sexta-feira, julho 27, 2007

Timor-Leste: «Reinado não compreendeu que a crise acabou"», ex-deputado Leandro Isaac

Expresso, 22 JUL 07

Díli, 22 Jul (Lusa) - O ex-deputado Leandro Isaac, companheiro de cerco e de fuga de Alfredo Reinado, afirmou em entrevista à agência Lusa que o major fugitivo "não compreendeu que a crise entre 'lorosae' e 'loromonu' acabou".

"A realidade ultrapassou Alfredo", acusou Leandro Isaac, explicando a sua desilusão com o major Reinado, a quem acusa de ser "um menino mimado sem capacidade militar nem de liderança".

"Ele tardou a compreender que a crise entre 'lorosae' e 'loromonu' passou. Hoje não há nenhum [militar] F-FDTL que vá a Same ou Maliana (oeste) para matar mais pessoas", explicou Leandro Isaac.

"A crise acabou com estas eleições", insistiu o ex-deputado independente, referindo-se aos confrontos de há um ano entre timorenses originários dos distritos ocidentais e orientais do país.

"O apoio que Alfredo tinha há seis meses caiu drasticamente", afirmou, e a violência de rua a que se assistiu em Díli em Março "não seria possível hoje".

Numa extensa entrevista realizada a semana passada na sua residência, nos arredores de Díli, Leandro Isaac passou em revista os quatro meses que passou com Alfredo Reinado nas montanhas do sul do país e as razões que o levaram a juntar-se ao militar no cerco de Same e, recentemente, a abandoná-lo.

Leandro Isaac e um dos homens de confiança de Alfredo Reinado, Felisberto Garcia, regressaram do mato para Díli e entregaram as suas armas, há duas semanas, a José Ramos-Horta, na Presidência da República.

Leandro Isaac admite que mudou a sua opinião sobre José Ramos-Horta, que tem mostrado "um coração bom de mais" no processo negocial com Alfredo Reinado e os peticionários.

Na altura do assalto a Same pelas Forças de Estabilização Internacionais (ISF), a 03 de Março, Leandro Isaac referia-se ao então primeiro-ministro como "prémio Nobel da guerra".

"É verdade, fui muito duro". Hoje, o ex-deputado afirma que o chefe de Estado já foi longe demais nas oportunidades "extraordinárias" de diálogo e abertura, incluindo pernoitar em Alas "sob escolta armada, com bala na câmara, do grupo de Reinado".

"Ele não pensa, o Alfredo. As fases e as oportunidades, ele não aproveitou", acusa o ex-deputado.

Leandro Isaac é referido no relatório da Comissão Especial Independente de Inquérito à crise de há um ano como tendo "algum envolvimento" no ataque à casa do chefe do Estado-Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak.

A Comissão recomendou a investigação de uma eventual responsabilidade criminal de Leandro Isaac nesse episódio, num dos dias em que foi visto com uma espingarda automática Steyr.

Leandro Isaac, na entrevista à Lusa, acusou o então comandante-geral-adjunto da Polícia Nacional, Abílio Mesquita, de "perder o controlo" e de liderar o ataque à casa de Taur Matan Ruak, a 24 de Maio de 2006.

"Acusam-me de atacar a casa quando fui eu que protegi a residência e garanti a saída das filhas do Ruak no início dos problemas, que não tinham culpa nenhuma de nada".

Leandro Isaac manteve nesses dias contacto "permanente" por telemóvel com Taur Matan Ruak - com quem tem laços familiares indirectos - e com José Ramos-Horta, então chefe da diplomacia timorense.

"A casa só foi saqueada quando os polícias que a guardavam por ordem do comandante da PNTL foram expulsos de lá por soldados australianos, que depois também foram embora", contou Leandro Isaac.

"Eu tinha ido a Ainaro visitar a minha mãe".

"Na altura, era tudo legal", comentou o ex-deputado sobre o confronto entre o grupo de Alfredo Reinado e as F-FDTL em Fatuahi, que provocou vários mortos.

"Nós queríamos livra-nos dessa situação. A Polícia estava toda desmantelada. Depois, era uma guerra civil que poderia acontecer naquele momento. Mas tudo era provocado", acusou Leandro Isaac.
PRM.
Lusa/fim.

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