Público – 7 de Maio de 2007
Para Mari Alkatiri a vitória de José Ramos-Horta significará um país adiado
Jorge Heitor
Cinco dos seis candidatos que não conseguiram passar à segunda volta encontram-se agora ao lado de Ramos-Horta, que também é apoiado por Xanana Gusmão
A campanha para a segunda volta das eleições presidenciais em Timor-Leste terminou ontem: no último acto da campanha de Francisco Guterres, "Lu Olo", na capital, Díli, o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, afirmou que se José Ramos-Horta triunfar nas presidenciais e Xanana Gusmão vier mais tarde a ocupar o lugar de primeiro-ministro o resultado será "um país adiado por cinco ou 10 anos".
No entender de Alkatiri, obrigado a demitir-se em 2006 da chefia do Governo, Ramos-Horta "é uma pessoa que não tem ideias próprias, sistematizadas; hoje diz uma coisa, amanhã outra". É já depois de amanhã que os timorenses vão escolher entre o primeiro-ministro, Ramos-Horta, e o presidente do Parlamento, "Lu Olo", figura histórica da Fretilin, o partido maioritário.
Na primeira volta, a 9 de Abril, "Lu Olo" foi o mais votado, com 27,89 por cento dos votos, e Ramos-Horta ficou em segundo lugar, com 21,81 por cento, mas entretanto conseguiu o apoio de cinco dos outros seis candidatos: Fernando "Lassama" de Araújo (Partido Democrático), Francisco Xavier do Amaral (Associação Social Democrática Timorense), Lúcia Lobato (Partido Social Democrata), Avelino Coelho (Partido Socialista) e João Carrascalão (União Democrática Timorense).
O único que decidiu colocar-se agora ao lado de "Lu-Olo" é o advogado Manuel Tilman, que obteve 4,09 por cento.
Ramos-Horta apresenta como uma das suas credenciais o facto de em 1996 ter conseguido partilhar o Nobel da Paz com o então bispo católico de Díli, Ximenes Belo.
Ciente da grande influência que a Igreja Católica tem no jovem país, o Presidente cessante, Xanana Gusmão, inteiramente ao lado da candidatura de Ramos-Horta, convidou na semana passada o Papa Bento XVI a visitar oportunamente Timor-Leste, para "restabelecer a paz nos corações".
A última semana de campanha desta segunda volta foi marcada por acusações por parte da Fretilin de que Ramos-Horta teria ordenado às forças internacionais no país (ISF) para deixarem de perseguir o rebelde Alfredo Reinado e assim evitar eventuais perdas de votos em zonas onde este major em fuga tem popularidade. A Fretilin afirmou mesmo que as ISF seriam favoráveis ao actual primeiro-ministro, muito mais relacionado no estrangeiro do que o adversário.
Em reposta a uma questão da agência Lusa, o porta-voz Ivan Benitez-Aguirre disse que as ISF "respeitam o processo democrático" em Timor e "mantém uma posição neutral e imparcial e não fizeram nenhum comentário de apoio a qualquer candidato ou partido".
E depois de uma primeira volta marcada por queixas de irregularidades generalizadas, a missão da ONU garante que foi desenvolvida uma campanha de educação para o voto e assim assegurar uma maior participação e diminuir o número de votos inválidos.
Caixa: Wiranto nega responsabilidade
O general Wiranto, que de 1998 a 1999 comandou as Forças Armadas indonésias, declarou à Comissão de Verdade que está a investigar os crimes cometidos em Timor-Leste que "não faz sentido" culpar Jacarta por tais delitos. Segundo ele, "não houve qualquer política de atacar civis, não houve planos sistemáticos, nem genocídio ou crimes contra a humanidade". E se a Indonésia estivesse contra o povo timorense nem sequer teria havido o referendo pelo qual o mesmo se pronunciou a favor da independência.
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