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Paulo Gorjão
24.2.07
[328] -- «As declarações de Ramos-Horta, ontem em Singapura, dizendo que conta com o apoio de Xanana parecem confirmar a ideia, que circula há algum tempo, de que o ainda Presidente se prepara para enfrentar os seus hoje arqui-inimigos da FRETILIN em dois tabuleiros -- o presidencial, através de Horta; e o parlamentar, através de um novo partido, que daria pelo curioso nome de CNRT e que ele próprio encabeçaria.
A escassas semanas do arranque eleitoral, estas notícias afiguraram-se positivas.
«Perigosa luta de galos», Adelino Gomes (PÚBLICO, 23.2.2007: 20).
Começo com duas notas laterais. A primeira para salientar que Ramos-Horta também fez questão de salientar que conta com o apoio importantíssimo dos dois bispos timorenses e, logo, da poderosa Igreja Católica timorense. A segunda para realçar, caso se confirme, a jogada de mestre de Xanana Gusmão que seria ir repescar a sigla CNRT, carregada de simbolismo político e histórico.
Sobre o essencial, ao contrário de Adelino Gomes, se o percebi correctamente, tenho sérias dúvidas de que a potencial entrada em cena de Xanana Gusmão no tabuleiro parlamentar seja uma boa notícia. É verdade que nada se faz sem audácia. Se Xanana Gusmão não se empenhar no combate parlamentar, em circunstâncias normais, a vitória da FRETILIN é garantida. Independentemente de quem seja o vencedor da contenda -- Xanana Gusmão ou a FRETILIN -- o que me preocupa é o day after. Numa disputa entre Xanana Gusmão e a FRETILIN é impossível não haver um derrotado claro e inequívoco. (Um derrotado político com peso sociológico, note-se.) Tendo em conta, como nota e bem Adelino Gomes, que estamos a falar de arqui-inimigos, os riscos de descontrolo político e militar parecem-me evidentes. Tenho sérias dúvidas que a FRETILIN -- ou que sectores da FRETILIN, pelo menos -- aceite pacificamente uma derrota contra Xanana Gusmão. E tenho sérias dúvidas, igualmente, que Xanana Gusmão consiga controlar todos os seus apoiantes em caso de derrota.
Sejamos claros. Pessoalmente tenho tendência para ver um copo meio-vazio onde outros tenderão a ver um copo meio-cheio. Dito isto, vejo com muito receio uma disputa parlamentar/legislativa entre Xanana Gusmão e a FRETILIN. Pior. Admito que nesta fase possa ser alarmista, mas como hipótese de trabalho numa contenda Xanana Gusmão/FRETILIN não afastaria do horizonte político um eventual cenário de golpe de Estado ou de guerra civil.
Espero -- espero mesmo -- estar profundamente enganado.
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