Lisboa, 11 Fev (Lusa) - O Presidente timorense, José Ramos Horta, submetido a uma intervenção cirúrgica depois de ser baleado, e o primeiro-ministro Xanana Gusmão foram hoje alvo de dois atentados diferentes perpetrados em Díli.
O chefe de Estado timorense foi operado no hospital militar australiano em Díli, depois de ter sido atacado em sua casa, na Boulevard JF Kennedy, em circunstâncias ainda pouco claras.
O ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Zacarias da Costa, indicou que durante a operação os médicos tentaram extrair uma das duas balas que o atingiram: "uma nas costas e passou para o estômago, a outra passou de raspão".
O ataque de hoje contra a casa do presidente timorense resultou em dois mortos, um dos quais o major fugitivo Alfredo Reinado.
"É verdade, o major Alfredo Reinado morreu", confirmou à Lusa o tenente Carlos Correia, oficial de ligação do Subagrupamento Bravo da GNR em Díli que acrescentou que aguarda informações sobre o número total de mortos.
José Ramos-Horta foi atacado à porta de casa, cerca das 06:15 (21:15 em Lisboa), indicou o primeiro-ministro Xanana Gusmão.
Cerca das 07:15 (22:45 em Lisboa), o primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, foi atacado a caminho de Díli, mas não sofreu nenhum ferimento.
Segundo Xanana Gusmão, a coluna automóvel em que seguia de Balíbar, onde reside, para Díli ficou sob "fogo cerrado" e a viatura que seguia à frente despistou-se, desconhecendo-se se o condutor foi atingido.
A viatura de Xanana Gusmão também foi atingida, segundo contou o próprio primeiro-ministro, que referiu que conseguiram chegar a Díli apesar dos "pneus furados".
A família de Xanana Gusmão foi entretanto transportada para o Palácio do Governo, que se encontra guardado por efectivos das forças militares internacionais em serviço em Timor-Leste.
Xanana Gusmão afirmou que a condição do presidente de Timor-Leste é "estável" e classificou como "cobardes" os ataques ocorridos hoje em Díli.
"Foi um ataque cobarde contra o presidente da República, contra o primeiro-ministro e contra as instituições do Estado", declarou o chefe do governo timorense no Palácio do Governo em Díli.
De acordo com Zacarias da Costa, o presidente timorense ficou mais de uma hora no quarto da sua residência, em Díli, à espera de socorro, após o ataque de que foi alvo.
"As forças da ONU fecharam a estrada mas não o socorreram de imediato e ele ficou mais de uma hora deitado no seu quarto à espera que alguém o socorresse", acrescentou.
Segundo disse hoje à Lusa João Carrascalão, dirigente da União Democrática Timorense (UDT), os efectivos da GNR foram os primeiros a socorrer José Ramos-Horta.
Carrascalão criticou a acção das forças policiais da ONU e explicou que o Chefe de Estado timorense foi transferido por uma ambulância do hospital Guido Valadares, em Díli.
"O que é grave é que a UNPOL (Polícia das Nações Unidas) chegou ao local, ficou a 300 metros e não deu qualquer assistência ao Horta. Foi a GNR que foi lá socorrê-lo", disse.
Entretanto, o chefe da diplomacia timorense informou que um avião foi pedido à Austrália para transportar o Presidente timorense para Darwin, informou.
O embaixador de Portugal em Dilí, João Ramos Pinto, disse que o ataque ao Presidente Ramos Horta ocorreu quando este se preparava para inaugurar a reunião de ministros de Trabalho da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), que estava prevista realizar-se no Palácio presidencial e foi transferida para o Hotel Timor.
"O local da reunião foi transferido para o Hotel de Timor que está policiado por agentes das Nações Unidas e timorenses", disse o diplomata.
Segundo a mesma fonte as Nações Unidos apelaram à população para restringir os movimentos e para as famílias não saírem de casa.
O embaixador disse ainda que "aparentemente a situação em Dilí está calma".
Na sequência dos ataques contra o presidente e o primeiro-ministro timorenses, as forças das Nações Unidas em Timor-Leste foram colocadas em "estado de alerta máximo", disse a porta-voz da missão da ONU em Díli.
O ex-primeiro-ministro de Timor, Mari Alkatiri, pediu hoje responsabilidades à missão da ONU em Timor (UNMIT) e às Forças Internacionais de Estabilização pelos atentados de que foram alvo o Presidente e o primeiro-ministro do país.
Condenando o ataque, Mari Alkatiri afirmou à Lusa exigir "responsabilidades à UNMIT e às Forças de Estabilização Internacional".
O atentado, "parece ter sido tentativa de golpe de Estado porque afectou o Presidente da República e o primeiro-ministro na altura em que o presidente do Parlamento estava fora do país", considerou Mari Alkatiri.
Em Portugal, segundo fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Governo está a acompanhar "a par e passo" a situação do Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que foi hoje alvejado.
"O Governo está a acompanhar a par e passo", disse fonte do gabinete daquele ministério, acrescentando estar-se ainda "à espera de confirmações sobre o que aconteceu quer pela Embaixada quer pelo ministro Vieira da Silva" que está em Timor a propósito de uma reunião da CPLP.
Para já, adiantou ainda a mesma fonte, sabe-se apenas que "Ramos-Horta não corre perigo de vida".
LMP
Lusa/Fim
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