Jornal de Notícias, 5 de Abril de 2007
Foi à pedrada que decorreu boa parte do último dia de campanha para a eleição presidencial em Timor-Leste. Dos incidentes em Díli resultaram 19 feridos, tendo havido também confrontos em Metinaro. Na batalha dos comícios de encerramento, Francisco Guterres (Lu-Olo) e a FRETILIN, juntando cerca de seis mil pessoas, levaram vantagem sobre José Ramos Horta, que apenas reuniu 1700 apoiantes numa acção em que também discursou o presidente Xanana Gusmão.
Foi junto à embaixada da Austrália que ocorreram os incidentes de maior gravidade, quando atacantes não identificados produziram uma chuva de pedras sobre a caravana de apoio a Lu-Olo, mas o clima hostil foi constante ao longo do dia, com quatro outros candidatos a terem, também, paradas de apoiantes a deambular pelas ruas da capital. A acção das forças internacionais fez com que os ânimos serenassem de imediato, embora a tensão permaneça latente. Em Metinaro, 30 quilómetros a leste de Díli, o apedrejamento teve por alvo um grupo de apoiantes de Ramos-Horta.
A Páscoa será período de dupla reflexão, religiosa e política, estando o sufrágio agendado para segunda-feira. Lu-Olo, que preside ao Parlamento e foi comandante da guerrilha, insistiu na exaltação do passado e da resistência para quase proclamar antecipadamente a vitória. Depois de pedir "um minuto de silêncio por Nicolau Lobato e Konis Santana e por todos os que tombaram em defesa da pátria", o candidato caracterizou a FRETILIN como "um'tsunami'que pode liderar o país". Se a metáfora não é das mais felizes, seja pelo real significado ou pela conjuntura, a intenção era clara e mais o ficou ainda com a intervenção do ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri "Já temos a vitória garantida. O presidente Lu-Olo já é presidente da República".
Ramos-Horta, o principal adversário de Francisco Guterres na corrida eleitoral, usou uma retórica antagónica, apelando à pacificação e à reflexão "Peço ao povo de Timor-Leste que se concentre na reflexão e não nas eleições. Embora as eleições sejam vitais para o futuro do país, é mais importante a necessidade de nos unirmos e deixar o passado para trás".
No fecho da campanha, também o padre Martinho Gusmão, porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, esteve em foco, ao manifestar apoio a um dos candidatos, no caso o líder do Partido Democrático, Fernando Araújo ("Lasama"). Não houve queixas, e o porta-voz não viu problema em expressar uma "opinião pessoal".
Xanana quer usar fundo do petróleo
"Temos mil milhões de dólares num banco em Nova Iorque e temos pessoas a morrer em Timor-Leste", disse o presidente Xanana Gusmão, aludindo à necessidade de libertar os fundos do petróleo do Mar de Timor, quando a miséria alastra pelo jovem país. Xanana, que deixará agora a presidência mas prepara a manutenção na política activa, candidatando-se a primeiro-ministro por um novo partido, falava aos correspondentes em Díli da Imprensa indonésia, reconhece que "o povo não vê nenhuma luz no fundo do túnel", com milhares de cidadãos a viverem com menos do que um dólar por dia. Depois da aprovação unânime pelo Parlamento da legislação destinada a gerir os ganhos do petróleo, a Autoridade Bancária de Pagamentos abriu uma conta na Reserva Federal de Nova Iorque, apenas podendo ser movimentado, devido ao carácter obrigacionista, em 2010.
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