Lusa - 07 Novembro 2007, 14:04
Díli - O coronel português Fernando Reis, ex-chefe dos observadores militares internacionais em Timor-Leste, recordou hoje o massacre dos polícias em 2006 como "um amontoado de corpos a ser fuzilados".
"Foi tudo tiro a tiro e o primeiro disparo sobre a coluna foi para um alvo seleccionado", sublinhou o coronel Fernando Reis, no testemunho que prestou no âmbito do processo do massacre de oito polícias a 25 de Maio de 2006.
Elementos das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) dispararam sobre um coluna desarmada da Polícia Nacional (PNTL) sob escolta das Nações Unidas, em Caicoli, Díli.
O coronel Fernando Reis, que liderava a coluna dos PNTL empunhando uma bandeira da ONU, reafirmou hoje que tinha conseguido um cessar-fogo com o comando das F-FDTL, momentos antes do incidente.
O acordo, porém, não foi respeitado pelos militares.
À passagem da coluna pelo Ministério da Justiça, em Caicoli, o coronel Fernando Reis viu "um de três elementos fardados olhar alguém na coluna, levantar a arma e disparar".
O coronel Fernando Reis identificou hoje um dos doze arguidos do processo, um elemento das F-FDTL, como o autor do primeiro disparo.
"É o mais semelhante com aquele que iniciou o tiroteio", afirmou, depois de perguntar se o referido arguido "é major ou capitão".
"Não sou capaz de garantir que seja ele. Já lá vai um ano. Mas a minha memória, o que tenho cá dentro, são imagens que ficam", respondeu o coronel Fernando Reis ao juiz presidente, quando interrogado sobre a certeza da identificação.
"Fomos flagelados pelos militares", resumiu o oficial português, ouvido através de videoconferência entre as instalações da Universidade Aberta, em Lisboa, e as instalações do Banco Mundial, em Díli.
Ao longo do testemunho, o coronel português insistiu no acordo inequívoco para cessar-fogo, obtido junto do brigadeiro-general Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior das F-FDTL, que se encontrava em Caicoli com outros oficiais superiores.
"A palavra do brigadeiro faz fé", explicou o coronel Fernando Reis.
"Também acredito que nem o brigadeiro nem o coronel Lere deram ordem para abrir fogo", acrescentou Fernando Reis.
No seu testemunho no mesmo processo, o comandante das F-FDTL declarou que não houve acordo para cessar-fogo nessa manhã.
"Pode ser que o brigadeiro Ruak esteja baralhado ou esquecido", comentou hoje o coronel Fernando Reis.
"Os incidentes nesse dia foram muitos, e também na véspera, quando atacaram a sua residência e puseram em risco os seus filhos", recordou o oficial português para justificar a versão contraditória do brigadeiro-general Taur Matan Ruak.
"Mas ele e o meu adjunto sabem muito bem que ele aceitou um cessar-fogo para que fosse ao quartel-general da PNTL e retirasse de lá os polícias timorenses e internacionais", frisou o coronel português.
O coronel Fernando Reis tinha como assistente o tenente-coronel australiano David Mann.
Após o tiroteio, o coronel Fernando Reis regressou às instalações onde se encontrava o comando da F-FDTL.
"O brigadeiro Ruak estava muito consternado", recordou o oficial português.
Os três militares que tinham disparado sobre a coluna de polícias foram chamados ao local.
"O brigadeiro Ruak disse-lhes que nunca deviam ter aberto fogo contra homens desarmados".
"A nós, disse-nos que podíamos levá-los connosco, o que não aconteceu porque não seria bom levar os autores dos disparos para as mesmas instalações onde estavam os sobreviventes", explicou o coronel Fernando Reis.
"Eu confiava inteiramente no brigadeiro Ruak para que ele apresentasse os três militares quando fosse necessário comparecer perante a justiça", adiantou também o oficial português.
"Ficaram à guarda dele e ele sabia quem eram", concluiu Fernando Reis.
O testemunho do coronel Fernando Reis custou 1.200 dólares (816 euros), afirmou à Agência Lusa fonte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que pagou a transmissão.
O julgamento dos doze arguidos tem quinta-feira as alegações finais.
PRM-Lusa/fim
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