terça-feira, maio 30, 2006

Saqueados edifícios do Ministério Justiça e Procuradoria-Geral

Díli, 30 Mai (Lusa) - Os gabinetes do Ministério da Justiça, da Procuradoria-Geral e da Direcção de Terras e Propriedades de Timor- Leste foram hoje alvo de saques e roubos, disse à Lusa o vice-ministro da Justiça timorense, Manuel Abrantes.

"É muito triste. Isto vai destruir anos de trabalho. Estamos a voltar à estaca zero", afirmou Manuel Abrantes, admitindo que, para já, é impossível confirmar os danos e determinar se os saques envolvem apenas equipamento e material.

"Para quem teve tanto ânimo, passou os momentos tão difíceis de começar este processo, ver isto assim é totalmente desmoralizador", disse Manuel Abrantes, contactado telefonicamente em Díli.

Um grupo de civis armados com catanas e outras armas brancas destruiu janelas e portas no edifício da Procuradoria-Geral e entrou no gabinete da Unidade de Crimes Graves, responsável pelas investigações de crimes cometidos em 1999.

Desconhece-se, para já, se os atacantes - empenhados no roubo de equipamento e material de escritório - terão ou não destruído ou roubado alguma da documentação associada ao período antes e depois do referendo de 1999 - em que morreram cerca de 1.500 timorenses.

Ainda assim, os documentos do processo foram deitados ao chão durante o ataque, que ocorreu na manhã de hoje (hora local) e que alguns funcionários timorenses no local tentaram, sem sucesso, impedir.

"Estava cheio de medo. Ainda tentei travar o ataque, mas não fui capaz", disse aos jornalistas Abílio Reis, funcionário da Procuradoria-Geral, explicando que os seguranças das Nações Unidas que estavam no local fugiram.

Manuel Abrantes admitiu à Lusa que ele próprio ainda não pode confirmar a situação nos locais dos saques.
"Não posso dizer o grau do impacto no futuro. Pode ser que se estejam a ficar pelos saques e vandalismo, mas há computadores e equipamento de escritório roubado e isso vai demorar a substituir", admitiu.
"A insegurança não me permite verificar tudo. Há receio de que possamos ser apanhados na confusão e nesta falta de lei e ordem que domina a cidade", frisou.

Amândio Benevides, provedor-adjunto de Direitos Humanos e Justiça, também contactado telefonicamente pela Lusa, lamentou os roubos e manifestou preocupação "pelo estado dos documentos".

Um funcionário do Ministério da Justiça timorense disse à Lusa que os indivíduos que atacaram o edifício, situado perto da Universidade de Díli, roubaram equipamento informático e material de escritório.

Os saques aos edifícios públicos confirmam o agravamento da situação de lei e ordem na capital timorense, onde hoje voltaram a verificar-se confrontos, roubos e saques em várias zonas da cidade, com mais casas e outros edifícios incendiados.
A segurança na capital tem vindo a melhorar em algumas zonas devido ao destacamento no terreno de militares australianos, que na segunda-feira viram ampliados os seus poderes para deter os indivíduos envolvidos na violência.

Timor-Leste vive os seus piores momentos de tensão, instabilidade e violência desde que se tornou independente, há quatro anos, na sequencia da eclosão, há mais de um mês, de uma crise político-militar que tem sido marcada por divisões no seio das Forças Armadas e da Polícia Nacional, e pelo mal-estar entre o Presidente da República, Xanana Gusmão, e o chefe do governo, Mari Alkatiri.

Vários dias de confrontos, principalmente em Díli e arredores, de militares contra militares, e entre estes e elementos do corpo da Polícia Nacional, envolvendo populares, provocaram já vários mortos e feridos e criaram uma situação de instabilidade e insegurança generalizadas no país.

Nos últimos dias, grupos de civis armados têm vindo a conduzir saques, roubos e uma campanha de destruição de propriedade privada e pública em vários pontos da cidade.

Face à deterioração da segurança no país, as autoridades timorenses solicitaram ajuda militar e policial à Austrália, Nova Zelândia, Malásia e Portugal para repor a ordem.
ASP.
Lusa/Fim

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