sexta-feira, novembro 10, 2006

Primeiros 100 dias de governo foram muito difíceis - Ramos-Horta

Díli, 09 Nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, José Ramos-Horta, reconheceu hoje, em entrevista à Lusa, que os primeiros 100 dias de governação f oram muito difíceis, porque não se cumpriram as expectativas de rápida estabiliz ação e de maior segurança que todos esperavam.

Empossado primeiro-ministro a 10 de Julho, José Ramos-Horta apresentou hoje no Parlamento Nacional um relatório sobre as medidas executadas e as que te nciona aplicar até à realização de eleições legislativas, em 2007, de que sairá o III Governo Constitucional.

"Estes primeiros 100 dias foram muito difíceis, porque as expectativas de todos nós era uma rápida estabilização da situação no plano da segurança e da tranquilidade das pessoas. Isto não foi possível conseguir-se tão rapidamente q uanto se queria", disse à Lusa.

A chegada das forças internacionais entre finais de Maio e princípios d e Junho, na sequência de um pedido de apoio das autoridades timorenses à Austrál ia, Malásia, Nova Zelândia e Portugal para pôr termo à violência, não impediu a "destruição de grande parte de alguns bairros de Díli".

"Ao mesmo tempo, tentou-se o diálogo e também fazer andar a economia. F oram, portanto, 100 dias muito difíceis", repetiu.

Para Ramos-Horta, os responsáveis pela violência são antigos membros da s milícias, que puseram o país a ferro e fogo em 1999.

"Posso dizer que, certamente, ninguém do actual 'establishment' polític o de Timor-Leste, ninguém ligado aos partidos políticos timorenses [está envolvi do nos actos de violência], mas certos elementos que em 1999 defendiam outras op ções para Timor-Leste, que não ficaram satisfeitos em 1999 e continuam a não est ar satisfeitos, tentam vingar-se, entre aspas, patrocinando alguma violência", a cusou.

Esses elementos não estão ligados à Indonésia, sublinhou.

"Trata-se de elementos que já em 1999 usavam da violência. São timorens es milícias que em 1999 fugiram para a Indonésia, mas que em 2000 e 2001 regress aram no quadro do repatriamento", precisou, referindo que nesse sentido foram id entificados alguns desses antigos milícias.

Relativamente aos entre 23 mil e 30 mil deslocados que ainda se encontr am nos cerca de 60 campos de acolhimentos espalhados por Díli, Ramos-Horta reafi rmou a política governamental, que garantiu ter o apoio da Presidência da Repúbl ica, Parlamento, sociedade civil e comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas.

"Não existem condições de insegurança que justifiquem a continuação dos deslocados", vincou, sublinhando que essa posição tem sido transmitida aos resp onsáveis dos campos de acolhimento.

"Temos transmitido muito claramente aos líderes dos campos que é altura do regresso às suas casas. Se, porventura, ainda não tenham confiança, o que sã o preocupações legítimas, nós já estamos a construir barracões temporários para onde se podem transferir por alguns meses, durante a época das chuvas", destacou .

Aos que optarem por regressar aos distritos do interior do país, o gove rno disponibilizará apoio para o transporte e assegurará a alimentação durante a lguns meses.

"Temos também prevista a reparação de casas. Temos um armazém cheio de equipamentos para distribuir a cada um, para arranjar a sua casa e temos também já identificadas áreas onde vamos construir bairros novos", acrescentou.

Para persuadir os deslocados a abandonarem os campos espalhados pela ca pital, a aposta assenta no fim da assistência humanitária.

"Vamos fechar a luz e a água. Até por razões de segurança, para evitar curto-circuitos", garantiu.


Além dos riscos de saúde pública, a aproximação da estação das chuvas, ao longo deste mês, levanta perigos resultantes do abastecimento provisório de e lectricidade.

"Avisámos os líderes dos campos que deverão assumir responsabilidades p elos seus actos. Se têm alguma agenda e não querem colaborar para o esvaziamento dos campos, eles têm que assumir a responsabilidade pelo que acontecer a cada p essoa dentro do campo", afirmou.

Quanto à troca de acusações entre a FRETILIN, o partido maioritário, e o Presidente da República, Xanana Gusmão, o primeiro-ministro disse preferir man ter-se à parte.

"Não quero entrar nesse debate. O Presidente é uma pessoa muito frontal e não quer que as verdades sejam escamoteadas. Então, seja que tema for, vindo da FRETILIN ou de outras instituições, ele acha que tem de se pronunciar enquant o chefe do Estado, para repor os factos. É quase um debate interminável", disse.

Até às eleições, a realizar até 20 de Maio de 2007, Ramos-Horta elegeu como prioridades a consolidação da segurança e estabilidade no país.

"As eleições avizinham-se e a sua realização está condicionada pela questão de segurança", frisou.

Para assegurar a reconciliação nacional, a aposta assenta no diálogo e, nesse sentido, o primeiro-ministro louvou a iniciativa de Xanana Gusmão de se e ncontrar com as chefias das forças armadas e com os quadros da Polícia Nacional, dizendo que hoje se juntaria ao Presidente da República num encontro conjunto c om os responsáveis daquelas duas instituições.

Estes encontros, salientou, enquadram-se no esforço de estabilização das forças de defesa e de segurança, fortemente afectadas com a crise político-mil itar de Abril passado.

Quanto ao papel que reserva para si nas eleições de 2007, José Ramos-Horta descarta uma corrida presidencial ou continuar como primeiro-ministro.

"Se for eu a decidir, digo que não estou minimamente interessado nem num nem noutro cargo. Durante toda esta crise, e mesmo antes da crise, não fiz senão diálogo e mais diálogo. Provoquei o diálogo entre o Presidente a liderança da FRETILIN, entre o Presidente e as forças armadas, dialoguei com os peticionário s, com os majores, com os jovens", asseverou.

"Tentei as mais variadas soluções para evitar a resignação de Mari Alkatiri [seu antecessor no cargo], dialogando com os que se lhe opõem, os organizadores das manifestações e apesar de tudo isso ainda pairavam dúvidas ou insinuações que Ramos-Horta estava interessado no lugar de primeiro-ministro", lamentou.

"Se puder evitar a politiquice timorense, eu prefiro, no dia 20 de Maio [de 2007] assistir à cerimónia de posse do novo Parlamento, do novo governo, cumprimentar e abraçar e dia 21 ou 22, sair de Timor uns meses: Talvez para Paris ou Roma, para uma licença sabática, para estudo e descanso. Talvez escrever um l ivro", acrescentou.

EL-Lusa/Fim

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4 comentários:

  1. Esta e nenhuma outra é a raíz donde brota um tirano; quando aparece pela primeira vez é um protector. – Platão

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  2. "Para Ramos-Horta, os responsáveis pela violência são antigos membros das milícias, que puseram o país a ferro e fogo em 1999."

    Afinal Ramos Horta faz as mesmas afirmações que Alkatiri fez quando ainda era 1º Ministro e que na altura quase iam provocando um incidente diplomático, devido à reacção do Presidente indonésio...

    Cadê a reacção agora?

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  3. O MNE que deu a estocada final para a saída do Alkatiri de PM, lançando a moda da cadeia de demissões por mensagem SMS; o que cozinhou com o Paulo Martins da PNTL a treta do Alkatiri saber da distribuição de armas, aconselhando-o a escrever ao PM e levantando ele próprio a alegação no decurso da violência de Maio, contra o seu compadre Rogério; o mesmo que no dia 28 de Abril falhou à reunião que marcara com os peticionários dando-lhes pretextos para atacarem o palácio do Governo; o co-actor com Railos e seu bando da encenação do Four Corners, para darem um pretexto ao Xanana tem a distinta lata de vir agora tentar-nos convencer que não queria o que conseguiu, i.e. USURPAR-LHE o lugar? Tenha paciência. Não nos tome por parvos.

    E quando diz agora: “Se for eu a decidir” está a gritar aos quatro ventos: “Apoiem-me! Eu serei o melhor PR para TL”. Claro que depois do Xanana qualquer calhau com dois olhos será sempre um melhor PR. Mas o Horta ou o Xanana serão sempre os PIORES PR que TL possa ter. Porque não estão ao serviço dos Timorenses mas de quem lhe quer roubar os recursos.

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  4. Em 23-06-2006 em entrevista ao Diário Digital a Ana Gomes fazia de porta-voz dos bispos, Xanana e Horta e dizia que em Timor: «Solução só com demissão de Alkatiri». E também – tal e qual como os seus amigos e correligionários preconizava - que era impensável que em Timor-Leste fosse o povo a escolher os seus governantes. Deixo o link dessa reveladora entrevista da Gomes e algumas das frases que revelam a cultura terrorista, incendiária e aldrabona que certos “democratas” tipo Gomes, Xanana, Horta e quejandos têm andado a espalhar sobre Timor e a sua crise:

    “A solução da «grave crise» em Timor-Leste tem de passar pela demissão do primeiro-ministro, disse ao Diário Digital a eurodeputada Ana Gomes, que responsabiliza Mari Alkatiri pela situação e adverte que se Xanana Gusmão abdicasse da presidência se instalaria o caos e a guerra civil no território, comprometendo a sua independência.
    «Alkatiri não tem condições para continuar» à frente do Governo e a crise «não será ultrapassada se ele não se demitir», afirmou (…)
    «Ninguém pode governar em Timor à margem da Igreja», afirmou, frisando o papel preponderante que esta tem na sociedade timorense. «Mais a mais um primeiro-ministro que é muçulmano, laico mas muçulmano», diz. (…)
    Para a eurodeputada, o anúncio de Xanana Gusmão na quinta-feira de que se resignaria foi motivado pelo desespero de ver o sofrimento do povo timorense (…) e para exercer uma pressão máxima sobre Alkatiri para que se demita, passo que se tem recusado insistentemente a dar, no que é apoiado pela FRETILIN.
    «Eu compreendo o presidente Xanana», afirma.
    «A FRETILIN, partido maioritário e vanguarda incontornável em Timor-Leste, não pode mais tolerar este impasse», considera Ana Gomes.
    Ana Gomes mostra-se ainda indignada com os que em Portugal insinuam que Alakatiri está do lado de Portugal e da língua portuguesa, enquanto que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ramos Horta, por exemplo, se «teria vendido aos interesses australianos».
    «É uma leitura estúpida e ignorante da realidade timorense», frisa, afirmando que «esta é sobretudo uma crise política criada pelos timorenses». (…)"

    http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=233441

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