Bruxelas, 07 Abr (Lusa) - A antiga embaixadora de Portugal na Indonésia considerou hoje que a libertação dos acusados pela violência em Timor-Leste em 1999 se deveu à falta de empenho da comunidade internacional e das autoridades timorenses para que fosse feita justiça.
Sexta-feira, o líder da milícia integracionista Aitarak em 1999, Eurico Guterres, foi absolvido pelo Supremo Tribunal indonésio, devendo ser libertado nos próximos dias, ficando assim em liberdade todos os 18 acusados pela violência antes, durante e após o referendo pela independência em Timor-Leste.
"Não me espanta rigorosamente nada, infelizmente. Nunca ninguém se empenhou na altura para que fosse feita justiça, nem a comunidade internacional, nem as próprias autoridades timorenses", disse Ana Gomes à Agência Lusa em Bruxelas, onde actualmente é eurodeputada socialista.
Lembrando que na altura se "bateu" pela constituição de um tribunal internacional «ad-hoc» e mobilizou as embaixadas em Jacarta para que presenciassem sessões dos julgamentos, de modo a que a justiça indonésia sentisse que estava a ser observada pela comunidade internacional, Ana Gomes lamentou que "ninguém achou que fosse relevante" ser feita justiça, "supostamente em nome da reconciliação e de um processo político", quando a história já mostrou que "não há nenhum processo político saudável que não assente na justiça e combate à impunidade".
Quanto aos motivos evocados pelo juiz do Supremo Tribunal indonésio, Djoko Sarwoko, para a absolvição de Eurico Guterres - o facto de a formação da sua milícia em 1999 ter sido ordenada pelo então governador da província de Timor-Leste, ele próprio libertado em 2004 após decisão em recurso -, Ana Gomes comentou ser verdade que as suas responsabilidades foram de executor e que o próprio governador também cumpriu ordens de responsáveis máximos, que estão em Jacarta, e que nunca chegaram a ser acusados e a ir a tribunal.
Eurico Guterres foi condenado em 2002 a dez anos de prisão pelo envolvimento na violência contra apoiantes da independência timorense. Comandava a milícia Aitarak em Díli e a milícia de juventude indonésia PPI.
Guterres é suspeito de estar ligado ao massacre de Liquiçá, a 06 de Abril de 1999, e incitou, numa manifestação em Díli transmitida pela rádio e televisão, ao massacre que ocorreu em seguida na casa da família Carrascalão, a 17 de Abril.
A absolvição em sede de recurso de Eurico Guterres ocorre poucos dias antes da prevista divulgação do relatório final da Comissão Verdade e Amizade (KPP), criada entre Timor-Leste e a Indonésia para investigar os acontecimentos de 1999.
ACC/PRM.
Lusa/fim
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