sábado, fevereiro 16, 2008

Operação para capturar os últimos rebeldes

DN
15.02.08
LUÍS NAVES

Soldados australianos lançaram uma operação militar que visa a captura dos rebeldes armados do grupo de Alfredo Reinado, o major que liderou a tentativa de assassinato do Presidente Ramos-Horta, na segunda-feira. Reinado foi ontem enterrado, em Dili, e no seu funeral participaram centenas de jovens.

Estima-se que haja 30 rebeldes escondidos, incluindo o tenente Gastão Salsinha. Alegadamente, o antigo porta-voz dos chamados peticionários comandou o grupo que atacou o primeiro-ministro Xanana Gusmão, também no dia 11. Desde o duplo ataque que Timor está sob estado de sítio, com recolher obrigatório.

Ontem, tropas australianas montaram postos de controlo em torno de Dili e procuraram os rebeldes nas florestas próximas. Enquanto isso, forças da GNR protegiam o cortejo fúnebre de Reinado, que decorreu várias horas depois do previsto, sem que se registassem incidentes.

O corpo de Reinado foi velado na casa do pai e depois levado para a casa do próprio major, a meio quilómetro de distância. O desfile foi silencioso e nele participaram muitos jovens, exibindo faixas que glorificavam o seu "herói". Junto com um companheiro que foi também abatido, Reinado foi sepultado no quintal da sua casa, segundo um costume praticado por muitos timorenses. No relato da Lusa, a despedida da multidão foi extremamente emotiva.

O funeral mostrou a popularidade de Alfredo Reinado e que, no fundo, o ataque contra a liderança do país esconde problemas mais fundos. Temendo a desestabilização, o Governo australiano reforçou no início da semana o contingente militar. A força de estabilização conta agora com mil soldados australianos e 140 neo-zelandeses, apoiados por uma fragata da marinha e cem polícias.

O ministro dos Negócios Estrangeiros australiano já esteve em Dili e hoje está prevista a deslocação do primeiro-ministro Kevin Rudd. Em relação aos australianos, a maior incógnita é saber até que ponto o novo executivo trabalhista mudará de política em relação a Timor-Leste.

Do ponto de vista australiano, teme-se a "fragilidade do Estado" timorense e alguns peritos falam na existência de um "arco de instabilidade na Melanésia", que inclui as Fiji, Tonga e Papua, para justificar um envolvimento mais responsável.

Os trabalhistas, antes de chegarem ao poder, tinham uma perspectiva algo diferente dos conservadores em relação à acção externa da Austrália. Reconhecendo a existência de "interesses económicos" australianos, que influenciam a forma como os timorenses observam as políticas do vizinho, o novo Governo trabalhista admite repensar a dimensão do contingente militar e reforçar a polícia. O argumento é simples: como a força é quase só australiana, qualquer erro é atribuído a interesses nacionais. Daí a defesa de um comando da ONU e a participação de mais nações na força.

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