que participou em algumas acções de campanha. Ramos-Horta seria eleito por 69% dos votos.

Desta vez, foi o novo Presidente a dar um sinal de apoio ao seu antecessor (e provável sucessor, já que Ramos-Horta foi primeiro-ministro entre a demissão de Alkatiri e a sua própria candidatura). Um e outro foram alvos de Alkatiri na conferência de imprensa de Díli.

"O fracasso da governação que se seguiu [à dele] prova que a responsabilidade não deve recair apenas sobre a Fretilin", disse Alkatiri, referindo-se ao período em que Ramos-Horta chefiou o Governo. "A Fretilin não pode ser o único partido a sacrificar-se pelo país. Temos sido tolerantes. Mas, a continuarmos assim, estão criadas as condições para que a Fretilin possa vir a impugnar as eleições", disse.

Passando ao ataque, Alkatiri disse que o presidente da Fretilin, Lu Olo, proporia a expulsão dos elementos que abandonaram o partido para se juntarem à Fretilin-Mudança, organização que viria a derir ao CNRT, de Xanana Gusmão.

Se a campanha decorreu de forma pacífica - o representante da ONU salientou o respeito dos 14 partidos concorrentes pelo código de conduta que assinaram -, o mau tempo pode ainda trazer contrariedades. A distribuição dos 652 mil boletins de voto já começou nos 13 distritos, mas os responsáveis logísticos receiam que as fortes chuvas dos últimos dias possam vir a afectar o escrutínio. Com Agências

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