terça-feira, abril 08, 2008

Operação contra Salsinha entra em nova fase quando está iminente regresso do PR

Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa

Díli, 07 Abr (Lusa) - A operação de captura de Gastão Salsinha vai entrar numa nova fase quarta-feira, quando está iminente o regresso a Timor-leste do Presidente José Ramos-Horta, previsto para 17 de Abril.

O regresso do chefe de Estado a Timor-Leste não foi anunciado oficialmente, mas a Presidência da República, o Governo e as chefias das forças de segurança "trabalham com base na data indicativa de 17 de Abril", confirmou a Agência Lusa junto de diferentes fontes oficiais em Díli.

"Certamente, nós queremos ter o problema já resolvido antes do termo do estado de sítio", admitiu domingo o tenente-coronel Filomeno Paixão, primeiro comandante da operação "Halibur" de captura do grupo de Gastão Salsinha.

Filomeno Paixão respondia a uma questão da agência Lusa, no comando conjunto da "Halibur", sobre a relação entre a escalada da operação e o regresso a Díli de José Ramos-Horta, que se encontra em Darwin, Austrália, desde que foi ferido a tiro a 11 de Fevereiro.

O estado de sítio foi prorrogado por um período de 30 dias e termina a 23 de Abril.

Nos últimos dois dias, o Presidente da República interino, o primeiro-ministro e os comandantes da "Halibur" adiantaram a nova data-chave das operações no terreno: a partir de 09 de Abril, quarta-feira, as forças conjuntas têm ordem para avançar sobre o grupo de Salsinha, com autorização para disparar.

Além dos motivos inerentes ao objectivo principal da operação, de captura de suspeitos com mandados de captura, a "Halibur" já custou cerca de meio milhão de dólares (318 mil euros), segundo um documento a que a Lusa teve acesso.

Os gastos com a operação foram, aliás, referidos pelo presidente interino do Parlamento, Vicente Guterres, ao sublinhar perante as chefias a responsabilidade de produzir mais resultados em curto espaço de tempo.

"Não vai haver mais tolerância. Já acabou a brincadeira", afirmou, sábado passado, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, em entrevista à Lusa, sobre a urgência renovada das operações de captura.

O chefe de Governo, o chefe de Estado interino, Fernando "La Sama" de Araújo, e o presidente interino do Parlamento ouviram de Filomeno Paixão uma análise da situação no terreno, o balanço da "Halibur" e o novo conceito da operação.

A intervenção do tenente-coronel Paixão foi pontuada por explicações do brigadeiro-general Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior-general das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).

Os vários titulares presentes no comando conjunto deram também a sua opinião sobre a "Halibur", perante os oficiais superiores das F-FDTL e os comandantes distritais da Polícia Nacional.

"O tom geral foi a insistência na necessidade de capturar Salsinha", afirmou à Lusa um oficial que assistiu à sessão.

O presidente interino do Parlamento, em especial, foi incisivo ao estabelecer a captura de Gastão Salsinha como o patamar de sucesso da operação, na percepção pública, apesar dos êxitos já acumulados pela "Halibur", segundo o mesmo oficial ouvido pela Lusa.

Na exposição preparada pelo tenente-coronel Paixão, a que a Lusa teve acesso, é recordado que a "Halibur" conseguiu a rendição ou captura de cerca de um terço dos homens suspeitos pelos ataques contra José Ramos-Horta e Xanana Gusmão.

As forças conjuntas conseguiram também recuperar "material diverso", incluindo nove armas, três granadas de mão e uma granada de morteiro.

A crédito da "Halibur" está, por outro lado, o acantonamento controlado e pacífico de peticionários das Forças Armadas, que desde Janeiro de 2006 até Fevereiro de 2008 foram liderados por Gastão Salsinha.

A última contagem, domingo, indicava a presença de 698 peticionários e de outros elementos no campo de Aitarak Laran, em Díli.

Sobre as dificuldades da operação, a chefia do comando conjunto enumera "os períodos de chuva e consequente deterioração da rede viária", "a existência de civis que mantêm apoio às forças hostis" e a "falta de material de campanha" diverso.

Quanto ao apoio a Salsinha, tanto Xanana Gusmão, sábado passado, como Fernando "La Sama" de Araújo, hoje mesmo, declararam à Lusa que as populações das áreas onde se movimenta o grupo de Salsinha foram avisadas "para ficar em casa, ou podem ser atingidas".

A "Halibur" debate-se com outro tipo de fragilidades logísticas, que são as das próprias forças de segurança timorenses.

Na sua intervenção de domingo, o tenente-coronel Paixão referiu a "não existência de meios de transporte adequados ao terreno, que tem obrigado ao aluguer de viaturas civis".

Constata-se também "a não existência de 'stocks' (rações de combate, equipamento individual, visão nocturna, material sanitário, capa de chuva, etc)".

"A manutenção de viaturas (é) entregue, na sua totalidade, a empresas civis, resultando encargos significativos", informou também o comandante da "Halibur".

Sobre as "forças hostis", o comando conjunto identificou elementos "dispersos, mudando constantemente de localização, pernoitando em sítios diferentes" com o apoio popular.

O conceito de operação actual é "desarticular as bases de apoio" do grupo de Salsinha, as comunicações e os pontos de ligação dos subgrupos (pelo menos três), "o isolamento" e "o emprego de força militar coerciva para a captura das forças hostis".

Na nova fase, a iniciar a 09 de Abril, o comando conjunto gostaria de contar com apoio logístico das Forças de Estabilização Internacionais (ISF), sob comando australiano.

O tenente-coronel Paixão foi claro ao explicar a importância dos meios aéreos das ISF, para movimentar tropas e transportar eventuais feridos.

"É o que vamos pedir. Esperamos que as ISF aceitem", afirmou o oficial timorense na conferência de imprensa de domingo.

O comandante da "Halibur" olhou também para o futuro. Um dos problemas identificados é "a ausência de um sistema de informações militares (que) tem sido a principal limitação para o desenvolvimento das operações".

Lusa/fim

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