Díli, 30 Mar (Lusa) - As "flutuações políticas" entre a comunidade internacional e as autoridades de Timor-Leste "não são preocupantes", afirmou hoje o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português.
João Gomes Cravinho, à chegada a Díli para uma visita oficial de dois dias, considerou "normais" aquilo a que chamou de "flutuações no diálogo político, não mais que isso".
O governante português respondia a uma questão sobre a crispação entre as autoridades timorenses e a Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT) e alguns sinais de fadiga dos parceiros e instituições internacionais.
O mal-estar, evidenciado sobretudo no sector de segurança e discutido em diferentes instâncias em Díli nas últimas semanas, acentuou-se com as acusações feitas à UNMIT e às Forças de Estabilização Internacionais (ISF, lideradas pela Austrália) em torno da resposta ao ataque contra o Presidente da República, a 11 de Fevereiro.
João Gomes Cravinho desvalorizou esses sinais, considerando, à sua chegada a Díli, que "não há nada que seja preocupante".
"Essas flutuações políticas também acontecem do lado dos doadores", acrescentou João Gomes Cravinho, recordando a importância dos memorandos assinados esta semana por Portugal com a Espanha e a Austrália para coordenar programas de desenvolvimento em Timor-Leste.
O governante português sublinhou que o encontro com os parceiros de desenvolvimento de Timor-Leste, que terminou sábado em Díli, "teve bastante sucesso".
O Governo timorense apresentou aos doadores um apelo no valor de 33,5 milhões de dólares (21,2 milhões de euros), a que apenas a Austrália deu de imediato uma resposta positiva.
João Gomes Cravinho chegou a Díli proveniente de Darwin, Austrália, onde o Presidente timorense continua a convalescer dos graves ferimentos sofridos a 11 de Fevereiro.
A visita de João Gomes Cravinho ao chefe de Estado timorense "foi muito boa" e permitiu constatar a rápida recuperação de José Ramos-Horta.
"O Presidente já se levanta e anda a pé. Ontem disse-me que tinha feito uma caminhada de meia hora. Tem algumas dores e está combalido mas recupera rapidamente", afirmou hoje João Gomes Cravinho.
"Ele está a olhar para o futuro e não para o passado e tem ideias muito claras sobre, por exemplo, como fazer a reintegração dos peticionários (das Forças Armadas) na sociedade", acrescentou João Gomes Cravinho.
"O Presidente Ramos-Horta está preocupado em manter a dinâmica entre as forças partidárias timorenses. O atentado teve também o resultado de concentrar as forças na estabilidade" do país, acrescentou João Gomes Cravinho.
"Não falámos de eleições antecipadas nem seria correcto fazê-lo", afirmou João Gomes Cravinho, explicando que Timor-Leste tem um Presidente interino, Fernando "La Sama" de Araújo.
O cenário das eleições antecipadas foi, no entanto, discutido no encontro entre João Gomes Cravinho e o líder da oposição, Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin.
"É uma exigência nossa que não vamos deixar de fazer", declarou Mari Alkatiri após o encontro.
"A melhor forma de chegar a essas eleições antecipadas é através de um acordo para que se possa transmitir para o eleitorado e o povo em geral uma mensagem clara de democracia", acrescentou Mari Alkatiri aos jornalistas.
Sobre a reunião, João Gomes Cravinho disse apenas que se tratou de "ouvir as interpretações quanto ao processo político".
"É reconfortante de ver que a nível dos principais representantes das maiores forças políticas timorenses há um consenso de tentar não permitir que os atentados interfiram com a construção do Estado", declarou João Gomes Cravinho.
"Por se tratar de um Estado jovem, essa construção exige participação de todos e consenso", explicou.
O consenso, segundo o governante português, "existe hoje muito mais do que noutras alturas do passado".
"Apreciamos a forma como o maior partido da oposição se tem associado aos trabalhos, sobretudo ao trabalho desencadeado pelo Presidente José Ramos-Horta antes do atentado" de 11 de Fevereiro.
"Portugal vê bem qualquer hipótese que esteja dentro da normalidade constitucional e democrática, seja eleições antecipadas ou a continuação da actual legislatura", respondeu João Gomes Cravinho quando questionado sobre a posição portuguesa.
João Gomes Cravinho definiu, sobre o assunto, a posição de Portugal como de "equanimidade".
"Não temos preferência por uma postura ou outra. A única preferência é pela normalidade constitucional, que não está em causa neste momento", concluiu João Gomes Cravinho.
PRM
Lusa/fim
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