terça-feira, outubro 30, 2007

Timor-Leste: Coronel português vai depor sobre massacre de polícias

Lusa - 29 de Outubro de 2007, 06:58

Díli - O coronel português Fernando Reis, ex-chefe dos observadores militares internacionais em Timor-Leste, vai ser inquirido por videoconferência sobre o massacre de oito polícias em Díli, em Maio de 2006, foi hoje anunciado.

O julgamento, a decorrer no Tribunal de Recurso em Díli, foi hoje adiado para o dia 07 de Novembro, de forma a permitir que o oficial português, a residir em Portugal, preste esclarecimentos sobre o tiroteio de 25 de Maio de 2006.

"O depoimento do coronel Reis poderá ser relevante para descobrir a verdade material e boa decisão da causa, na medida em que foi uma das pessoas que estabeleceu contacto com as Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste no sentido de colocar fim ao tiroteio de 25 de Maio", explicou o presidente do colectivo, o juiz Ivo Rosa.

Oito polícias morreram em Caicoli, Díli, quando elementos das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) dispararam sobre uma coluna da Polícia Nacional (PNTL), desarmada e sob escolta das Nações Unidas.

À frente da coluna, empunhando uma bandeira azul das Nações Unidas, seguia o coronel Fernando Reis, que era também o conselheiro militar do representante-especial do secretário-geral da ONU, Sukehiro Hasegawa.

O oficial português tinha, pouco antes, contactado com os comandantes das F-FDTL em Caicoli, para garantir a evacuação do quartel-general da PNTL.

"Houve conversações e o brigadeiro-general Taur Matan Ruak aceitou o cessar-fogo" entre F-FDTL e PNTL, declarou quinta-feira à Lusa o coronel Fernando Reis.

"Também estou convencido de que o brigadeiro-general Ruak não deu ordem de fogo", sublinhou o militar português, referindo-se ao chefe do Estado-Maior das F-FDTL.

O colectivo de juízes ouviu hoje a última testemunha, um dos oficiais da PNTL que sobreviveu ao tiroteio e que esteve internado oito meses num hospital de Darwin, Austrália, para tratamento dos ferimentos provocados por seis balas.

O sobrevivente declarou ter visto militares das F-FDTL disparar sobre colegas da PNTL que estavam feridos por terra, gritando "matem os polícias porque são traidores".

A defesa prescindiu hoje da reconstituição dos factos e da inspecção ao local do crime, após o juiz Ivo Rosa ter explicado aos advogados que essa diligência nada acrescentaria àquilo que é consensual após a inquirição de quase 120 testemunhas.

Foi também retirado o pedido para o exame balístico, já que as armas usadas no tiroteio de 25 de Maio nunca foram apreendidas e em nada revelariam, mais de um ano depois, sobre a autoria dos disparos.

O procurador Bernardo Fernandes informou o tribunal que "é desconhecido onde se encontram as balas retiradas dos cadáveres (dos polícias) para que se permitisse o seu exame".

A inquirição do coronel Fernando Reis por videoconferência terá lugar nas instalações do Banco Mundial, por inexistência de meios técnicos no Tribunal de Recurso.

PRM-Lusa/Fim

1 comentário:

  1. Quero agradecer ao Sr. coronel Reis a sua disponibilidade para depor, contribuindo assim para que se faça justiça em Timor-Leste.

    É de portugueses assim, como o Sr. coronel, o Sr. juíz Ivo Rosa e outros, que Timor precisa: corajosos e fiéis aos seus princípios e aos valores que se propuseram defender.

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