Lusa - 18 de Outubro de 2007, 11:25
Díli - A formação da família e dos jovens é a prioridade da Igreja católica em Timor-Leste, onde "a actual geração não teve berço", afirmou o bispo de Baucau em entrevista à Agência Lusa.
"Se falarmos de coisas que o berço dá e só a tumba tira, aqui não houve berço", declarou Basílio do Nascimento à Lusa.
"As crianças foram crescendo por elas próprias e por isso, embora não concorde com as violências que acontecem, relativizo e dou um desconto porque ninguém dá o que não tem", explicou o bispo de Baucau.
"A geração intermédia para a transição entre os valores da educação portuguesa e os valores da educação indonésia não existiu", acrescentou o bispo.
"Essa geração, ou foi morta ou está fora. Houve um hiato que explica a desconexão na estrutura humana" timorense, segundo Basílio do Nascimento.
"Esta geração aprendeu a luta, a sacanice de tentar ser esperto e malandro para escapar à morte ou para se vingar do opressor", resumiu o responsável da segunda diocese do país.
Basílio do Nascimento referiu que a educação dos jovens é o campo de trabalho da Igreja como antes da independência "a pastoral era a colaboração com a resistência".
"A Igreja era uma força de oposição e como tal foi valorizada fundamentalmente neste aspecto político", recordou o bispo.
"Do ponto de vista da conversão, porém, as coisas foram coladas a cuspo", acrescentou.
"Hoje em dia, a realidade vai-nos mostrando que, daquele número extraordinário de 97 por cento que qualifica a catolicidade do Estado timorense, se calhar católicos e de prática católica não chegarão a metade", declarou o bispo de Baucau.
Basílio do Nascimento admitiu também que a Igreja timorense aceitou a perda de influência política após a independência.
"A Igreja julgava ter alguma influência sobre os políticos porque a maior parte deles foi formada à sombra de vários membros da igreja, mesmo os mais novos", recordou o bispo, dando o exemplo de dois dirigentes do Partido Democrático, Mariano Sabino, actual ministro da Agricultura, e Fernando "La Sama" de Araújo, presidente do Parlamento.
"Foram os padres mais jovens que os coordenaram durante a ocupação e na antiga legislatura estes padres continuaram a ter influência sobre estas ovelhas", analisou Basílio do Nascimento.
"Hoje, felizmente, estas ovelhas foram crescendo. Algumas estão a tresmalhar-se", comentou, rindo.
"Tomámos consciência de que tentar funcionar segundo os mesmos esquemas não resulta e interrogamo-nos sobre o caminho que devemos encontrar".
"Vamos estar atentos a tudo o que vai ser feito" pelo novo governo, afirmou Basílio do Nascimento sobre a análise do início da legislatura.
"Naquilo que de bom for feito, bateremos palmas com todas as energias. Naquilo que seja contra a doutrina e os princípios da Igreja, terá evidentemente a nossa discordância e oposição", sublinhou o bispo de Baucau.
PRM-Lusa/fim
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