quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Portugal vê com bons olhos tentativa chinesa de contrabalançar hegemonia australiana - investigador

Lisboa, 21 Fev (Lusa) - A tentativa chinesa de contrabalançar a hegemonia australiana em Timor-Leste agrada a Portugal, considerou o investigador Moisés Silva Fernandes, que hoje lança em Lisboa um livro sobre as relações luso-chinesas, com Macau como pretexto.

"Acho que embora não exista nenhum entendimento formal entre Portugal e a China relativamente a Timor-Leste, Portugal vê com muito bons olhos - não o diz publicamente, mas de forma discreta -, toda esta tentativa chinesa de se aproximar de Timor-Leste para contrabalançar a hegemonia australiana", disse o investigador à Agência Lusa.

Em causa está a recente deslocação de uma importante delegação chinesa a Díli, com propostas de investimentos no valor de 100 milhões de dólares, a que se junta a construção do futuro edifício do Ministério dos negócios Estrangeiros, totalmente financiado por Pequim.

"Todas as iniciativas que a China tem tomado para investir, apesar de muita instabilidade política em Timor-Leste, isso é, em parte, uma resposta e uma tentativa de conter a crescente hegemonia australiana. E, tenho a certeza absoluta, Portugal vê isso com muito bons olhos", acentuou.

Na obra "Confluência de Interesses: Macau nas Relações Luso-Chinesas Contemporâneas 1945/2005", que será lançada hoje em Lisboa, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Moisés Silva Fernandes fala do relacionamento de Portugal com os dois regimes chineses: o de Chiang Kai-chek, que esteve no poder até 1949, e o da República Popular da China.



"Estávamos condicionados por uma grande questão que era Timor. Portugal tinha de ser muito cuidadoso, porque Timor foi ocupado durante a (Segunda) Guerra Mundial e havia muito receio aqui em Lisboa que Macau fosse também ocupado pelos japoneses e então isso levou a que as autoridades em Macau tivessem uma grande latitude para ceder a muitas das pressões que os japoneses iam fazendo, através dos regimes fantoches que tinham espalhado pela China", sustentou.

Todavia, a guerra civil entre nacionalistas e comunistas conduziu ao abandono dessa tese e comprova para o investigador o carácter "difícil e conflituoso" das relações entre Portugal e a China.

"Foi uma relação muito difícil, extremamente conflituosa, que levou quase ao uso da força", considerou.



"O regime de Mao fez duas sondagens, em 1949-50 e em 1954-55 junto do governo português (para estabelecimento de relações diplomáticas). Os ministérios dos Negócios Estrangeiros, do Ultramar e Colónias e o governo do território de Macau eram geralmente favoráveis ao reconhecimento da República Popular da China, o que significaria o corte com Taiwan. Todavia, (António de Oliveira) Salazar resistiu sempre a isso", assevera.

"Opunha-se, terminantemente, por convicções políticas e também porque achava que Portugal tinha de ter um entendimento com os Estados Unidos nessa questão", continuou.


Moisés Silva Fernandes é director do Instituto Confúcio, que resulta do acordo assinado em Pequim, a 31 de Janeiro de 2007, entre a Universidade de Lisboa, o Conselho Internacional de Língua Chinese (Hanban) e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin.

EL.
Lusa/Fim

1 comentário:

  1. Portugal tem um excelente relacionamento com a Ásia em geral, onde tem laços históricos muito antigos. O que Portugal quer é que Timor-Leste consiga a sua plena independência económica e política integrado no espaço Ásia-Pacífico e não seja um simples satélite australiano.

    O investimento da China em TL é positivo como será o de qualquer outro país, desde que respeite as necessidades, o património e a cultura dos timorenses.

    A presença da China, grande potência económica mundial, é essencial para desfazer o mito de que Timor está entalado entre dois gigantes, Austrália e Indonésia, e tem que andar a reboque desses dois países.

    Boas relações sim; reboque não.

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