sexta-feira, janeiro 18, 2008

Médicos cubanos aguardam autorização para fugir para os Estados Unidos

Lusa / AO online
Internacional 2008-01-18 12:07

Três médicos cubanos esperam há quase três meses em Díli autorização para fugir para os Estados Unidos, num caso que o embaixador de Cuba considera "parte de um plano americano para sabotar a cooperação médica" de Havana.

"Continuamos à espera de uma autorização do Governo timorense para sair de Timor-Leste para um terceiro país", afirmou hoje o médico Reidén López à Agência Lusa.

Reidén López Carrillo, a mulher e um outro médico cubano esperam autorização que lhes permita seguir para os Estados Unidos da América, país a que pediram asilo a 5 de Novembro de 2007.

A embaixada dos Estados Unidos em Díli "já emitiu os documentos de viagem para os três", disse o médico cubano à Lusa.

Como todos os cooperantes cubanos em serviço em Timor-Leste no âmbito de um acordo bilateral, os três médicos tiveram à chegada que entregar os seus passaportes à embaixada de Cuba em Díli.

"Atravessámos condições muito difíceis", declarou o médico entrevistado pela Lusa.

"Ficámos sem dinheiro, tivemos que dormir no chão e comer mal durante dois meses", contou Reidén López Carrillo.

"A situação deles ficou muito frágil a partir do momento em que decidiram não regressar a Cuba e esconder-se algures em Díli", contou à Lusa uma das pessoas envolvidas na resolução do seu caso.

"Tudo podia acontecer-lhes a qualquer momento porque Timor-Leste não quer correr o risco de melindrar as relações com Cuba e comprometer o programa de cooperação médica", adiantou a mesma fonte.

A situação dos três médicos cubanos chegou a Washington e aos gabinetes de figuras influentes no Senado e no Departamento de Estado, disse à Lusa uma fonte diplomática.

O senador hispano-americano Mel Martinez telefonou ao chefe da diplomacia timorense, Zacarias da Costa, intercedendo a favor dos médicos em fuga, referiu a mesma fonte.

O caso ainda pendente dos três médicos surgiu na sequência da saída para os Estados Unidos, em Outubro passado, de outra médica cubana em serviço em Timor-Leste.

O embaixador cubano em Díli, Ramón Hernández Vásquez, ouvido hoje pela Lusa, desvalorizou o caso colocando-o no contexto de "três médicos no meio dos 227 que actualmente Cuba tem em Timor-Leste".

"São os médicos cubanos que, sendo mais de 80 por cento dos profissionais de saúde em Díli, fazem funcionar o sistema de saúde timorense", salientou o diplomata.

"Os médicos cubanos já prestaram, em dois anos, dois milhões de consultas e cerca de 10 mil timorenses salvaram-se de doenças fatais graças à intervenção dos nossos médicos", acrescentou também Ramón Hernández Vásquez.

Para o embaixador, a situação dos três médicos em Timor-Leste "não é um caso político, mas apenas um caso de emigração económica".

O diplomata resume tudo "numa conspiração de George W. Bush [presidente dos EUA] para sabotar a cooperação médica de Cuba".

"Se estes médicos fossem à representação norte-americana em Havana, seriam recusados, mas indo à embaixada em Díli todas as portas lhes são abertas", acusou ainda o embaixador de Cuba.
O embaixador salientou também que Cuba acolhe neste momento mais de 600 estudantes timorenses nas faculdades de Medicina e que a Faculdade de Medicina em Díli é apoiada por um corpo docente cubano.

Apesar de tudo, "sabemos de uma autorização verbal da embaixada para a nossa saída de Timor-Leste", segundo Reidén López Carrillo.

Não foi possível à Lusa confirmar, junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros timorense, a informação de uma fonte diplomática que dá conta "de uma autorização do ministério que carece apenas de um acordo final do primeiro-ministro", Xanana Gusmão, para que os três médicos cubanos possam deixar Timor-Leste.

Para os três médicos cubanos, a questão é simples, como explicou à Lusa Reidén López Carrillo: "Deixem-nos ir, é uma situação humanitária".

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