quarta-feira, novembro 19, 2008

Ramos-Horta assina acordo com "profissionais" da paz

Díli, 19 Nov (Lusa) - O Presidente da República de Timor-Leste assinou hoje em Díli um acordo com a organização de mediação suíça Humanitarian Dialogue (HD) para prosseguir os esforços de paz no país.

Designando a HD como “profissionais da paz”, José Ramos-Horta explicou que a necessidade de um programa de diálogo decorre da “fragilidade” da situação timorense.

“É minha opinião, e venho a dizer há muito, que, apesar de haver paz em Díli, de os distritos estarem calmos e as pessoas andarem sorridentes, não devemos acreditar que a paz foi consolidada”, salientou o chefe de Estado em declarações à imprensa.

“Não. A paz em Timor-Leste ainda é frágil. Ainda temos as Nações Unidas cá, as Forças de Estabilização Internacionais (ISF), a nossa polícia ainda não está totalmente organizada e a Força de Defesa (F-FDTL) tem que ser mais profissionalizada”, explicou José Ramos-Horta.

O Presidente da República salientou que o diálogo é necessário não tanto na liderança de topo mas “nos líderes emergentes, que daqui a cinco anos estarão à frente do país”.

“A minha preocupação não é tanto com a velha liderança. Pedi à HD para envolver o segundo e terceiro nível da liderança, que têm também diferenças entre eles”, afirmou José Ramos-Horta.

“Quando dizem que o problema de Timor-Leste é entre os líderes de 1975, deixem-me responder que se eu, José Ramos-Horta, (o primeiro-ministro) Xanana Gusmão, (o líder da Fretilin e da oposição) Mari Alkatiri e não sei quem mais dessa geração, morressemos ou partíssemos para outro planeta, os problemas não teriam sido resolvidos”, disse o chefe de Estado.

“Cada um de nós tem atrás uma lista de lealdades, de preconceitos que continuarão, a não ser que comecemos um diálogo que inclua estes novos líderes”, declarou ainda José Ramos-Horta.

A assinatura do memorando de entendimento entre a Presidência da República e a HD garante a continuação das iniciativas da organização suíça em Timor-Leste, após o envolvimento em 2007 e início de 2008 no processo de diálogo com o major fugitivo Alfredo Reinado.

“Espero que agora tenham mais sucesso”, comentou, rindo, o chefe de Estado, que foi ferido a tiro na sequência de um ataque do grupo de Alfredo Reinado à sua residência em Díli, a 11 de Fevereiro de 2008.

Alfredo Reinado e um dos elementos do seu grupo foram mortos pela segurança presidencial no ataque, pouco antes de um grupo liderado pelo ex-tenente Gastão Salsinha atacar a caravana onde seguia Xanana Gusmão.

A HD esteve envolvida, nos meses seguintes, nos esforços para convencer o grupo de Gastão Salsinha, fugido no oeste do país, a render-se por meios pacíficos.

Michael Vatikiotis, director regional da HD, afirmou à Agência Lusa após a cerimónia de assinatura que o ataque de 11 de Fevereiro “foi um choque e continua um mistério”.

“Nada fazia prever aquela acção e continuamos sem saber o que Alfredo Reinado ia fazer à residência do Presidente”, explicou o responsável da HD.

Como sublinhou José Ramos-Horta, a HD é uma organização não-governamental com experiência de mediação de conflitos em diferentes partes do globo, do Chade e República Centro-Africana à Birmânia e à província de Aceh, Indonésia.

Pelo acordo hoje assinado, a HD, que terá em permanência dois representantes em Timor-Leste, funcionará como secretariado para iniciativas incluídas na estratégia nacional de diálogo.


PRM.
Lusa/fim

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