Jornal Digital
Líder do Partido de Unidade Nacional
2008-03-04 09:01:37
Díli - Fernanda Borges líder do Partido de Unidade Nacional (PUN), com três lugares na assembleia, afirma que em Timor Leste a Justiça ainda não é encarada como uma prioridade, mas após os atentados o presidente, Ramos-Horta, deve «reflectir, analisar bem as coisas e nunca mais pôr a justiça para trás.»
Fernanda Borges líder do PUN considerou, em entrevista à PNN, que a actual crise vivida em Timor-Leste é o resultado, desde 2006, de «muitos falhanços em termos de cumprimento da lei e houve gente que deve estar, se não na cadeia, pelo menos no tribunal para responder por algumas coisas» e cita o exemplo do Major Alfredo Reinado que ao lado de «outros nomes» deveriam ter respondido à Justiça. «O juiz emitiu três mandados de captura e pediu para ele, Reinado, estar presente em tribunal, mas isso nunca aconteceu», lamenta a líder do PUN.
«Queremos ser uma democracia, queremos ser um Estado de direito, mas quando é hora de aplicar o estado de direito alguns políticos são reticentes, é por causa disto que houve estes acontecimentos» afirmou Fernanda Borges.
«Não é um segredo que o nosso Presidente da República (Ramos-Horta) também acha que a justiça não é essencial aqui, e o primeiro-ministro acha também que a justiça não é essencial neste caso. Outros políticos estavam até a considerar a amnistia para aqueles casos todos. É aqui que nós temos problemas, porque nós somos uma nação que começou a ser independente, é preciso que as regras e as leis sejam cumpridas» disse.
Porém, Fernanda Borges considera que a atitude de Ramos-Horta estava assente no princípio de manter a «estabilidade da nação», mas a «boa intenção» do PR não era partilhada pela outra parte. Com os acontecimentos do 11 de Fevereiro «espero que dê para reflectir e analisar bem as coisas e nunca mais pôr a justiça para trás.»
«O 11 de Fevereiro é derivado dos acontecimentos de 2006, sem dúvida nenhuma» afirma a líder do PUN e considera que a saída da actual crise deve assentar na «implementação do inquérito sobre a crise de 2006 através dos tribunais, continuar as investigações, e processá-las no tribunal.»
Para a mesma dirigente, o risco de mergulhar a actual crise num problema especialmente étnico, Loro Sae e Loro Moro, está afastado dado que realidade hoje é diferente de 2006, e defende que o povo continua a privilegiar as vias da justiça.
Fernanda Borges defende a criação de uma comissão de inquérito independente sobre os acontecimentos do 11 de Fevereiro, e esta não tem necessariamente de excluir as forças internacionais ou da ONU.
«Foram os GNR chegaram lá na cena do crime, e sabem o que aconteceu, ouviram as primeiras testemunhas. Vale a pena envolvê-los porque eles têm informações para dar. Não é do interesse da comunidade internacional, nem da GNR, nem da Unpol, nem da FSI, encobrir nada aqui» considerou.
«A pergunta que se faz agora é como é que Alfredo Reinado conseguiu vir de Ermera até Díli sem as forças internacionais saberem?» O «press-release da Unmit diz que foram contactados às seis e tal, quase às sete horas. Levaram menos de meia hora a chegar ao local dos incidentes. Agora, existem outras informações que duvidam disto e afirmam que a ONU chegou e não fez nada. Por causa destas contradições de informação, é importante uma investigação independente, clara, e saber mais detalhes sobre o sucedido» afirma a mesma dirigente que se interroga sobre a motivações e a escolha do dia pelos grupos de Reinado e Salsinha, a fim de «acabar com rumores» e considera «que é muito importante que o Salsinha, o Susser, e outros envolvidos nos acontecimentos, fiquem vivos.»
«É difícil para mim aceitar que o Alfredo Reinado foi matar o Presidente da República, quando foi o próprio Presidente quem mais tentou ajudar o Reinado», disse Fernanda Borges.
Segundo a mesma dirigente os chefes da bancada parlamentar foram «brifados imediatamente» após os atentados, mas sem grandes detalhes. «Queremos agora ver a cronologia dos acontecimentos. O parlamento já pediu várias vezes, mas o Governo ainda não apresentou. É necessário para se entender quem fez o quê e quando é que aquelas pessoas chegam e porque é que não se fez mais» disse. A mesma dirigente lamenta apenas ter conhecimento das situações «através dos media e às vezes a gente não sabe se é verdade ou não, se é propaganda ou se é mesmo o que aconteceu.»
A dirigente do PUN encara também a actual crise como um teste ao primeiro-ministro, Xanana Gusmão, o qual avaliará se «quer a democracia ou a estabilidade». Para Fernanda Borges a «estabilidade sem democracia é o uso da força, muita força. É aí que nós nos podemos tornar o que as pessoas chamam ‘iliberal democracy’, não é uma democracia liberal, não é uma democracia, é uma semi-ditadura com o aspecto democrático das instituições mas onde as instituições não funcionam democraticamente.»
Tiago Farinha
(c) PNN Portuguese News Network
muita teoria.
ResponderEliminarFernanda Borges continua a impressionar-me favoravelmente pelas suas opiniões independentes e pela visão esclarecida da problemática timorense.
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