segunda-feira, junho 04, 2007

Timor-Leste: Austrália praticou "extorsão" no Mar de Timor, diz autor australiano

Lusa - 02-06-2007 14:26

Díli - As negociações e a partilha de recursos impostos pela Austrália a Timor-Leste foram equivalentes a extorsão e intimidação, acusa um autor australiano no seu último livro sobre as negociações do Tratado do Mar de Timor.

"Penso que houve muita intimidação" por parte da Austrália durante as negociações sobre a partilha de recursos do Mar de Timor, afirmou o autor Paul Cleary à rádio australiana ABC.

Paul Cleary, um ex-jornalista do Sydney Morning Herald que viria a ser nomeado pelo Banco Mundial para conselheiro do primeiro-ministro timorense, lançou esta semana o livro "Shakedown", um termo de gíria para extorsão.

Na entrevista à ABC, Cleary acusa o chefe da diplomacia australiano, Alexander Downer, de lançar à mesa de negociações que a Austrália "é um país rico e pode adiar esta questão por 30, 40 ou 50 anos".

Downer, segundo Paul Cleary, chegou a ameaçar "cortar mesmo a Timor-Leste os recursos económicos vitais para interromper o desenvolvimento do Mar de Timor, a menos que Timor-Leste assinasse a partilha de 80 por cento dos seus direitos no maior campo petrolífero da área".

Paul Cleary refere-se ao campo Greater Sunrise, o centro da maior discórdia entre Díli e Camberra, cujo acordo de partilha de receitas foi ratificado apenas este ano pelos parlamentos dos dois países.

"Vocês entregam os direitos deste campo às 17:00 do dia 28 de Outubro e nós damo-vos três biliões de dólares e mais nada", propôs a delegação australiano aos timorenses, recordou Paul Cleary na entrevista à ABC.

"Entretanto, a Austrália já estava a explorar os recursos, o que é contra o direito internacional", declarou o autor australiano.

"Penso que havia do lado timorense a vontade de adiar a decisão mas o país necessitava de começar a receber os recursos e por isso o Tratado do Mar de Timor começou a ser negociado em 2000 e foi assinado em 2002", explicou o autor na entrevista.

Paul Cleary lembra em "Shakedown" que o principal negociador de Camberra no Tratado do Mar de Timor, Doug Chester, "impôs basicamente um ultimato a Timor-Leste", como acusou na altura o então chefe da diplomacia timorense, José Ramos-Horta.

"O senhor Doug Chester disse-nos simplesmente: 'é pegar ou largar'", declarou na ronda negocial o actual Presidente da República timorense. "Claro que nós não podemos aceitar ultimatos, não podemos aceitar chantagem, somos pobres mas temos um sentido de honra e de dignidade dos nossos direitos".

Para Paul Cleary, os 50 por cento das receitas do Greater Sunrise conseguidos por Timor-Leste "é provavelmente o mínimo aceitável para os timorenses e o máximo que a Austrália estava disposta a entregar".

Sobre a crise em que o país mergulhou em 2006, Paul Cleary considerou na entrevista à ABC que "o problema é que os timorenses não fizeram um trabalho muito bom a gastar o dinheiro. E esta tem sido a verdadeira fraqueza no actual Governo".

"A economia de Timor-Leste recuou de repente quatro anos em termos de rendimento per capita", acrescentou o autor australiano.

"Shakedown - Australia's Grab for Timor Oil" foi lançado pela Allen & Unwin. "Descrição: a história apaixonante de como a Austrália tentou conseguir à força que Timor-Leste abrisse mão dos seus direitos aos lucrativos recursos de petróleo e gás natural do Mar de Timor e das pessoas, tanto heróis como vilões, que disputaram o jogo pelo futuro de uma nação", afirma a nota na página internet da editora do livro.

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