sexta-feira, novembro 10, 2006

Timor-Leste: Há uma crise profunda na actual liderança do país - Alkatiri

Lisboa, 09 Nov (LusaTV) - O ex-chefe do Governo timorense Mari Alkatiri reiterou hoje que há uma crise profunda na liderança actual do seu país na sequência do "golpe político-militar" de Maio último e enalteceu o papel da FRETILIN na resolução do conflito.

"Foi mesmo um golpe, embora haja quem não aceite e não foi concluído, não porque houve falta de vontade, mas pela reacção da FRETILIN de contenção e tolerância", afirmou Mari Alkatiri, que hoje chegou a Lisboa para tratamentos médicos na sequência de uma intervenção cirúrgica a que foi submetido em Fevereiro último.

O ex-primeiro-ministro considerou que, "apesar de a situação actual ser de olhar para a frente, há uma crise profunda na liderança nacional, cuja consequência é a quebra na autoridade do Estado e a hipotecada soberania" de Timor- Leste.

Confrontado com o balanço feito pelo actual primeiro- ministro timorense, José Ramos-Horta, relativamente aos 100 dias de governação, apontando a reconciliação e a tolerância como a receita para a crise, Mari Alkatiri disse: "ainda bem que ele tem essa percepção".

"Na verdade, foi necessário fazer uma contenção, controlar os militares do país e isso deve-se à FRETILIN, que salvou o país e não me venham dizer que foram outras instituições salvadoras da pátria", referiu, escusando comentar quais são essas instituições.

Relativamente ao relatório das Nações Unidas destinado a avaliar e analisar a situação em Timor-Leste na sequência do golpe militar e que pretendia apurar sobre a importação ilegal de armas durante a crise, este mereceu "críticas" por parte de Mari Alkatiri.

"Já critiquei várias vezes o relatório e procurei não tocar no meu assunto. Mas se o assunto mais importante era o meu, por ser ex-primeiro-ministro, nunca deveria ter sido deixado em branco, devia ter-se ido até ao fim", sublinhou.

Segundo o ex-chefe de Governo, "deixar em branco é querer participar na politização da própria justiça", deixando no ar um clima de "suspeição".

Primeiro chefe de Governo timorense depois da restauração da independência, a 20 de Maio de 2002, Alkatiri demitiu-se do cargo a 26 de Junho último, em plena crise político-militar.

A saída de Mari Alkatiri do Governo ocorreu 24 horas depois de ter sido ouvido pela segunda vez no Ministério Público sobre o seu alegado envolvimento na distribuição de armas a civis. Terça-feira última, o ex-primeiro-ministro foi novamente ouvido.

"Estão a fazer o seu trabalho, devemos contribuir para que a justiça se afirme numa instituição de cultura forte em Timor-Leste e estou pronto para contribuir sempre que quiserem voltar a chamar-me", disse.

Interrogado sobre a possibilidade de vir a candidatar- se ao cargo de primeiro-ministro nas próximas eleições, Alkatiri afirmou tratar-se de uma decisão do seu partido.

"Tem que se dar ao partido vida própria para poder sustentar o Governo, e não o contrário, o Governo a sustentar o partido. Se esse for o entendimento do partido, trabalharei para o partido a tempo inteiro", concluiu.

Depois da estada em Portugal, e antes de regressar a Timor-Leste no final do mês, Alkatiri deverá visitar Moçambique.

SMS-LusaTV/Fim

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