sábado, novembro 17, 2007

Carências à Portuguesa no Superlativo

Diário de Notícias, 16/11/07
A. Perez Metelo

Há coisas que é preciso viver para poder entender. A relação actual dos timorenses com Portugal nutre-se muito mais da reinvenção do passado do que de cooperação empenhada no presente. Na memória dos mais velhos, a recordação idealizada do tempo dos portugueses, um tempo lento e manso, sem o frenesim do desenvolvimento e sem a opressão colonial dos trabalhos forçados em brandes plantações, ressurge como uma época dourada por oposição aos desmandos e à violência desatada da tropa de ocupação indonésia.

Os jovens estão a milhas desta nostalgia, criados num outro cadinho cultural. Mas há usos e costumes, que perduram, na relação com as leis, na fé católica, porventura, pioraram, até, sob a influência javanesa, na ética do trabalho. Se as palavras transportam um peso próprio, então tem consequência a palavra “desenrascar”, em tétum, significar “resolver”, em português. É o retrato de um estilo de vida e de trabalho, que hoje já não chega...

Timor-Leste criou um Fundo Estratégico Petrolífero, considerado o 3º melhor do mundo, em estruturação, transparência e boa governança. Seguiu o exemplo do nº 1, o congénere norueguês, e terá amealhado, até ao fim deste ano, mais de dois mil milhões de dólares, o equivalente ao PIB de cinco anos. Há regras claras de financiamento do Estado a partir dele. Foi aprovado um Plano de Desenvolvimento Nacional com mais de 400 projectos para uma década. Só que pouco depois rebentou de novo a violência no país. E não tem havido capacidade para transformar o capital aforrado em investimento, trabalho, progresso de vida para a população. Falta de capacidade, dizem. Não chega saber desenrascar, à portuguesa...

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