segunda-feira, outubro 20, 2008

O MENINO QUE ROUBOU O SOL

Carlos Correia Santos

Imaginem um tempo sem luz. Um tempo de escuridão total. Breu eterno e por todos os lados. Assim estava o mundo. As trevas tinham tomado conta da terra. Uma interminável noite se arrastava pelos segundos, pelos minutos e pelas horas. O responsável por isso? Um menino!... Sim, um garoto que, por mera traquinagem, havia decidido apagar a luminosidade da vida. Pode até parecer absurdo... Pode até parecer loucura...


Mas Hélio tinha roubado o sol do céu. É verdade. Hélio roubou o sol do céu e o escondeu dentro de seu armário. A razão? Ele queria o Astro-Rei só para si. Não queria que mais ninguém o visse. Não. Não queria que mais ninguém sentisse seu calor. A força e magia solar seriam só suas. Só suas. Sozinho, Hélio ria e ria de sua façanha quando ouviu alguém bater a sua porta. Foi atender e deparou-se com uma estranha situação: uma mulher. À porta de sua casa havia uma mulher pálida como papel. Toda vestida de prateado. Uma dama que chorava e chorava. “Por favor, ajude-me”, foi pedindo ela.


O rapaz não soube como reagir. Acabou murmurando: “Mas ajudar em que? Ajudar como?”. Soluçando muito, a outra respondeu: “Meu amado... Quando essa escuridão toda começou, meu amado desapareceu... Por favor, ajude-me a encontrá-lo” O jovem ficou confuso. Imediatamente, pensou: o que tinha a ver com aquilo? Não tinha nada a ver com aquilo!... Ia fechar a porta com desinteresse e falta de tato, mas a senhora insistiu: “Ele trazia calor para tudo em volta... Ele enchia a existência de energia e cores... Era ele quem fazia as flores ficarem mais bonitas para mim... Era ele quem fazia meu horizonte ficar mais azul”.


Hélio começou a ficar tenso. Não era possível... Será que aquela mulher estava falando...? A dama prosseguiu: “Sem ele, o mundo vai morrer, entendes? Sem ele tudo vai secar. O amor se alimenta da luz que ele irradia... Sem amor não há vida... Por favor, ajude-me...”. Nosso pequeno amigo ficou comovido. Por fim, decidiu tomar a visitante pela mão e levou-a para o seu quarto. Lá chegando, tratou de abrir o armário para deixar o sol sair. A dama e o Astro-Rei primeiro se olharam com profunda emoção. Depois se abraçaram e foi como se todo planeta tremesse. Choraram estrelas. Muitas estrelas. O sol, agradecido, falou para o menino: “Obrigado por atender ao pedido de minha amada... No final das contas, foi bom isso tudo ter acontecido. Raramente podemos nos encontrar. O arrependimento transforma em luz qualquer ação ruim. Graças ao teu arrependimento... eu e minha amada Lua tivemos a chance de nos vermos de perto. Obrigado”.


Assim, de mãos dadas, o Sol e Lua saíram da casa de Hélio e caminharam lentamente para o firmamento. O curso natural das coisas se restabeleceu. Os dias e as noites voltaram a se alternar. Tudo no mundo recuperou sua beleza. O peito de Hélio passou a brilhar. E nunca mais se apagou.


*Carlos Correia Santos é poeta, contista e dramaturgo, autor selecionado no Edital Curta Criança do Ministério da Cultura e premiado pela Funarte na categoria teatro infanto-juvenil. Contatos: carloscorreia.santos@gmail.com / contista@amazon.com.br

Sem comentários:

Enviar um comentário