domingo, junho 25, 2006

A demissão de Mari Alkatiri desbloqueia a actual situação, felizmente, mas não resolve a crise timorense. Quanto a isso não haja ilusões.

O epílogo -- ou talvez não... -- terá lugar nas próximas eleições legislativas, que ocorrerão em 2007 se se mantiver o actual calendário eleitoral.

Nessa altura, Xanana Gusmão terá de se empenhar pessoalmente na campanha eleitoral para as eleições legislativas, apoiando de forma clara, um partido, um programa e um candidato a Primeiro-Ministro.

Pura e simplesmente, Xanana Gusmão não pode deixar ganhar a FRETILIN.

Dito isto, os perigos são óbvios: Xanana Gusmão corre o risco de a FRETILIN voltar a ganhar, o que tornaria a sua situação pessoal e política muito complicada.

A procissão ainda vai no adro.»

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4 comentários:

  1. Deste blog português tomei a liberdade de trazer para aqui este post:
    http://puxapalavra.blogspot.com/

    TIMOR-LESTE ou a difícil criação de um Estado

    A longa mensagem dirigida por Xanana Gusmão ao “ao Povo Amado e Sofredor e aos Líderes e Membros da FRETILIN” em 22 do corrente mês, disponível aqui, é um documento que acentua a imagem de completa inadequação do herói da resistência timorense às suas funções de PR. Só lido. É um longo repositório de quezílias antigas que vêm desde a resistência, passa pelas emigrações, por conversas pessoais, palpites, ajustes de contas, frustrações, arrogância, acusações tremendas, e total desprezo pelo Estado de direito.
    Apela a que os
    “Espíritos e Antepassados, levantem-se para olhar por este povo! Ossos que estão espalhados por todos os cantos, ponham-se de pé, Sangue que foi vertido por todos os cantos, juntem-se de novo para ver aqueles que querem estragar o povo, que querem ver o povo sempre a sofrer, que querem ver o povo sempre a morrer.
    Mostrem-se, mostrem a vossa força! O vosso filho está aqui, que vos implora, para olharem por este Povo, para libertar este Povo do jugo dos sedentos de sangue."

    Segundo opinião de alguns Xanana Gusmão tendo sido o heróico chefe de guerrilha e objecto de todos os carinhos nunca conseguiu aceitar a situação de não ser o centro do poder e das atenções no novo regime democrático, que deixa poucos poderes ao PR. O despeito e a falta de estatura política estarão na base dos actuais desenvolvimentos num pano de fundo da grande fragilidade das estruturas de um Estado nascente e de poderosos interesses ligados ao petróleo e gás natural que esbarram na falta de "colaboração" do Governo.

    A mensagem referida não é apenas uma mensagem “inadequada”de alguém que perdeu o sentido de Estado. Parece ser o acto culminante de um processo golpista para o derrubamento do poder legalmente constituído.
    Não é possível, apenas com os dados que são públicos, conhecer os complexos meandros da crise. Nem avaliar os erros e imprudências do Governo. No entanto o que parece é que Xanana não tem capacidade para ser sequer o promotor e estratego do golpe. Parece antes alguém manipulado que aproveita a situação.
    Xanana não presta apoio institucional ao Governo que expulsa 600 militares insubordinados (erro de avaliação de forças por parte do Governo) e que comandados pelo major “australiano” exigem a demissão de Mari Alkatiri com ostensivo aplauso dos media australianos. Xanana pelo contrário junta-se a estes e a alguns opositores do Governo no apoio aos revoltosos. Simultaneamente surge o tiroteio e terror que lança a população da capital em fuga para a montanha, incendeia e destrói edifícios governamentais, ataca ou ameaça residências de membros do Governo incluindo a do Primeiro Ministro. Não se sabe quem nem a mando de quem. Xanana que faz? Dá apoio institucional ao Governo? Não, acusa-o de responsável pelo caos e recebe uma delegação duma manifestação que pede a cabeça do 1ºM e entre abraços e tiradas populistas pede-lhes para não incendiarem mais casas.
    A sua Mulher australiana repete semana após semana para os media do seu país que o 1ºM ou se demite ou é demitido.
    Depois fala-se de um esquadrão da morte armado pelo ex-ministro Rogério Lobato para matar os dirigentes desafectos ao 1ºM. Xanana confirma mas o chefe do dito esquadrão da morte não só não mata ninguém (felizmente) e a única coisa que faz é aparecer junto de Xanana a denunciar a verdadeira ou inventada tramóia, a receber os seus abraços e ficar na fotografia da exotérica e populista mensagem de Xanana.

    A cada atitude destemperada e golpista de Xanana assistimos, em entrevistas à Lusa e à comunicação social internacional, a um 1ºM calmo, a denunciar o golpe, a procurar entendimentos com o PR e a manter o respeito pela legalidade.
    O Governo pode ter muitas culpas no cartório, mas foi elogiado pelos países doadores e até, pasme-se pelo Banco Mundial, pela gestão honesta dos recursos doados e de, com a Noruega, ser o exemplo internacional da transparência nas negociações do petróleo.

    No Causa Nossa Ana Gomes tem uma opinião muito diferente desta. [Link].

    No blog Timor-online:
    “Exemplos de projectos concretos em Timor-Leste e abortados pelo golpe de EstadoEssa é que é essa o investimento estava a bom ritmo, havia um interesse crescente dos investidores estrangeiros no país. estava à beira de instalação de fábricas várias - indústria conserveira de peixe, de marisco, componentes electrónicos para diversos fins, entre outras actividades. Tudo isto junto traria milhares de postos de trabalho, imensa formação profissional e muita capacitação nacional. (o texto completo link)”

    Também em Timor-online
    “b) [Xanana Gusmão] Despiu-se definitivamente do seu papel de Chefe de Estado para se deixar enrolar na teia da animosidade, do ressaibo, do rancor, da aversão, do ódio, e do ressentimento de que resultou uma Declaração 'Presidencial' à Nação em que o Chefe do Estado de Timor-Leste se 'abstrai' da existência do Estado, sai da esfera do Estado, para se concentrar e para limitar-se à esfera do pessoal e do mesquinhoc) Apela emocionalmente ao fim da violência ... para se dirigir ao ‘Povo’ afirmando com voz trémula que “ganhámos a guerra!”. (texto completo link) .

    # posted by Raimundo Narciso @ 02:02

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  2. E doutro blog português vai outro texto;
    http://abrangente.blogspot.com/

    AI, TIMOR...
    Aconselhado por John Howard (Austrália), Yudhoyono (Indonésia), pelo
    bispo de Bacau, e possivelmente por Lisboa, Xanana Gusmão disse que já não
    se demite. Admira-me que Xanana não tenha cidadãos timorenses capazes de
    o aconselharem, quando se trata de avaliar uma situação de crise. Um político, ainda que seja um presidente, precisa sempre de bons conselheiros, por forma a avaliar as variáveis políticas sempre que há que tomar uma decisão. O que aconteceu com a ameaça de Xanana, dizendo que se demitia, se Mari Alkatiri não renunciasse ao cargo de primeiro-ministro, foi uma chantagem, um sinal de fraqueza, e de falta de traquejo político. Numa situação destas, Xanana não devia "ouvir" aqueles que defendem um "golpe palaciano", devia ir para o terreno, a Maubisse, Ermera, Ailéu... falar com o povo, e não apenas com os peticionistas que estão armados e acantonados numa região rica em café, e que parece ser uma região independente de Timor, onde quem manda são os "coroneis e jagunços".

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  3. E deste outro blog portugu^^es deixo o link aos comentários que são o mais interessante:

    http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2006/06/sobre-o-que-se-passa-em-timor.html#comments

    Sobre o que se passa em Timor
    Quinta-feira, Junho 22, 2006
    Tenho apenas duas perguntas:

    - Quem é que vendeu a Timor as armas que andaram a ser distribuidas aos civis?

    - A GNR foi reconvertida para guarda pretoriana?

    Publicado por irreflexões às 12:37:00 PM.

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  4. Passei um tempo muito curto em Timor e tenho seguido as notícias sobre a crise timorense que em tão curto espaço de tempo já foi intitulada de, primeiro etnica, depois de má governação, depois económica, depois politica.
    Até na designação a atribuir à CRISE não há consenso.
    Na altura da minha curta passagem por Timor fiquei com a sensação que o Estado era artificial e as relações institucionais não eram mais do que relações pessoais de favores, de dívidas e de ódios adiados do tempo da resistência.
    A minha sensação da altura torna-se hoje numa realidade dura e com graves custos para o desenvolvimento e soberania de Timor Leste senão vejamos:
    O normal é que quem ocupa altos cargos de Estado mantenha uma relação institucional e cuidada com a imprensa.
    Em Timor são de carácter permanente e quase diárias as intervenções de elementos dos vários orgãos de soberania na imprensa.
    Este exagero leva a que se tenha estabelecido uma cultura de não diálogo institucional, como é normal, transportando para fora do Estado os conflitos e desacordos o que leva à pessoalização das Instituições.
    Então deixam de existir a Presidência da República, o Governo e o Parlamento Nacional como orgãos de soberania e passam a ser o Xanana Gusmão, o Mari Alkatiri e o Lu-Olo.
    É esta cultura que levou o Estado Timorense à situação actual e por isso o mundo assiste a um discurso não do Presidente da República mas sim do guerrilheiro Xanana Gusmão em pleno braço de ferro não com o Primeiro Ministro mas sim com Alkatiri.
    Uma oposição que diz que vai entregar as "chaves" de orgãos de soberania a Xanana Gusmão, não o Presidente da República mas o lider em quem confiam.
    Um Procurador-Geral que afirma publicamente que matou pessoas, violadores da lei, desertores do exército a serem tratados como figuras de destaque nacional.
    É o caos institucional e o funcionamento à margem de uma lei que não conhecem e por isso é artificial.
    Timor vive o clima de um povo que é gerido não por orgãos de soberania mas sim por uma espécie de guerrilheiros em tempo de ajuste de contas.
    E o povo, o povo timorense em nome de quem todos dizem actuar está esquecido nos campos de refugiados.

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